Parte 2: capítulo 5

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Passa um flash na minha mente de todas as vezes que eu disse "sim".

Ele perguntava se eu queria ver aquela maldita arma, e eu dizia que sim. Se eu queria aprender a atirar, e eu disse que sim. Perguntava se eu tinha vontade de ganhar um dinheiro extra vendendo drogas, e eu hesitava, mas acabava dizendo que sim.

Puta que pariu.

Não é culpa minha, caralho.

Levanto-me de repente, pego minha carteira com os mil reais que ainda tenho e saio de casa como se estivesse fugindo de mim mesmo.

Vou cobrir cada cicatriz, cada uma.

Depois de dez minutos caminhando batendo os pés enquanto pensava demais sobre tudo a ponto de perder a cabeça, paro em um estúdio de tatuagem e entro decidido, com uma urgência quase desesperada.

— Fala, mano — diz o tatuador, focado em desenhar no peitoral de uma mulher seminua, com os peitos à mostra.

— Quero fazer umas tatuagens. Quero um orçamento — digo, tirando a camisa e mostrando minhas cicatrizes. Tento manter os olhos fixos no tatuador, evitando olhar para a mulher.

Estou me sentindo impulsivo e hiperativo, como se estivesse prestes a explodir.

— Ah, cara... — ele desliga a maquininha para dar uma olhada. — Sei como é isso aí. Posso fazer por mil e quinhentos. Que tal?

— Que tal mil reais e um quilo de maconha? — respondo, tentando manter a voz firme.

— Mais que fechado! Só terminar a tatuagem dessa princesa aqui — ele diz, apertando o peito da mulher de maneira desnecessária, e vejo que ela ficou desconfortável, como se já tivesse passado por isso antes.

Aquilo me enoja. Provavelmente ele a mandou tirar a roupa sem necessidade, só para ter uma desculpa para tocá-la.

Sem pensar, empurro o tatuador para longe dela, e a agulha da máquina rasga meu braço quando ele tenta se segurar em mim para não cair.

Porra.

— Você está bem? — A mulher pergunta, e eu olho pro chão, vendo uma pequena poça de sangue começar a se formar. Os pingos escorrem do meu braço à ponta do meu dedo, caindo no chão.

Eu olho para aquilo perdido, mas ao olhar de relance para os peitos daquela moça, eu acordo da transe.

— Estou. Coloque uma roupa. Vamos terminar isso em outro lugar — digo, virando o rosto para não olhar para ela novamente.

O tatuador se levanta, confuso.

— Que porra foi essa? — ele pergunta, parecendo mais preocupado com meu braço do que com a situação.

— Assediador filho da puta — digo, segurando a mão da mulher e saindo do estúdio.

— Não sabia que ela era sua mulher. Foi mal — ele tenta se justificar.

— Vai se foder — respondo.

A mulher, ainda trêmula, me pergunta:

— Você é o quê? Policial? Por que fez aquilo?

— Eu vi que você não gostou, ok? — solto a mão dela. — Não era para você estar tão exposta assim.

Se eu tivesse armado, teria estourado a cabeça dele. Mas não posso mais pensar assim. Não posso mais pisar na bola.

— Estou acostumada, mas é a primeira vez que alguém me defende assim, como se eu realmente fosse uma mulher de verdade — ela diz, rindo tristemente.

Outlaw ( Kth + Jjk )Onde histórias criam vida. Descubra agora