Se separando

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Maya chegou no quarto e tirou os materiais da bolsa. Chorava enquanto esvaziava o guarda-roupa e colocava as peças na mochila. Donny chegou quando estava quase acabando.
Ele pegou a roupa que ela estava guardando.
- Me devolve isso!- Ela exclamou.
Maya tentou pegar, mas Donny a colocou para trás de seu corpo. Quando ela se aproximou mais, ele jogou a peça e a abraçou.
- Me escuta, Maya- disse ele.
Maya tentou se soltar.
- Não!- Ela gritou.- Eu detesto isso! Me solta!
Donny segurou um pouco mais firme.
- O que você detesta?- Ele perguntou.
Com o feito de seu irmão, Maya parou de lutar. Apenas se deixou chorar. Donny alisou seus cabelos.
Tudo estava confuso em sua mente. Estava cansada de tudo na verdade. Cansada dos pilares da escuridão, de Abner, da "prisão" e, até talvez, da vida. Nos braços de seu irmão, chorou até não aguentar mais.
Depois, se soltou.
- Vai me responder?- Ele perguntou.
Maya suspirou.
- Detesto as atitudes de Abner- ela respondeu.- Não aguento mais.
- E você duvida de Abner?- Ele perguntou.
Ela se sentou na cama. Duvidar era a palavra certa. Não tinha raiva, receio ou qualquer pensamento muito negativo quanto ao rapaz, mas tinha dúvidas, e muitas.
- Com certeza- ela respondeu.- E um ser que tem dúvidas...
- Não pode prosperar.- Ele completou.
Maya assentiu. Era uma frase conhecida entre os irmãos, os pais a costumavam dizer.
Donny suspirou. A coisa certa a fazer era deixar que a irmã tomasse a própria decisão, mas ele sabia que ela iria embora. Estavam juntos desde antes do nascimento, ver alguém tão próximo partir era doloroso. No entanto, Maya tinha razão. Se ela continuasse a ter dúvidas, ficaria mais fraca.
Com esse pensamento, o rapaz pegou a última peça de roupa e a guardou na mochila. Surpresa, Maya o olhou.
- Tem certeza de que ficará bem?- Donny perguntou.
Sorrindo, ela respondeu:
- Tentarei não morrer.
Donny fechou o zíper da bolsa e a entregou à irmã. Maya a pegou e os dois se abraçaram. Depois de um tempo assim, o rapaz a soltou e tirou do bolso do casaco seu pingente. A pedra da cor vermelha estava presa ao cordão juntamente com outra peça bem pequena na forma de um anjo dourado que segurava duas espadas cruzadas na altura do peito.
Ele tirou o pequeno anjo e pediu o pingente de Maya. Após entregá-lo, a garota ficou curiosa e perguntou:
- O que é isso? E por que você o está prendendo no meu pingente?
Donny amarrou bem firme e se certificou de que não sairia tão fácil.
- É uma espécie de amuleto- ele respondeu.- Nossos pais me deram um pouco antes de morrerem.
Maya o olhou nos olhos. Uma pequena lágrima escorreu timidamente pela sua face. Já faziam séculos desde que os pais haviam morrido, mas os gêmeos ainda sentiam sua falta. Donny secou o rosto.
- Eles disseram...- As palavras saíam com dificuldade.- Disseram que isso nos protegeria quando precisássemos.
Ele a entregou o colar.
- Eles acharam que ficaríamos juntos até o fim- disse.- Sendo assim, enquanto eu estivesse perto de você, nós dois estaríamos salvos. Como se essa pequena peça fosse nos dar força.
Maya analisou o colar. Não sabia como uma simples estátua poderia aumentar seus poderes, mas não quis falar nada. Apenas colocou o pingente no pescoço e sorriu.
- Obrigada- ela agradeceu.- Vou sentir saudade.
- Mas para onde você vai?- Donny perguntou.
Maya deu de ombros. Ainda não queria aparecer na casa dos renegados.
- Quem sabe?- Ela respondeu.- Vou para onde os ventos permitirem.
- Maya, eu não estou brincando- ele disse.- Você sabe o quanto é perigoso?
Ela riu. Deu um abraço no irmão e materializou as asas.
Seus olhos estavam brilhando, não pelo dom, mas pela felicidade. Se dirigiu à janela e olhou para ele.
Seu irmão sorria, mas, Maya sabia, estava com o coração se partindo. Fizeram um gesto com a cabeça, e a garota se lançou ao céu.
E, pela primeira vez desde muito tempo, Maya estava realmente feliz.

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