Depois de algum tempo, a polícia foi chamada. As três mortes que ocorreram na república foram o suficiente para deixar toda a vizinhança com medo. Em questão de minutos, já haviam pais nervosos querendo tirar seus filhos do internato. Para Maya e os outros pilares, sair era mais que necessário, porém, Abner ainda achava que valia a pena continuar lá e tentar proteger os outros estudantes. Depois do almoço, ela e Arón foram para atrás do campus. Sentaram-se próximo a uma árvore e começaram a revisar as aulas de física.
- Estou cansado de ter que ver a mesma coisa todos os anos- Arón comentou.
Maya o olhou.
- Mas é preciso- disse.- O melhor jeito de nos escondermos é nos transformando em alunos do colegial.
Arón deitou na grama. Olhava o céu com desejo no coração. Queria libertar sua alma da terra, tocar as nunvens novamente e observar tudo do alto. Desde que se mudaram para a escola, Abner havia dito que era melhor não abrirem as asas novamente, sendo assim, não poderiam voar novamente.
Ele suspirou.
- Eu só queria me sentir livre outra vez- ele disse.
Maya tinha adivinhado o que ele queria dizer. Realmente, faziam muitos meses desde que o líder havia criado aquela regra.
Ela estava prestes a dizer alguma coisa quando ouviram mais um grito.
- Ouviu isso?- Arón perguntou, se levantando.
- Sim- ela respondeu.- Parece que é de Mary.
Aquilo fez Arón sentir ainda mais raiva. Mary era outra pilar da luz. Se ela tinha começado a gritar, com certeza havia algo de errado.
- Vamos ver- disse.
Maya guardou os livros e o seguiu até a faxada da escola. Eles pararam em um muro, se escondendo.
Do outro lado, eles viam Mary, uma menina loira e com a pele branca, sangrando, enquanto um casal de adolescentes a observavam com um sorriso maléfico. Ao ver aquilo, Arón cerrou os punhos. O menino segurou seu queixo.
- A ingenuidade e seu preço- disse ele.- Por que não atentaram nossos avisos?
- Já não são mais tão inteligentes quanto antes- a menina disse.
Ambos riram. Mary levantou com dificuldade. Seu dom era a persistência, então por isso não desistia nunca.
- Ao contrário de vocês- disse-, sabemos lutar com honra.
O garoto riu.
- Ouviu isso, Kayra?- Ele perguntou com um tom de zombaria.- Ela ainda acha que vão poder nos vencer.
Kayra riu.
- Acaba logo com isso, Hyuku- disse Kayra.- Vai ser mais rápido se for só ela.
Hyuku se aproximou de Mary e a segurou. Por trás dela, pegou uma pequena adaga e encostou em seu pescoço. Mary segurava seus braços, maxando-os de sangue. Kayra observava tudo, escorada no portão.
- Espero que sua alma esteja limpa- disse.
E assim, sem mais nem menos, fez um rasgo nele de ponta a ponta. Mary gritou e caiu no chão para uma morte lenta e agonizante.
Maya não pôde acreditar no que tinha acabado de ver. O desespero começou a tomar conta de seu ser. Ela ameaçou chorar, quando Arón a abraçou e tampou sua boca. Se aqueles pilares da escuridão soubessem que eles estavam ali, não seria apenas Mary quem morreria.
Fez um gesto para que saíssem e regressassem à república.
Dentro do prédio, se apressaram a encontrar Abner, mas só encontraram Gil.
Gil era o "moleque" do grupo. Tinha uma expressão nada séria e vivia fazendo piadinhas, mesmo em momentos de tensão. Tinha a pele branca e os cabelos castanhos escuros (mesma cor de seus olhos). Ele e Abner eram colegas de quarto então por isso estava no quarto do líder.
- Gil?- Arón perguntou.- Onde está Abner?
Gil, que estava deitado, se levantou.
- Olá para vocês também- disse ele.- O que houve? Parece que viram um fantasma.
Arón não era o mais paciente deles. Teve que respirar fundo algumas vezes.
- Onde ele está?
Gil sorriu.
- Foi até o quarto dos outros procurar por Mary e Astrid- ele respondeu.- Por quê?
Arón suspirou.
- Ele não vai achar Mary- disse ele.
De repente, o sorriso de Gil desapareceu.
- O-o que aconteceu?
Maya explicou tudo. Contou sobre Hyuku e Kayra, sobre o ataque à Mary e, por fim, sua morte. Gil ficou sem chão pela primeira vez. Nunca fôra de contestar o líder, mas, pela primeira vez, começou a achar que sua decisão de ficar na república não era a melhor. Afinal, a segurança dos seres humanos custava suas vidas? O que era mais importante para Abner?
Maya e Arón deixaram ele no quarto e correram para tentar encontrar a Abner. Antes de chegarem, Arón sentiu a mesma sensação de antes. Parou subitamente.
- Arón?- Maya perguntou.- Tudo bem?
O rapaz fechou os olhos. Refez o que tina feito antes, só que dessa vez viu um vulto. Ao reabrí-los, só teve tempo de empurrar a garota e cair junto com ela. Um espinho atravessou o corredor.
Enquanto Maya olhava assustada para o objeto, Arón correu para tentar alcançar quem quer que tenha lançado aquilo, mas tudo o que viu foi mais um recado:
Não estamos brincando. -1
Maya apareceu ao seu lado. Arón a olhou.
- Você está bem?- Ele perguntou.
A garota assentiu.
- Só foi um arranhão- disse.- Obrigada por ter me salvado.
Arón fez um gesto afirmativo com a cabeça. Observou mais uma vez o que estava escrito. O som dos passos chamou a atenção de Gil que apareceu em seguida.
- Está tudo bem por aqui?- Ele perguntou.
Os dois se viraram para ele.
- Agora sim- Arón respondeu.- Tem certeza de que Abner está com os outros?
Gil assentiu.
- Disse que queria discutir algumas coisas com eles- respondeu.- Por quê? O que querem com Abner?
Arón se aproximou dele.
- Não que eu esteja duvidando dele- disse-, mas não acho que tomou a decisão certa em querer ficar aqui.
Gil olhou para o chão. Desde sempre, apoiava o líder em suas decisões. Arón e Maya foram em direção ao quarto onde os outros estavam, Gil os seguiu.

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Caminhando
De TodoDurante anos, era dever deles proteger os humanos e manter o equilíbrio do mundo. Tanto da escuridão quanto da luz, os pilares eram necessários para o mundo. Com o equilíbrio entre os dois grupos, era certa a harmonia. Se as histórias antigas são o...