Um traidor

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Quando acordo estou em um cômodo escuro sobre uma cama com algemas me prendendo, sendo uma em meu braço e perna esquerdo. No lugar havia apenas a cama, um vazo sanitário e uma pia. As paredes eram feitas de pedras grandes, como se eu estivesse em algum castelo antigo. Além disso apenas três das paredes eram de pedras, a outra eram grades de aço, parecendo ser recentes, diferente das paredes. Nas paredes também haviam mais algemas, também recentes, tendo para mãos e pés, o que me assustou.

- O que estou fazendo aqui? -Murmuro tremulo.

Sinto uma dor latejante por todo meu corpo, me fazendo me curvar pela mesma e gemer um pouco.

"- Naruto, está bem?" -Pergunta preocupado.

- E-está tudo bem... M-mas meu bebê, como está? -Pergunto preocupado.

"- Vivo."

Vivo.

Meu bebê estava vivo.

Meu irmão não.

Me encolho e agarro os lençóis, chorando tudo o que posso, um choro sofrido, querendo desesperadamente ouvir a voz doce do meu irmãozinho e sentir sua mão tocar minha bochecha mais uma vez, apenas mais uma vez.

Passei um dia inteiro preso aqui. Eles tentaram me alimentar quatro vezes, com comida descente até, mas em todas elas eu as peguei e joguei na cara de quem entregava, cheio de fúria. No dia seguinte eu já não tinha mais essa raiva, apenas a tristeza.

Continuei sem comer, não por teimosia, eu realmente tentei, pelo meu filho, mas toda vez que colocava a comida na boca eu me lembrava do meu irmão morto em meu colo e vomitava tudo. No terceiro dia mal me mexia, afinal em casa eu já me alimentava mal e também não conseguia dormir direito.

"- Você está se matando, criança." -Kurama diz com pesar.

- Pelo menos assim posso encontrar meu irmão e pedir desculpas.

"- Ele vai te culpar se você morrer, sabe disso. Se quer que ele fique feliz tem que sobreviver. Pra ele ter sido seu herói você tem que sobreviver."

Sua fala me fez chorar mais, um choro dessa vez silencioso e em inercia. Meia hora depois ouço som de passos e logo meus olhos se arregalam ao ver Sasuke entrar na cela, vindo correndo até mim. Quem o trouxe apenas o deixou lá dentro, nos deixando a sós.

- Naruto... -Seu olhar estava desesperado. Talvez pela minha condição. Ele estava certamente melhor que eu. Estava bem vestido, cheiroso e parecia bem alimentado. Já eu estava o oposto. Me recusei a sair da cama, não estava ingerindo nada além de água, e continuava com as mesmas roupas do dia em que fomos sequestrados.

Lembra do nada de contato? Pois é, vou fingir que estou com amnésia.

Abraço Sasuke com o máximo de força que posso, do qual no momento não é praticamente nada e choro. Choro sentindo tudo em mim doer. Meu corpo. Minha alma. Sasuke me abraça de volta com força, cuidando para não me machucar.

- Você tem que comer. Por favor, Naru.

- E-eu não consigo. -Digo, tremendo desde os lábios aos dedos. Me separo o suficiente para poder olhá-lo nos olhos. – Ele... ele...

Sasuke me aperta mais, me impedindo de continuar.

- Não é sua culpa. Por favor, acredita em mim. Nada disso é sua culpa. -Ele acaricia meu rosto.

Deito meu rosto em seu pescoço. Ficamos em silêncio. Sasuke apenas me fazia carinho enquanto eu chorava. Ficamos assim por longos minutos até que a porta fosse aberta novamente e o guarda colocasse uma sopa e suco, além de um potinho em minha cama antes de sair novamente.

Maldição de um AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora