Caminhando

Os renegados

Maya observava os pássaros. Sentiu vontade de acompanhá-los, mas, se liberasse seu dom, os outros pilares a encontrariam e aquilo era a pior coisa que poderia acontecer naquele momento. Por mais que estivesse livre, ainda tinha algo que a prendia.
A garota deitou na madeira. O céu estava totalmente limpo. Ela estava quase adormecendo quando algo lhe chamou a atenção. Seus instintos a alertavam que havia alguém lá. Se levantou.
A curiosidade sempre a vencia. Entrou na casa devagar, mas não avistou nada. Ao entrar mais um pouco, alguém fechou a porta e a segurou. O encontro com Hyuku fez Maya atentar para esse tipo de ataque. Com uma cabeçada, conseguiu se livrar de quem quer que seja que a segurava. Olhando melhor em seu rosto, ele a lembrava alguém. O garoto pareceu reconhcê-la também.
- Maya?- Ele perguntou.
A garota recuou um pouco. Ele a conhecia, mas ela não se lembrava ao certo de quem ele era. Ele percebeu isso e fez um gesto que costumava fazer há muito tempo. Isso despertou a memória da garota.
- Danton?- Ela perguntou.
O garoto assentiu. Danton era um pilar renegado (um pilar que renunciou alguma coisa a favor do amor humano). Não era muito alto, sua pele era branca, mas não muito clara. Cabelos e olhos escuros. Com um pouco de esforço, a garota se lembrou do que ele havia aberto mão: de suas asas.
Danton a levou até a cozinha, onde preparou algo para comerem enquanto conversavam.
- E como estão os outros?- Ele perguntou.
- O número diminuiu bastante- ela respondeu.- Até ontem, éramos em sete...
Danton a olhou.
- Éramos?
Maya assentiu. Bebeu um pouco de café.
- Ontem- ela explicou-, descobrimos que os pilares da escuridão tinham nos encontrado novamente.
- E Abner não fez nada?
Ela fez um gesto negativo com a cabeça. Aquela confissão fez o sangue de Danton ferver. Já sabia o que viria depois: morte. Algum pilar da luz morreu como consequência dos atos do líder.
- Quem morreu?- Ele perguntou.
Maya esperou um pouco para responder.
- Mary. Arón ficou nervoso com ele.
- Com razão- disse o rapaz.- Abner está descuidado demais. Dando mais valor aos humanos que aos pilares. Esse foi um dos motivos pelo qual vários pilares se tornaram renegados.
Maya queria trocar de assunto. Não queria se lembrar dos amigos e nem do que seu irmão e Abner fizeram.
- Mas e você?- Ela perguntou.- Vive aqui sozinho?
Danton sorriu e mordeu um pedaço de pão.
- Não- respondeu.- Encontrei outros renegados depois de um longo tempo andando sozinho. Nos mudamos para cá não tem muito tempo. Não sabíamos que vocês estavam pelas redondezas.
No mesmo instante, um barulho de motores foi ouvido, sendo que dois eram de motos e um, de carro. Danton se levantou.
- Falando nisso...- disse.- Venha, vão gostar de te ver novamente.
Maya se levantou também.
- Mas quem está aí?

Depois de desligar o motor, desceram da moto. Cadmiel é um tipo rebelde de pilar renegado. Seus cabelos eram ruivos e um pouco compridos. A pele branca e sempre usava uma jaqueta de couro preta. Laysa, sua namorada (uma humana pela qual tinha se apaixonado e negado o dom das asas), desceu também. Ambos se beijaram. O motorista do carro buzinou.
- Dá para dar licença, bro?- Ele gritou.
Cadmiel sorriu, pegou o braço da garota e saiu do caminho. Outra moto chegou e um jovem de cabelos loiros desceu. Do carro, saíram três pessoas, sendo que dois eram homens e uma, mulher. Eles riam e se divertiam.
Danton apareceu na varanda.
- Ei Natah- chamou-, lembrou de tirar a chave dessa vez?
O garoto do carro riu e balançou as chaves.
- Que ótimo- Danton disse.- Pessoal, espero que se comportem hoje.
- Por quê?- Cadmiel perguntou.- O presidente dos Estados Unidos vem hoje?
Todos riram.
- Não- Danton respondeu.- É algo mais emocionante que isso.
Ao dizer isso, Maya apareceu. De fato, aquilo era mais emocionante que encontrar o presidente americano. Muitos ali não viam os outros pilares há décadas. Cadmiel foi o primeiro a cumprimentá-la com um abraço.
O interessante é que, depois de ter se encontrado com Danton, Maya se lembrava de cada um.
- Vejam se não é Maya!- Ele exclamou.- Quanto tempo!
Maya sorriu. Estava realmente alegre em vê-los. Depois das saudações, entraram na minúscula casa.