Arco contra espada

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Arón não sabia o que exatamente lhe tinha levado àquela casa. Não tinha sentido Maya entrando em contato com seu dom e, nem muito menos, ela expandindo sua aura. Só seguiu voando com a cabeça machucada até sentir algo diferente lhe chamando.
Ao chegar no quarto, finalmente sentiu que havia um pilar por ali. Preparou-se para receber um pilar da escuridão, e, ao ver Maya, teve realmente uma grande surpresa.
Após contar a sua parte da história, Arón quis ouvir a versão dela. Maya contou tudo e, quando chegou na parte em que Abner havia lhe batido, Arón a olhou seriamente.
- Abner já chegou no limite das coisas- disse.- E agora quer achar um jeito de ir além.
Maya chegou mais perto. Arón ajeitou o corpo.
- Abner só está preocupado- disse ela.- Estamos diminuindo em números.
Arón sorriu com o canto da boca. Por mais que ela quisesse, não podia negar a natureza de seu dom.
Ele admirava o fato dela ser positiva, mas tudo tem um limite. Maya não poderia viver somente acreditando que qualquer pessoa pode ser boa, porque não é verdade.
Depois dessa curta conversa, o estômago de Maya roncou. Não comia desde o dia anterior, na casa dos renegados. Arón havia percebido isso.
- Quando estava vindo para cá, encontrei uma fazenda que tem um pomar enorme- disse ele.- O que acha de irmos até lá?
A ideia agradava à garota. Saíram do quarto e foram para fora da casa.
Do lado de fora, ambos seguraram seus pingentes e refizeram a prece.
As asas de Maya voltaram a aparecer, amareladas como sempre. E as de Arón, azuis.
Mas havia um porém, os cabelos de Maya apareceram lisos e com tranças os enfeitando. Não era comum aquele tipo de coisa acontecer. Geralmente, depois que a aura se acalma, tudo, absolutamente tudo, volta ao normal no pilar.
- O que isso significa?- Ela perguntou.
Arón chegou mais perto. A sensação que sentia era a mesma de quando estava sobrevoando aquela região.
Estranho isso, ele pensou.
Era primeira vez que aquilo acontecia e já estavam vivos há milênios.
- Não faço a mínima ideia- ele respondeu.
O estômago da garota roncou novamente. Arón abriu as asas.
- Quer uma corrida?- Ele optou.
Maya o olhou. A proposta havia sido repentina.
- Mas eu nem sei onde isso fica- ela disse.
Arón sorriu.
- Aí é que está a graça- disse.- Tente me alcançar e, se conseguir, te levarei até o pomar.
- Não somos mais crianças, Arón- disse ela.
Arón riu. Sabia como desafiar a pilar mais que ninguém. Ele achava engraçado brincar com ela de vez em quando e sentia saudade dessa sensação.
- Está com medo, Maya?- Arón provocou.
- Medo?- Maya perguntou.- Mas medo de quê?
Um som chamou a atenção de Maya, que se virou para ver. Era apenas um esquilo que passava correndo pelo local. Foi quando percebeu que sua faca havia sumido. Arón a segurava, rindo.
- Arón- disse ela.- Mas o que você está fazendo?
- Você a quer?- Ele perguntou.- Tente pegar.
Arón abriu as asas completamente e levantou vôo. Maya resmungou e foi atrás dele.
Maya não o via por causa da técnica que sempre usavam, mas podia sentir o cheiro. Seguiu o rastro por cinco minutos, quando o encontrou em cima de uma árvore, apoiado em seu tronco. A mesma era grossa e forte, Maya também pousou no mesmo galho.
- Para que isso?- Ela perguntou.
Arón lhe passou a faca e segurou a sua cabeça. A virou para trás e Maya pôde ver o cenário lindo que se formava ali.
Apesar de ser meio dia, os montes altos quase tocavam o sol. Pássaros e nuvens cruzavam a cena embelezando ainda mais a paisagem.
- Uau- disse ela.
Arón se aproximou mais.
- Lembra aqueles momentos em que eu desaparecia por uns instantes?- Ele perguntou.- É para cá que eu vinha.
Não era difícil de imaginar o porquê. Lugares assim dão a sensação de verdadeira liberdade aos pilares.
Maya contemplava a cena quando sua barriga lhe incomodou mais uma vez.
- Arón- ela o chamou.- Isso é muito bonito, de verdade, mas eu ainda preciso comer.
Arón sorriu. Saiu de onde estava e foi para outra árvore. Voltou com algumas mangas.
- O que acha?- Perguntou.- Comida natural de graça.
Maya riu. Usou a faca para descascar uma manga e a passou para Arón que estava sentado. Em seguida, pegou outra fruta e descascou para si. Juntos, observavam o cenário enquanto matavam a fome.
Quando terminaram de comer, Maya e Arón decidiram retornar à casa, afim de treinarem.

De volta, prepararam tudo e se posicionaram. Maya pegou seu arco e Arón sua espada, iriam se contra atacar. O rapaz não gostou muito da ideia de ter que usar uma espada contra um arco e flechas, pois, se ele permanecesse longe, seria fácil para ela, mas se ele chegasse perto, ele teria a vantagem.
Mas Maya preferia usar o arco que a faca. O arco era mais atraente para ela.
- Realmente- Arón disse.- Gostos não se discutem.
Maya sorriu.
Diferente de Maya, Arón preferia usar espadas e punhais. Suas habilidades estavam na força que possuía, embora arqueiros tivessem uma força considerável grande, os espadachins eram os guerreiros mais fortes.
Maya e Arón começaram o ataque quando ela lançou uma flecha. Ele não teve problemas para desviar, bastou um movimento com a espada e a flecha se partiu em dois.
Em seguida, Arón atacou. Maya tentou impedir seu avanço, mas ele era rápido de mais. Ele conseguiu alcançar a pilar e ela levantou vôo para escapar. Arón foi atrás dela.
Maya lançava flechas na tentativa de derrubá-lo, mas não conseguiu. Arón fez um único movimento e o arco de Maya se desfez.
Ela o olhou. Arón estava prestes a dar o último golpe, mas era uma distração. Maya se descuidou e Arón a segurou pela cintura. Seus olhos escuros começaram a ficar mais claros. Maya sabia o que viria depois.
- Comatose- ele sussurrou ao seu ouvido.
A palavra comatose significa estado de coma em inglês e é mais ou menos isso o que essa técnica faz. Instantaneamente, o dom da garota adormeceu, suas asas se desapareceram. Ela teria caído, não fosse por Arón a estar segurando firmemente.
- E então?- Ele perguntou.- Quem está por cima?

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