33 | COMO VOCÊ REALMENTE ESTÁ SE SENTINDO?

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— Ethan... — Ela sussurra.

Seus olhos marejam e com as mãos trêmulas e cautelosas, ela aproxima-as do rosto de seu irmão mais velho, tocando-o hesitantemente.

Ela passa suas mãos por seus cabelos, que são tão negros como um céu noturno. Depois, com as pontas dos dedos, passa por volta dos olhos tão verdes quanto os seus.

Como era possível?

Com a destra passa sobre o piercing da sobrancelha e com a esquerda passa na do nariz. Logo depois, passa na orelha esquerda, que era interligada por uma correntinha, desde o canto superior até o lóbulo.

Todos os piercings, pelo que Hanna lembra-se, foram feitos à base de rebeldia. A ruiva lembra-se que o irmão sempre esteve fora dos padrões e que o mesmo fizera todos os furos no mesmo dia, escondido de seus pais, aos quatorze anos. Também se lembra que ela fora a primeira a saber disso e o quanto ficou feliz por isso.

Um sorriso trêmulo surgiu em seus lábios. Ela passou suas palmas abertas pelo maxilar, descendo para o pescoço até o peito. Seus olhos iam de cima a baixo, ainda tentando assimilar toda a situação.

Memórias do triste e doloroso dia de sua morte ecoaram em sua mente, passando como flashes. Lembrava-se de ir ao hospital e agir com tranquila normalidade até ter conhecimento de sua morte. Aquele foi um dos dias em que mais chorara em sua vida.

No dia seguinte, Hanna também se lembra de ficar em casa. Ela não fora para a funerária, pois seus pais não a permitiram ver o corpo de seu irmão descoberto, que estava visivelmente destruído. Somente no enterro, ela pode se despedir.

Ficara na casa de uma babá qualquer durante aquela manhã. Não comera, nem falara nada durante aquele tempo. Sua mente estava totalmente aérea. Não conseguia e nem queria pensar em nada.

Após algumas horas, a babá levou Hanna ao enterro. A menor recorda-se de chegar ao local com rapidez e em silêncio. O cemitério também estava em silêncio, por mais que houvesse dezenas e dezenas de pessoas presentes.

O dia não estava chuvoso, no entanto também não estava ensolarado. Não havia frio, nem calor ou vento. Hanna não sabia dizer o que sentira naquela ocasião. Não sabia como o clima aparentava ser naquele dia, nem mesmo olhou para o alto e parou para observar o céu para conferir. Era simplesmente o nada. Não havia nada.

Ainda estava totalmente quieta e aérea, com os olhos cinzas que não transmitiam uma emoção sequer, quando se deu conta de estar ao lado de seus pais, que choravam copiosamente.

O caixão estava fechado, nunca mais veria o irmão. Imaginou, até, que aquilo poderia não ser real. E se ele não estivesse lá dentro? E se ele não sofreu um acidente? E se for mais umas das peças que Ethan pregava? Era nisso que ela queria acreditar.

Ao lado da caixa de madeira escura, um enorme cavalete erguia uma foto de Ethan sorrindo, que fora tirada há poucas semanas. Hanna encarava fixamente o quadro em preto e branco, lendo repetidas vezes em sua mente o nome de seu querido e amado irmão: "Ethan Soneto", acompanhado com a mórbida frase: "Morreu amado".

Ao escutar o barulho de passos na grama, enfim percebeu que o caixão estava na cova, sendo soterrado pela fria terra aos poucos. Seus olhos não desgrudaram da cena.

Os segundos passavam martelando. Hanna ainda não possuía reação.

Poucos segundos depois, um branco luminoso chamou sua atenção: uma enorme guirlanda foi posta em cima de seu túmulo.

Cortando ao meio, uma faixa de cor branca com detalhes dourados pendia no local escrito a curta frase:

"Quando o amor é forte, nenhum adeus é eterno."

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