13. Homem Sem Rosto

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Saí desnorteada e perplexa de frente do computador.

Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar.

Me sentei na beirada da cama. Ouvi a voz distante de Jake.

Como? Por quê?

O Oliver... sempre foi o Oliver. Desde o início...

Oliver abusou daquelas garotas. Ele... ele se passou por uma lenda que não existe. Ele colocou uma máscara e saiu por aí assustando e abusando das meninas.

– S/n, o que está acontecendo? O que você viu? —Jake sacudiu meus ombros, me trazendo de volta a realidade.

– Sempre foi o Oliver, o tempo todo. Ele abusou das meninas. Foi ele quem matou a Amy, a Hannah e meu pai. Foi ele quem me torturou e tatuou isso no meu braço e marcou minha nuca com o sinal do corvo. Ele é o Homem Sem Rosto, Jake.

Assim como eu, Jake ficou boquiaberto.

Ele levantou da cama e andou de um lado e outro.

– Como? Como você descobriu isso? Tem a ver com o que você viu no computador, não é? —ele me olhou.

Não respondi, só baixei o olhar.

Jake vai até o computador e dá o play no vídeo. Eu não consigo...

Fechei os olhos e tentei ignorar o som de desespero emitido pela garota. Ela está dopada, mas ainda assim, de alguma forma, tem ideia do que está acontecendo.

Jake também não aguentou assistir ao vídeo por completo. Acho que assistiu até menos que eu. Ele caminhou cautelosamente até a cama e sentou ao meu lado.

– Ele... ele não fez isso com você, fez S/n? —ele me olhou sério, esperando respostas.

Fiquei calada por alguns segundos, ainda absorvendo o que vi.

– Não.

– Tem certeza? —ele ergueu as sobrancelhas.

– Sim, claro. —me recomponho— Se ele tivesse abusado de mim, seria mais uma motivação para o querer morto.

Jake me encarou por um longo momento, provavelmente esperando encontrar a mentira em meus olhos. Mas não há mentiras. Não agora, pelo menos.

– Enquanto ao comparsa dele? Quem seria? —Jake perguntou.

– Não faço ideia. —respondi— Não teria como ser alguém do grupo, eles eram muito novos e o mascarado tinha uma fisionomia forte, de pessoa adulta.

Tentei me lembrar do parceiro de Oliver. Não há muitas coisas.

Eu fui tão burra. Estive de frente ao próprio Homem Sem Rosto e não desconfiei de nada. Mas, se ele quer me matar com suas próprias mãos, por que tentou me matar lentamente por dentro? Por que me envenenou ao invés de derramar meu sangue? A menos que, o veneno não foi aplicado em uma quantidade alta que pudesse me matar. Foi uma dosagem para me distrair, me deixar fora do jogo por um tempo.

"Em caso de doses extremamente altas, a pessoa pode chegar a óbito."

Ele estava explicando sobre o veneno do cogumelo e não afirmando nada ao meu respeito ou que eu morreria.

Isso quer dizer que ele vai seguir seu plano. Vai mesmo matar quem estiver comigo. E eu sinto que isso não vai demorar muito.

Eu preciso manter Jake seguro. Preciso me garantir de que Eric estará seguro também. Sua última ameaça foi dirigita ao Eric.

Merda!

Preciso falar com Eric agora.

– Você vai ficar aqui e ficar de olho em sua irmã. Eu vou pegar meu carro e ir até a delegacia. —disse em tom autoritário.

Desci as escadas as pressas. Jake me seguiu.

– S/n, você não pode pensar só nos outros. Isso vai acabar matando você, literalmente!

– Estou armada. —mostrei o revólver em minha mão.

– Não estou com uma sensação boa. Por favor, não vá. —ele segurou minha mão, seu olhar está clamando, implorando.

– Não há tempo a perder. Vou voltar bem. —mostrei um meio sorriso.

Quando estou prestes a abrir a porta, Jake segurou meu braço e me faz virar para o mesmo, quando assim o faço, ele me rouba um beijo e eu deixo.

Minhas mãos estão entre seus cabelos, as mãos de Jake em meu quadril me puxando para mais perto.

Seu beijo é doce e quente ao mesmo tempo. Me faz querer nunca mais parar. O calor pecorre todo o meu corpo. Minhas bochechas queimam. A sensação eletrizante é magnífica e estranha. Me faz desejar mais. Mais além dos beijos. Desejo.

Interrompi o ato antes que percamos o controle.

– Jake? S/n? —Lilly falou, no topo da escada.

Jake se voltou para Lilly lentamente.

– Desde quando vocês estão... juntos? —ela perguntou, nos olhando com desdém.

– Não estamos juntos! —falamos em uníssono.

Jake e eu trocamos olhares.

– Nós só gostamos de provocar um ao outro. —falei, um sorrisinho em meu rosto.

Eu sou sua.

Um sorrisinho também apareceu no rosto de Jake, o sorrisinho que tanto me tirou do sério.

Abri a porta e saí. Jake não tentou me impedir, provavelmente ocupado com Lilly. Ainda não sei se ela realmente gostaria de nos ver juntos. Apesar de estar me tratando suspeitamente bem. Por que eu nunca parei para observar a mudança brutal em seu comportamento a meu respeito?

Enquanto a pressa de Richy quando falei com ele àquela noite? Por que ignorei tudo isso bem debaixo do meu nariz? Essa não sou eu. Estou cedendo às emoções e voltando a acreditar neles sendo que eu deveria fazer exatamente o oposto, desconfiar de cada um.

"Finalmente estou conhecendo a famosa detetive Parker. Admiro muito o seu trabalho."

Não acredito que me deixei levar pelo óbvio. Ignorei as pistas que estavam bem à minha frente. Como pude ser tão tola?

Me sinto como um cachorro que rodou por um longo tempo só para morder o próprio rabo.

Que patética.

Antes de explodir de vez, coloquei a chave na ignição do carro e o liguei. Preciso me manter concentrada em minha missão.

***

– Eric, precisamos conversar. —entrei em sua sala, sem bater nem nada.

Os policiais não me barraram, nem nada. Muito pelo contrário, foram gentis. Nem parecem os mesmos policiais de quando entrei aqui pela primeira vez.

A delegacia está uma loucura. Policiais federais também circulam apressadamente pela delegacia. Alguns me cumprimentaram, outros passaram tão depressa que nem devem ter me notado.

Eric está sentado do outro lado de sua mesa. Me sentei antes mesmo de ele me sugerir que o fizesse.

– O que está fazendo aqui? Sabe que não gosto da ideia de você ficar saindo assim. Digo isso não só por ter três assassinos à solta, mas por você ainda estar se recuperando. —ele disse.

Recostei as costas  na cadeira com tédio. 

– Eric, para! —pedi, me inclinando para a frente— Por favor, me deixe falar.

Eric me olhou estranho, mas assentiu devagar para mim. Uma permissão discreta.

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Continua...

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