Cilada

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Maya sonhou com a morte. Estava em um quarto, sozinha, chorando pelas feridas que pouco a pouco eram feitas em suas mãos.
Mas a parte mais terrível foi ter encontrado o "anjo" de asas negras. Na verdade não se tratava de anjo, mas um pilar da escuridão. Em suas mãos tinha um tipo de soco-inglês com lâminas saindo de sua lateral. Maya tentou se mover, mas tinha os pulsos presos por uma corrente. O pilar se aproximou.
- É tudo uma questão de tempo- ele sussurrou.
Em seguida, furou o coração da menina.
Maya acordou com o sinal.

O fim de semana já tinha acabado. Agora, a preocupação eram as aulas. Maya decidiu tomar um banho antes de ir para a sala. Entrou no banheiro e tirou as roupas. Antes de entrar no box, se olhou no espelho. Os sonhos que os pilares tinham sempre se relacionavam a uma espécie de aviso ou uma visão do futuro. Qual seria o significado daquele sonho? Maya seria morta também? Não, não podia ser. Tinha de ser outra coisa. A garota suspirou. Ligou o celular em uma música qualquer e entrou no chuveiro.
Enquanto a água corria pelo seu corpo, a imagem de Arón apareceu em sua mente. Como será que ele estava?
O banho não demorou muito, Maya queria ir logo para a sala de aula. Não sabia dizer ao certo o porquê, mas tinha apreço por estar perto de outras pessoas. Terminado o banho, saiu do banheiro e foi se trocar.
Maya não estava muito atrasada. Pediu licença ao professor e entrou. Com excessão de Donny, seus amigos estavam lá. Maya se sentava atrás de Abner, assim que ela se sentou, o líder se virou.
- Onde está seu irmão?- Ele perguntou.
Maya o olhou.
- Não sei- ela respondeu.
Abner não disse mais nada, apenas se virou para frente. Por mais que fosse uma pessoa boa, a garota achou sua atitude nada agradável.
Pegou o caderno e começou a rabiscar. Quando a aula terminou, Maya admirou o que havia feito: uma casinha ao pé do morro.
Não tinha ficado perfeito, mas até que era bonito. Tocando o sinal, a garota guardou os materiais e saiu da sala sozinha. A próxima aula ficava no andar de baixo, um pouco depois do ginásio.
Ao passar por este, sentiu algo a chamando. Enquanto todo mundo entrava na sala, Maya abriu a porta do ginásio e entrou. Tudo estava vazio e na mais perfeita ordem. Deu alguns passos e sentiu algo atrás dela. Se virou para ver.
Hyuku estava lá e bateu a porta. Kayra estava na arquibancada junto com mais um pilar da escuridão. Os três sorriam. Maya pegou seu pingente do bolso.
- Interessante- Hyuku disse.- Quanto tempo, Maya.
Hyuku era o inverso do dom de Maya: a perversão. Eram inimigos naturais e por isso o dom do garoto chamou o seu. Maya tremia. Tinha visto ele e Kayra matarem Mary, e, se fossem só os dois, talvez conseguiria vencer sozinha, mas o problema era o terceiro.
- O que foi?- Ele perguntou.- Não me diga que está com medo.
Maya colocou o pingente no pescoço e repetiu a prece. Suas asas se mostraram novamente.
- De você?- Ela perguntou.- Não me faça rir.
Hyuku chegou mais perto. Os outros se juntaram a ele. Os pilares da escuridão também mostraram suas asas. Hyuku tinha as asas da cor cinza escuro; Kayra, da cor verde musgo; e o outro... Ao vê-las, Maya se recordou do sonho. Suas asas eram totalmente negras.
Quem é ele? Maya pensou.
Hyuku pegou a adaga e a jogou em Maya, que alçou vôo. Sua arma se materializou no ar: um arco dourado e uma aljava carregada com flechas da mesma cor. Ela preparou para assertar no coração de Hyuku, só que Kayra voou atrás dela. Maya estava ocupada com seu inimigo que não prestou atenção nela. Kayra conseguiu derrubá-la.
Por pouco, Maya não caiu em cima de suas asas, o que poderia quebrá-las. Hyuku ria.
- Você não é mais como antes, garota- disse.- Era tudo mais emocionante quando treinavam.
Maya se levantou rapidamente. Não estava acostumada a lutar desde muito tempo. Materializou seu arco novamente e preparou outra flecha, porém, Hyuku se adiantou. Mais rápido que qualquer ser normal, passou por trás dela e derrubou sua arma. O garoto a segurou da mesma forma que segurou Mary antes de matá-la, só que, ao invés de segurar a adaga, com a outra mão segurou a cabeça de Maya. A garota se debateu e ele segurou mais firme.
- SHHH- ele sussurrou ao seu ouvido.- Isso, quietinha.
Maya estava arfando. Hyuku sorria como se fosse uma criança que acabara de ganhar um presente.
- Você não imagina o quanto te matar me fará bem, Maya- ele sussurrava o tempo todo.
Kayra e o outro só observavam.
- Mas adivinha só- disse ele.- Não será com a minha adaga. Seu sangue é precioso para mim, mais do que tudo.
- Do que você está falando?- Maya perguntou.
O sorriso de Hyuku aumentou. Ele deixou que alguns dedos ficassem na frente dos olhos de Maya. A garota viu suas unhas se transformando em garras. Seus sentidos fizeram seu corpo se debater.
- Me diga uma coisa, Maya- disse.- Você sabe o que a sua presença me faz? Ela me fortalece. Deixa todos os meus sentidos acordados.
Depois ele ergueu a cabeça dela até que ela olhasse em seus olhos. Naquela hora, Maya tinha a certeza de que morreria. Estava sozinha e ele, com seus amigos. Mesmo que conseguisse escapar, ou Kayra ou o outro a pegaria.
Hyuku levou a mão até o peito esquerdo da garota (lugar onde fica o coração) e, sorrindo, disse:
- Até logo, Maya. Te vejo do outro lado.
A menina fechou os olhos esperando que as garras penetrassem.
Acaba aqui, ela pensou.
Como se alguém atendeu às suas preces, a porta do ginásio foi arrombada. Donny entrou na forma de um anjo, pronto para lutar.

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