Parte 2: capítulo 4

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12/05/2025

— Eu não preciso de você, Taehyung! — grito sozinho, bêbado, na sala da minha nova casa.

Cambaleio até onde deixei meu celular, mas ao voltar para o sofá, caio no chão, em vez de acertar o macio do estofado. Que porra, argh.

Sem forças para me levantar, sinto o choro chegando. As lágrimas escorrem pelo rosto, e eu me sinto um completo merda.

— Eu não preciso de ninguém! — a frase sai trêmula, não sei como deixei minha vida chegar a esse ponto.

Eu choro, e não é pouco. Choro como uma criança perdida, minha respiração fica trêmula e irregular. Tento conter os sons dos soluços, mas é inútil.

E ainda por cima estou enjoado, sinto que vou vomitar a qualquer mom-

— Urrgh — a ânsia de vômito sobe e, em um impulso, me viro de lado e vomito no chão. — Que nojo, Jungkook — murmuro para mim mesmo, o cheiro ácido do vômito me enoja ainda mais.

Começo a rir da situação, uma risada desesperada e amarga, antes de voltar a chorar alto.

— Que merda... — digo, tentando me sentar. O mundo gira ao meu redor, e eu caio de cabeça de volta ao chão, desta vez diretamente na poça do meu próprio vômito.

Bem no molhadinho.

Eu sinto tudo girar tanto, tanto, que a sensação foi parecida com a de quando fui drogado. Fecho os olhos como cansaço e sinto meu corpo imediatamente ficando pesado e mais pesado.

Acordo com um cheiro horrível impregnado no ar. Sento-me, ainda grogue, e percebo que dormi em cima do meu próprio vômito. A náusea retorna, mas consigo me segurar.

Eca, como que isso aconteceu?

Percebo que meu celular também está no chão, e a dor de cabeça é insuportável. Minha costas também doem muito.

— Acho que exagerei na cana... — murmuro e me levanto zonzo, me apoiando no sofá e nas paredes até o banheiro.

Entro no chuveiro sem cerimônia e ligo a água gelada, tentando acordar do torpor. Uso sabonete no cabelo, lembrando que esqueci de comprar shampoo, e me sentindo como nos velhos tempos.

Parece que minha vida medíocre é consequência do destino. A diferença é que agora sou pobre e vagabundo.

Olho para baixo e penso sobre não ter ninguém para aproveitar isso. Que desperdício, hein...

Enxugo-me com uma velha toalha do KND, a turma do bairro, e o peso da solidão bate forte. Sinto um vazio inexplicável no peito.

Tinha planejado visitar Namjoon no presídio hoje, mas a vontade de sair de casa é inexistente.

Volto ao sofá e encaro a sujeira no chão, bufando de exaustão. Com o que resta de energia, limpo o chão pensando no ser repugnante que me tornei. Sinto nojo de mim mesmo, e mais ainda por saber que se eu tiver acesso a mais álcool, eu faria novamente.

Que merda eu fiz com minha vida?

Olho para as latas vazias e percebo o quanto bebi nesses poucos dias vivendo sozinho. Meus pais tentaram me acolher, mas a realidade do meu dia a dia os assustou, e agora estou aqui, abandonado e sem apoio.

Era óbvio que eu seria um assassino, não tinha como não ser. Eles foram muito ingênuos em pensar que o filho deles nunca matou ninguém.

Termino de limpar e jogo o pano sujo na pia estressado, ligando a água por um instante antes de me atirar no sofá novamente.

Essa rotina miserável se arrastou por três meses. Não queria mais viver, mas também não queria que tudo fosse em vão.

07/08/2025

Perdi grande parte dos meus músculos, sem me exercitar ou me alimentar adequadamente nesse tempo. Saí para a rua porque minha mãe disse que este seria o último mês que eles pagariam meu aluguel, e que eu precisava arranjar um emprego.

Ela mencionou a possibilidade de fazer faculdade depois de um supletivo, e eu escolhi história, já que a enfermagem parecia um sonho distante. Ironia, talvez, mas faculdade é o melhor ponto de vendas de maconha, e eu já tinha experiência nisso.

Ainda tenho o número de todos os fornecedores e marquei de comprar trezentos reais de cannabis para revender e triplicar o dinheiro. Desta vez, estou desarmado, já que todas as minhas armas foram confiscadas.

Tudo correu bem, e agora os produtos estão em casa, esperando para serem vendidos. O que antes era um quarto cheio de drogas e dinheiro agora se resume a uma gaveta no guarda-roupa.

Enquanto peso e divido as drogas, as palavras de Taehyung ecoam na minha mente.

"Você é um cara legal, mas sempre vai estar envolvido com coisas assim. Isso está no seu sangue. Hora ou outra, pode ser preso de novo".

Isso me atinge como um soco.

É verdade, porra. Estava no meu sangue eu ser manipulado por um filho da puta. Também é culpa do meu sangue eu... eu...

Meu coração dói ao perceber que estou vendendo drogas por impulso. Faço isso porque é fácil, é dinheiro fácil, e estou cansado dessa vida miserável.

Foi por puro impulso e raiva, por eu estar vivendo esta vida de bosta mesmo após abandonar o crime, novamente sem o apoio de ninguém.

Minhas aulas só começam em agosto, e já me vejo preso nesse ciclo vicioso.

Foda-se.

Ligo para meus contatos, avisando que estou de volta ao mercado de maconha, e que por enquanto não teria outras variedades de drogas para vender.

Dá uma puta vontade de experimentar essa merda. Se cigarro me acalmava tanto, imagine maconha. Eu preciso disso, mas tenho que me segurar, já que não quero quebrar a única promessa que fiz a mim mesmo que realmente cumpri.

A primeira mensagem que recebo é de Taehyung.

TH: "Mas que porra é essa, Jungkook?"

Puta que me pariu. Ah, não, cacete. Eu encaminhei até para ele?

Eu só faço merda.

- isso é culpa sua

Respondo com raiva, e ele me liga imediatamente.

— O que foi? — digo, tentando manter a calma.

— Culpa minha? Você dizendo isso me faz pensar se tudo isso foi culpa do seu ex namorado mesmo, ou só culpa sua.

Sua voz pareceu furiosa, e eu senti uma batida do meu coração falhar. Foi a coisa mais cruel que já me disseram.

Não fale uma porra dessas, foi culpa dele sim. Eu só tinha catorze anos. — respondo, sentindo-me desesperado.

— Catorze anos é idade suficiente para fazer suas próprias escolhas, Jungkook. Se você tivesse nove, eu entenderia, mas com cator...

Desligo na cara dele, enfurecido. Ele não sabe nada da minha vida. A culpa é dele, é dele!

Meu coração acelera, a ponto de doer. Sento-me no sofá, achando que vou ter um ataque. Minha respiração está descontrolada.

Porra, o que é isso?

Eu estou com medo.

A culpa é do mundo, ou é minha?

Outlaw ( Kth + Jjk )Onde histórias criam vida. Descubra agora