4. Planos

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Belisquei meu braço para me concentrar na dor.

– Você... você vai entregar o Jake para as autoridades? —minha voz quase falhou.

– Não, eu não quero fazer isso. —seu olhar é sincero— E não por causa dele, por você. Sei que o ama e de alguma forma passei a odiar menos o Jake. —sua confissão me deixou um pouco surpresa— Mas não podemos escondê-lo. Ele sabe do que está acontecendo, por isso evita sair. Estou dando o meu máximo para mantê-lo como um fantasma, mas isso não vai durar muito, infelizmente, S/n.

– Obrigada, Eric. Me dê três dias e eu vou concertar tudo. —prometo.

– Certo, vou segurar as pontas. —ele assentiu e sorriu para mim.

– Mais alguém sabe sobre o Jake? —perguntei.

– O tenente Tyler. Ele me prometeu de que não faria nada até minhas ordens. Pelo visto também se preocupa com você.

Meus ombros relaxaram.

– O agradeça por mim. —disse ao levantar da cadeira. Eric faz o mesmo— Há mais alguma coisa na qual eu deva saber? O delegado Roger já está ciente que vim até aqui essa manhã?

– No momento isso é tudo. E o delegado já está ciente de sua visita, inclusive, mandou que eu dissesse que é uma honra tê-la de volta conosco. —Eric fez uma pequena reverência, me arrancando uma risada.

– Obrigada. Bom, preciso colocar a cabeça para pensar, afinal, só tenho três dias.

Despeço-me de Eric e saí da delegacia.

De alguma forma estou aliviada de só o Tyler estar ciente sobre Jake. Ele parece um bom tenente e amigo.

Preciso bolar algo. Uma parte já está pronta, agora preciso dar um jeito de encaixar as coisas e conseguir que o Governo perdoe o Jake. Ou pelo menos propor uma solução.

Saí dirigindo enquanto penso.

Me sinto exausta e totalmente sem controle dos meus próprios pensamentos. Se continuar assim, minha mente será a causa de minha morte.

Existem dois tipos de mortes: a rápida e a lenta. Alguns preferem a morte rápida por não sentir dor alguma. Um tiro certeiro no coração ou na cabeça. Afinal, quem preferiria morrer lentamente?

Eu.

Na verdade, eu prefiro sair viva dessa.

***

– Por que você não me disse nada antes? Eu poderia ter pensado em algo. Pensado em uma solução! —disse, parada no meio da sala enquanto Jake anda de um lado e outro.

Estamos discutindo isso há 30 minutos.

– Devo lembrá-la de que você estava em uma cama e que mal conseguia se manter em pé? —ele olha para mim, o ódio nos olhos— Eu estou pouco me fodendo para o Governo. Eles não serão o motivo da nossa infelicidade.

– Você quer felicidade? Por que não vai pra Disney? É isso que você quer? Sinto muito se a nossa realidade é um pesadelo!

– O meu ponto de luz é você, S/n.

Senti o peso de suas palavras. Como se estivesse sendo esmagada por um ônibus. Eu fui idiota. Não consigo controlar minha raiva e saio atropelando os sentimentos de todos.

Eu queria entendê-lo. No momento, eu só quero seus braços e suas palavras dizendo que tudo vai ficar bem. Mas sou tola demais. Ingênua demais. Burra demais.

– Só o Tyler sabe de você, além do Eric. —mudei de assunto, a voz baixa.

Sentei no sofá, a cabeça apoiada nas mãos.

Continuei:

– Eric está mantendo sua identidade preservada. Pedi três dias para ele segurar as pontas.

Acabei não percebendo quando Jake sentou ao meu lado e colocou a mão em meu ombro.

– Mas você disse que vai embora em três dias. —observou.

Ergui a cabeça para o observar.

– Sim. E até lá quero resolver as coisas. Tudo.

– Você não tem que fazer isso. —ele balançou a cabeça, o olhar quase uma súplica.

Só o observei, esperando que entendesse a resposta.

Jake me envolveu em seus braços. É um abraço apertado e confortável de tal maneira que meus pensamentos se esvaem. Me deixo ser confortada por seu abraço. Estou cansada demais para dar ouvidos ao meu orgulho e ir pensar em algo. Cansada demais para me dissipar de seus braços e voltar para a realidade, na qual estou sendo caçada e tudo não passa de um jogo.

"O meu ponto de luz é você, S/n."

***

Lilly veio buscar suas coisas hoje à tarde. Ela disse que não queria mais incomodar o irmão. Vai ficar na casa ao lado, junto com os outros.

Jassy e Cleo vieram aqui para saber se estou bem. Óbvio que não estou. Apesar da minha encenação convincente, estou sobrecarregada. Atolada em problemas até a cabeça. Bom, mesmo assim, disse que estava bem e que a pressão só havia baixado. Elas acreditaram. Ou pelo menos pareceram acreditar.

Conversamos um pouco sobre tudo o que Lilly disse para nós. Os absurdos que ela disse sobre mim e as mentiras que me contou sobre todos.

Durante o resto da tarde, fiquei bolando planos e as probabilidades de darem certo. Há várias possibilidades, mas pouquíssimas darão certo.

Eu posso sair morta? Sim. Em todas as possibilidades. Mas a morte não é uma opção para mim. Eu prefiro viver. Quero viver o que restar ao lado do Jake. Só nós dois. Longe de todos e de tudo isso. Só nós.

Jake me serviu uma fatia de pizza.

Eu preferiria não comer. Não estou com fome.

– Ao menos se esforce. —ele me olhou esperançoso, como se ouvisse meus pensamentos.

Olhei para a fatia de pizza em meu prato, a segurei com as mãos e dei uma mordida.

É pizza de pepperoni. Está deliciosa, mas ainda assim, continuo sem fome e sem querer comer nada.

Deixei a fatia no prato e bebi um gole de água.

– Não consigo. —olhei para ele, devorando sua fatia.

– Então deixe aí. Se sentir fome eu venho buscar pra você. —ele deu de ombros.

Às vezes Jake parece muito tranquilo para a situação em que se meteu. Às vezes, o observo e ele não transmite nenhuma preocupação, como se isso tudo fosse normal para ele. Como se fosse um risco necessário.

Sinto vontade de perguntar o que o fez fazer isso. O que o fez se interessar pelo Governo. O que tramou. Seus planos.

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Continua...

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