6. Memórias

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***

Não consegui dormir então apenas vesti vestes adequadas para dar uma corrida por aí. Não, eu ainda não posso fazer essas coisas. Mas é o que sempre faço quando meus pensamentos não param. Na verdade, raramente tenho tempo para correr, mas preciso manter a forma.

Claro que Jake tentou me convencer a ficar em casa, mas sou impulsiva. Ele não viu solução melhor do que vir comigo também.

No momento, estamos andando no canto da pista, no acostamento. Não sei bem onde ir ou até onde correr. Mas tem um lugar no qual gostaria de voltar. Estou armada apenas com uma pequena faquinha, presa na cintura, abaixo das minhas roupas — uma blusa preta e um casaco esportivo cinza.

– É injusto isso que você faz, sabia? —disse Jake, meio ofegante.

Continuamos a correr.

Injusto?

– Você acha, é?

– Você não? —ele conseguiu olhar para mim, as sobrancelhas erguidas— Se coloque no meu lugar apenas por um minuto. Tente entender como me sinto.

Na visão de Jake, óbvio que estou errada. Abrindo mão de nós dois apenas para protegê-lo. Se eu estivesse em seu lugar, enlouqueceria.

Ele está louco?

– Sinto muito. Só estou jogando com as peças que me restaram. —corri mais rápido.

– Então é apenas um jogo? —Jake me alcançou.

– Sim. Você leu a carta também, como não leu a parte em que ele disse que logo vai fazer sua jogada? —franzi a testa.

– É que eu não sabia que você estava me envolvendo no seu joguinho.

– Não só você.

– Ah, vai proteger mais a quem? Acha que vai conseguir evitar se um deles for morto?

Hesito por um instante.

– Não haverá mais mortes. —consigui dizer, torcendo para que aja alguma garantia.

– Você está contando com você também, certo? —ele me olhou.

Não, não estou. Mas espero contar com a sorte para não precisar me render pra salvar todos eles. Mas o Homem Sem Rosto não me quer. Ele quer acabar com tudo antes. Quer me fazer sentir dor.

– Claro. —menti.

Jake parece se conformar com minha resposta, então apenas continuamos a correr.

Lembro-me do quanto Jake me disse que fazer essa caminhada seria perigoso. Mas mesmo assim, ele ainda me acompanhou. Provavelmente ele vai se irritar e ficar chateado comigo, porque estamos entrando na floresta. Entrando pelo mesmo lugar em que entrei há cinco anos atrás.

Jake me olhou com desdém.

– Você disse que era uma corrida e não que era uma corrida de volta ao passado. —ele contestou.

Ignorei e desacelerei os passos, talvez com medo de entrar naquele lugar após cinco anos.

– S/n... —Jake segurou meu braço, paramos de correr e ele está olhando para mim com confusão— E se ele voltou... você sabe. —ele apontou a floresta com o queixo.

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