O SENTIDO DA VIDA PARTE 3

25 11 0
                                    

Um mês se passou desde aquele animado domingo de futebol, e a primavera já tomava conta da cidade, enchendo as ruas de flores e cores vibrantes. As crianças, no entanto, pareciam alheias à beleza ao redor. O mês de outubro havia chegado com um clima diferente, mais introspectivo. Faltava pouco para o Dia das Mães, e no orfanato o tema trazia um peso que era difícil de carregar.

Naquela tarde, Ariel e Abril estavam na sala comum, onde as crianças costumavam se reunir depois das aulas. Normalmente, o espaço seria cheio de risadas e brincadeiras, mas naquela sexta-feira o ambiente estava estranho, quase silencioso. Mosca estava sentado num canto, chutando de leve uma bola de futebol desbotada contra a parede, sem muita força. Jimena, que sempre o acompanhava, estava ao lado, mexendo no próprio cabelo, algo que fazia quando estava nervosa. Pato e Vale estavam sentadas no sofá, trocando poucas palavras, enquanto Corcho e Guille folheavam um álbum de fotos que encontraram na prateleira.

A tensão pairava no ar.

— Não parece primavera hoje... — comentou Pato, a voz baixa, como se estivesse dividindo um segredo.

Vale suspirou, abraçando um travesseiro colorido, o olhar perdido.

— Tá estranho... — respondeu, seus olhos refletindo a melancolia da sala. — Tipo um videoclip triste. 

Ariel, que observava as crianças do outro lado, sabia exatamente o motivo daquela tristeza. O Dia das Mães se aproximava, e para a maioria ali, a data só trazia memórias ausentes ou dolorosas. O orfanato era um lugar cheio de histórias tristes, de rejeições e abandonos, e essa data apenas tornava essas lembranças ainda mais dolorosas.

— Querem conversar sobre isso? — Ariel perguntou, se aproximando lentamente.

Mosca parou de chutar a bola e olhou para ela, os olhos cheios de um silêncio que ele raramente mostrava. Ele era o líder do grupo, sempre confiante e otimista, mas naquele dia até ele parecia derrotado.

— Não tem muito o que falar, né? — Mosca disse, num tom seco. — A maioria de nós nem lembra das nossas mães. Ou... preferia não lembrar. Pra não dizer que foi um desastre, no ano passado a Mili descobriu que era filha da Gabi e que tinha uma mãe que amava ela, mas nós nunca tivemos essa sorte e nunca vamos viver algo parecido. 

Jimena mexeu no cabelo com mais força, soltando um pequeno grunhido.

— É... às vezes é melhor não ter lembrança nenhuma do que ter uma ruim — ela murmurou, a voz carregada de culpa e tristeza. — Eu acho que eu vou lá encima, prefiro ficar sozinha.

Abril, que também estava observando de perto, tentou intervir com gentileza.

— Eu sei que não é uma data fácil pra vocês, mas não precisam passar por isso sozinhos. A gente tá aqui pra vocês, pra ouvir, pra apoiar... — disse ela, sentando-se ao lado de Vale e Pato no sofá.

Pato balançou a cabeça, frustrada.

— Eu sei, mas... parece que todo mundo lá fora tá comemorando algo que a gente nunca vai ter, sabe? — Ela olhou para Abril, os olhos enchendo de lágrimas. — É como se... todo mundo tivesse uma coisa que foi tirada da gente.

Abril suspirou e passou a mão pelos cabelos de Pato.

— Eu entendo, Pato. Entendo de verdade.

A História De Ariel Onde histórias criam vida. Descubra agora