O Medo

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Maya acordou com o cheiro forte de pólvora. Não sabia como, mas seu cabelo estava de volta ao normal. Se levantou. Sentiu tontura e voltou a se sentar.
O que está acontecendo? Ela pensou.
De repente, ouviu um som vindo das escadas. Olhou para trás e o viu. Com suas asas raspando no teto, Hyuku sorria para ela.
- Hyuku- ela murmurou.
- Olá, Maya- disse ele.- Quanto tempo.
Maya tentou se levantar, mas sentia medo. Hyuku estava mais forte, dava para ver em suas asas. O pilar da escuridão se aproximava lentamente.
- Como você me achou?- Ela perguntou.
- Essa é fácil de responder- disse ele.- Bastou apenas eu sentir sua aura fortalecer. Não acha que eu, sendo seu adversário natural, sentiria isso há quilômetros de distancia?
A essa altura, Hyuku já estava ao seu lado. Maya estava fraca, aquilo dava prazer ao rapaz. Ele segurou seus ombros e a levantou. A garota sentiu um pouco de dor.
- Não consegue reagir, não é?- Hyuku perguntou.- Melhor para mim, não vai conseguir lutar.
Ele a virou e, no mesmo instante, a porta se abriu. Arón entrou.
Hyuku sorriu com mais satisfação.
- Confesso ter me descuidado um pouco em relação ao seu amiguinho- disse ele.- Mas não importa, com você fraca, isso não irá muito longe.
Arón materializou suas asas.
- Deixe-a em paz- disse ele.
Hyuku soltou uma gargalhada sinistra.
- Pobre Arón- disse ele.- Não sabe que vim aqui só por causa dela? Você para mim não é nada!
Arón pegou sua espada.
- Se é assim, então por que não me pega?
Hyuku riu.
- Com muito prazer.
Ele jogou Maya novamente no sofá. Tinha que matá-la o quanto antes, sua presença a fortalecia, mesmo que devagar. Mas achava que ainda podia lidar com o pilar da luz.
Ele começou indo para cima de Arón, levando-o para fora. Nesse instante, a garota sentiu uma mão lhe segurando. Assim que se levantou, olhou para trás e viu Cadmiel. O renegado a levou até a cozinha.
- Que péssima hora para um reencontro- ele disse.- Como está se sentindo?
Maya não podia acreditar. O que Cadmiel fazia lá? Renegados não podiam sentir sua aura, então como ele sabia daquele local?
Uma dor de cabeça lhe pegou em cheio. Maya fechou os olhos. A dor foi repentina e, assim que passou, sua força retornou. Maya se soltou dos braços do amigo.
- Melhor agora- ela disse.- O que você faz aqui?
Cadmiel a olhou.
- Não há tempo para explicar- ele disse.- Consegue voar?
O renegado lhe passou o colar, mas estava faltando o pequeno anjo com os braços cruzados. Maya fez a prece e suas asas reapareceram. Ela as abriu sem nenhuma dificuldade.
O renegado foi com ela até a porta do quarto.
- Voe até a escola- disse ele.
- Não- ela rebateu rapidamente.- Não quero mais ir àquela escola.
A teimosia repentina de Maya fez com que Cadmiel a olhasse assustado.
- Maya, você...
- Qualquer lugar- ela o interrompeu-, menos a escola.
Cadmiel suspirou. Se Maya demorasse mais algum instante, o plano de Arón e Cadmiel iria ir por água abaixo. Ouviram um barulho muito forte vindo da sala. Hyuku xingou.
- Vá para qualquer lugar- ele disse.- Apenas saia daqui.
Cadmiel a empurrou para dentro e fechou a porta. Parecia ter adivinhado o próximo passo da garota. Maya queria descer e ajudar Arón. Mexeu na maçaneta, nada.
- Maya, faça o que eu te disse- Cadmiel gritou.- Se ainda não sabe onde ir, vá à casa dos renegados. Diga para Danton que precisamos de ajuda.
- Mas...
- Apenas faça isso e já terá ajudado.
Com essas palavras, Cadmiel saiu em direção à sala. Não era fraco, mas ainda era um renegado.
Maya respirou fundo e abriu a janela. Uma ventania começava a bater nas árvores. Era um péssimo dia para voar, mas Maya precisava sair dali. Se era inútil sozinha, talvez os renegados poderiam ajudar. Maya se preparou e alçou vôo.
Sentia o vento bater contra seu rumo, o que a deixava cansada. Para piorar, estava começando a armar chuva.
Ela já estava longe da casa quando sentiu algo lhe acertando. Olhou para suas asas. Algo afiado passou de raspão, arrancando algumas penas.
Maya se descuidou. De repente, viu um pilar da escuridão na sua frente. Parou bruscamente.
- Bilo- ela o reconheceu.
Bilo era um pilar forte, cujo dom era o medo, o que não significa que era medroso, mas brincava com a mente de suas vítimas, levando à uma morte psíquica.
Era alto, pele bronzeada e olhos verdes. Seus cabelos eram curtos da cor caramelo. Suas asas, diferentes das dos demais, possuía o desenho de estrelas no céu escuro do universo.
Por mais que Maya tentasse, não conseguia saber o que ele pensava.
- Olá- ele disse.- Estava indo à algum lugar?
Maya o encarou.
- O que você faz aqui?- Ela perguntou.- Meu irmão não está aqui.
Bilo olhou em seus olhos.
- Acha que estou aqui por causa de Donny?- Ele parecia perguntar sinceramente.- Seu irmão não me é interessante agora.
Maya estranhou. Se Bilo não estava atrás de Donny, então o que ele queria? Bilo se aproximou mais um pouco, Maya não sabia o porquê, mas não conseguia sair.
Bilo segurou seu queixo.
- Sabe o que eu gosto em você, Maya?- Ele perguntou.- Seu medo. Ele é tão simples... Você teme a vida de seus amigos, o que faz com que seja fácil tocar seu ponto frágil.
Ela tentava entender o porquê de Bilo estar falando com ela. Algo então passou pela sua mente: ele nunca atacava fisicamente alguém, então quem atirou aquilo?
Maya tentou virar a cabeça para olhar ao redor, mas Bilo a voltou para ele.
- Porém, você é forte- ele disse.- Psicologicamente falando. Não pára de pensar um minuto.
Maya não tinha reparado, mas estavam descendo devagar até que ela pôde tocar o chão.
Nesse instante, sentiu um braço a envolvendo. Ela virou a cabeça e, pelo canto do olho, viu outro pilar da escuridão. Ele tampou sua boca e nariz. Ela tentou lutar, mas ele era mais forte.
- Bons sonhos- ele sussurrou ao seu ouvido.- Inocente.
Os olhos de Maya foram se fechando até ela desmaiar. Agora sim, estava tudo arruinado.
Na luta, Maya havia deixado cair seu pingente.

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