28 | LÁGRIMAS SILENCIOSAS E PALAVRAS SUSSURRADAS

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O sol ainda se estendia no céu, deixando manchas alaranjadas e avermelhadas ao seu redor, formando um degradê de se admirar, mas que passava despercebido aos olhos dos Londrinos, que já estavam acostumados ao outono.

Hanna e Peter acabaram de sair da casa da ruiva. Ambos ainda não trocaram uma mísera palavra desde que puseram seus pés para fora.

Um clima estranho se instalou em torno dos dois.

Eles pensavam simultaneamente: "O que eu faço agora?".

Depois de poucos minutos de uma caminhada carregada de pensamentos turbulentos, Hanna decide interromper o silêncio e acabar com o clima tenso que se instaurou:

- É desconfortável ter que utilizar máscaras, bonés, óculos escuros e essas coisas sempre que sai na rua? - Hanna observa - Eu sei que eu já perguntei algo similar antes, mas ainda quero saber da sua resposta de agora.

Peter, assim que saíra da casa da outra, colocara de imediato os acessórios no rosto e cabeça de forma tão natural, já sendo habitual, que não pensou que Hanna achasse estranho ou algo do tipo.

- Ah, na verdade não. Com o tempo você, sabe, se acostuma a ter que lidar com esse tipo de coisa. É o preço que pago por fazer aquilo que amo.

- Perder sua privacidade em troca da música? - A ruiva adivinha.

- Não sei se "perder" seria a palavra certa para isso. Eu acho que é mais "abrir mão". Tudo na vida tem um preço, e esse é um deles que eu pago diariamente quando saio na rua.

- E se arrepende?

Peter fica pensativo e interessado no rumo que a conversa estava tendo. Nunca entrara nesse tópico com ninguém, levando em consideração que as únicas pessoas que conversava regularmente, antes de conhecer Hanna, eram seus pais e Bryan. Esse, em particular, não falaria com Peter sobre sua carreira musical e em como ele lida com ela, pois o mais velho já fora um astro e não faria sentido algum questionar algo que ele já tinha vivido.

- Bom, eu já tinha dito isso antes: amo meus fãs, amo o quanto eles amam o que eu faço; o que eu amo. Minha carreira é meu amor...

- Mas...?

- Mas no começo não foi assim. Nem tudo foram flores. Naquela época, eu tinha vontade de desistir de tudo e virar as costas; então sim: eu já me arrependi um dia.

Hanna fica tensa ao pensar que talvez estivesse entrando em um assunto delicado para o garoto, mas continuou silenciosa, na esperança de que, mesmo assim, Peter continuasse sua história; sua trajetória. Queria saber mais sobre ele, mas não pesquisando na Wikipédia ou vendo em alguma programa de fofoca da tv. Hanna quer conhecer Peter, mas quer conhecê-lo com ele.

- Eu comecei na indústria da música com dez anos, logo após minha mãe morrer.

Os olhos de Hanna se arregalam e seu queixo cai levemente para baixo, formando um pequeno "O" em seus lábios carnudos. A ruiva tem seus pensamentos à mil, revisando todas as experiências e vivências que teve com Peter, tentando, miseravelmente, achar alguma pista sobre ele dizer antes que sua mãe havia morrido. Outro fato passou em sua mente: "Se sua mãe já havia morrido, quem seria aquela mulher ao lado do pai de Peter?".

- Caso você esteja se perguntando... - Peter assume com um tom risonho, rindo levemente ao poder ler claramente a mente da garota e saber o que ela está pensando - Aquela mulher que você provavelmente viu enquanto eu estava sofrendo - ele dramatiza a voz - é a minha madrasta, a Aurora.

- Ah...

- Considero-a uma pessoa muito importante na minha vida. Não a enxergo exatamente como minha mãe, já que esse lugar nunca poderá ser tomado por completo em meu coração. Porém, a maneira como ela conseguiu iluminar a vida do meu pai, até a minha, logo após a minha mãe falecer, a faz tornar-se alguém muito importante para mim, como uma madrinha, tia ou algo do tipo.

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