Parte 2: capítulo 6

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— Jungkook, você está bem? — A voz de Seoyeon ecoa do outro lado da porta do banheiro, insistente.

— Estou. Pode ir embora. Deixe o número do seu celular anotado em algum lugar que a gente se fala depois. — Tento manter a voz firme, mesmo sendo difícil.

— Foi alguma coisa que eu falei? Se foi, desculpa aí. Eu não te acho um bosta, não. — ela persiste e dá mais duas batidinhas na porta do banheiro.

— Não, Seoyeon, não foi isso. Só me deixa em paz. A gente se fala depois.

— Se você não falar comigo, vou voltar aqui depois, porque você foi a única pessoa que me fez sentir como uma pessoa normal. Mesmo sem te conhecer, te considero pra caralho.

Sinto uma pontada de calor em meu peito, mas a sensação de sufocamento ainda persiste, sinto como se fosse desabar a qualquer momento.

— Até mais, Jungkook. Obrigada por tudo. — Ela diz, e ouço duas batidinhas suaves na porta antes de seus passos se afastarem.

Caramba, só tratei a Seoyeon normalmente, e isso teve um impacto tão grande na vida dela? Deve ser outra fodida, como eu. Foi quase assim que me senti quando Taehyung me deu uma chance... mas agora tudo acabou... porra. Estraguei tudo de novo, e de novo, e de novo.

Dou outro murro na minha perna, me encolhendo de dor, mas fazendo de novo e de novo. Eu mereço todo o sofrimento do mundo. Tinha tudo nas minhas mãos, e fui matar Jimin logo na frente deles.

Filho da puta.

Levanto-me do chão, saindo do banheiro e indo até a sala. Vejo que Seoyeon deixou um cigarro de maconha enrolado em cima do sofá e seu número de telefone anotado em uma seda debaixo do isqueiro.

Não vou fazer isso, porra.

Minhas mãos suam, e fico ainda mais nervoso. Sei que se fumar, vai me aliviar, mas não vai me ajudar a consertar nada.

E essa porcaria me viciaria para caralho.

Coloco o cigarro na boca sem acender, sentindo-me ridículo. Vou até a cozinha, deixando tudo em cima do balcão e pegando a chave da moto.

Estou sem rumo. Vejo que a gasolina está na reserva, mas dá para ir para onde quero. Ligo o motor, deixo aquecer por alguns segundos e acelero devagar, pilotando só com a mão direita, pois qualquer movimento brusco com a esquerda pode estourar os pontos. Pego atalhos pelas ruas, já que não tenho mais portos-seguro, e depois de dez minutos, chego ao centro da cidade. Agora, não tenho medo de ser visto, mesmo que muitos me tratem discretamente como uma sub-celebridade, por conta daquele maldito documentário feito quando fui preso.

Os olhares estranhos e alguns flashes de câmeras distantes me deixam furioso, mas respiro fundo e estaciono a moto em frente à loja da Supreme, que tanto amo.

Mas ao entrar, não vejo mais o mesmo brilho. Não há mais tanta graça, e nem posso comprar nada com o dinheiro que tenho, porque se fizer isso, fico sem comer e sem beber.

Suspiro fundo antes de sair da loja, sentindo que gastei gasolina à toa. Decido ir à cafeteria ao lado para comer algo gostoso... e porque minha intuição me pediu para fazer isso.

E como num clichê, Taehyung está lá, tomando um frappuccino de morango. Não sinto nada. Abaixo a cabeça e vou até o balcão, pedindo um chocolate quente e um croissant. Pago e me sento em uma mesa qualquer, de costas para ele.

Não sei por quê, mas sinto vontade de desabar no choro. Respiro fundo e puxo o celular para tentar aliviar a ansiedade assistindo a vídeos no TikTok. É uma válvula de escape não saudável, mas é o que tenho no momento.

Afinal, o que seria uma válvula de escape saudável nos dias corridos de hoje?

— Ei, por que me evitou dessa vez? — Sinto uma mão no ombro e respiro tão fundo que chega a doer.

Escondo o braço machucado, mesmo estando de manga comprida, não quero me explicar sobre mais nada da minha vida.

— Porque tenho vergonha de mim mesmo e quero evitar qualquer pessoa que eu conheça. Principalmente você.

— Conseguiu ficar rico de novo vendendo aquelas coisas? — Ele pergunta e se senta na cadeira à minha frente.

— Dei de graça para uma amiga. Não queria acabar com tudo de novo.

— Hmm. — Ele suga o restinho do frappuccino, deixando o copo vazio na mesa e se ajeitando confortavelmente, sem parecer ter a intenção de ir embora.

— Por que você faz isso? — pergunto, frustrado.

— Te dar chances sem razão aparente?

— Sim.

— Já pensei em te abandonar mais de mil vezes, mas a amizade que a gente tinha me salvou. Você me salvou do bullying no colégio, seus pais me tratavam como se fossem meus quando eu estava na sua casa. Eu sei que você era esforçado em tudo o que fazia, então confio que você consiga sair dessa.

— Mas eu mudei para pior, você me viu matando uma pessoa, esqueceu?

— Jungkook, você se lembra daquele dia? O dia em que você me salvou sem sequer me julgar por eu não conseguir me defender sozinho?

— Lembro.

— Você me salvou de muitos traumas, Jungkook. É por isso que quero contribuir. Seu coração é bom, eu acredito nisso.

— Eu só fiz o mínimo... os filhos da puta iam bater em você só porque você era mais inteligente que eles. Eu só não deixei.

— Você nem me conhecia. Depois disso, só falamos sobre isso agora, depois de mais de vinte anos. Você nunca me perguntou nada, como se esse dia nunca tivesse existido. E outra, você já me viu saindo com mais alguém? Eu estava no Tinder tentando fazer amizades porque simplesmente não tenho ninguém além da minha família.

— Não era para foder?

— Eu aceitaria, mas minhas intenções reais não eram aquelas. Gosto de transar, gosto muito, mas isso é fácil demais. Difícil é ter amigos verdadeiros, por isso que eu não quero desistir de você.

— Entendi... então você transou com outras pessoas depois que a gente... sei lá...

— Sim, com umas duas pessoas, eu acho. Mas isso não vem ao caso.

— Ah... entendi. Sei que agora não tenho ninguém, porque até minha família tem medo de mim e está me evitando. Não sei se você ainda visita a casa dos meus pais, mas eu não estou.

— Às vezes, passo por lá. Eles estão fazendo tratamento com um psicólogo, vai ficar tudo bem. O susto foi muito grande. Até eu conversei com o meu sobre isso... e foi mais um motivo pelo qual estou falando contigo agora. Meu psicólogo disse que era para eu seguir meu coração.

— Então ainda somos amigos...? — pergunto, genuinamente com medo da resposta ser um não.

— Somos, mas vê se não pisa na bola. — Ele se levanta. — Vou para casa. Está bem tarde e amanhã tenho que trabalhar.

— Beleza.

Ele sai da cafeteria depois de me dar um tapinha no ombro, e eu permaneço lá, tentando raciocinar tudo isso.

Sou mais sortudo do que mereço. Meu coração está calmo. Talvez não seja o fim do mundo ainda.

Outlaw ( Kth + Jjk )Onde histórias criam vida. Descubra agora