Treinamento

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Há uma técnica para os pilares de não deixarem os humanos notarem seu vôo, e ela se chama katáskopos (que significa espião, em grego). Onde o corpo de quem a realiza simplesmente perde as propriedades de uma matéria. Apesar da técnica ser mais utilizada pelos pilares da escuridão, ambos os lados podem realizá-la.
Os únicos que podem encontrar quem quer que a esteja utilizando são os próprios pilares por meio dos dons particulares (como o olfato para Maya, a visão para Arón...), mesmo assim, ainda pode ser cem por cento livre de ser detectado.
Maya voou para fora da cidade até a mais próxima. Se queria mudar de vida, deveria começar do zero. Mais tarde voltaria para a casa dos renegados, mas agora tinha prioridades.
Primeiro tinha que encontrar um lugar para ficar. Encontrou uma casinha abandonada, isolada das demais, com um quintal enorme, perfeito para ela treinar (o que, desde o início, era sua intenção).
Maya se acomodou e saiu para o quintal. Pegou um carvão e marcou uma árvore qualquer. Aquele seria seu primeiro alvo.
Com a mão no pingente, a garota fez uma nova prece:
Oh, pureza da inocência, igual ao sol é o teu brilho. Peço-te ajuda. Dê-me meus dons.
No mesmo instante, suas asas reapareceram, seus olhos brilharam e seu arco e flechas se materializaram, só que, dessa vez, uma faca de caça apareceu em sua cintura.
Maya a pegou. Faziam anos desde que ela tinha usado aquela faca pela última vez. Gostava mais do arco do que do punhal, mas era preciso melhorar em todos os aspectos. Devolveu-a a cintura.
Pegou o arco e preparou uma flecha. Atirou. Com perfeição, o projétil voou até encontrar o ponto marcado. Maya não se contentou muito, afinal já estava acostumada a usar aquela arma. Respirou fundo.
Havia algo que queria tentar, mas, para isso, precisava se concentrar totalmente. Fechou os olhos e imaginou o alvo. Ao invés de usar o arco, pegou a faca e a lançou. Não sabia se iria ou não acertar, só sabia que deveria correr antes da arma acertar o ponto e simplesmente parar.
Maya conseguiu chegar antes dela, mas o problema foi ter aberto os olhos, coisa que jamais poderia ter feito. Ela desviou, mas foi tarde demais.
Droga! Ela pensou.
A garota olhou em volta em busca de algo para vendar seus olhos. Não encontrou nada, o que lhe deixava com apenas uma solução: usar uma de suas roupas.
Ela foi até sua bolsa e rasgou uma blusa fina. Depois voltou e amarrou em seus olhos. Pegou novamente a faca, respirou fundo e a lançou.
Maya correu novamente e a lançou de volta. Repetiu o processo até que sentiu o cheiro de fogo. Ela sorriu.
Agora sim, ela pensou. Vamos completar isso.
A garota correu novamente para a arma e a lançou de volta. Nesse momento, Maya sentiu um calor confortável. Removeu a venda e olhou para si mesma.
Uma luz a envolvia e a transformava. Fisicamente, Maya ficou com um corpo mais atlético, seus cabelos cresceram e algumas tranças o enfeitavam, e seus olhos ficaram com um tom de azul mais intenso.
Suas vestes também se modificaram. Ao invés da camiseta e do jeans simples, ela usava um vestido fino e comprido, com as cores branco e dourado. Seu tênis comum e surrado, se tornou em uma sandália marrom que ia até a panturrilha.
E suas asas... Maya as olhou com felicidade. As tímidas asas amareladas se tornaram compridas e brilhavam como se fossem povilhadas com ouro. Mas o significado das asas não é só a estética, para os pilares, quanto maior forem as asas, mais força eles têm.
A garota olhou para a faca em chamas. A pegou e o fogo sumiu. Ela sorria feito criança.
Pela primeira vez desde muito, muito tempo, ela mostrou sua verdadeira forma. Aquela Maya era a verdadeira Maya.
Feliz, ela pegou seu arco. Estava enfeitado por um círculo e, dentro deste, o desenho do corpo de um coelho.
O animal representava seu dom e o círculo, a casta que ela pertence: pureza. Depois de séculos e séculos tentando sobreviver, apenas Maya restou dessa casta que era dividida em inocência, generosidade e benevolência. E esse era um dos motivos pelo qual, não poderia se dar ao luxo de morrer.
- Morrer não é mais uma opção- ela murmurou.
Pegou seu arco, preparou uma flecha e, só por diversão, se aprontou para atirá-la. Assim que ia lançar a flecha, algo então aconteceu, a mesma se ascendeu em uma labareda enorme.
Maya a lançou com empolgação e a flecha acertou o alvo, apagando logo em seguida.. De repente, um cheiro penetrou nos narizes de Maya. Ela olhou em volta. Não sabia dizer se era coisa boa ou não. Rapidamente seguiu o cheiro. O rastro a levou para o interior da casa.

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