Abro os olhos lentamente. A claridade me incomoda a princípio e vejo apenas relances de onde estou. Tem um tubo de oxigênio em meu nariz e um cateter no braço. Coloco a mão sobre a barriga me lembrando do que aconteceu... De todo aquele sangue. Arregalo os olhos e começo a me remexer tentando encontrar alguém que possa me dizer o que houve. Me assusto com uma voz familiar soando por todo o quarto:
— Não pode se levantar.
Encontro a figura de Calleb, parado próximo a janela e anotando algo no prontuário em sua mão. Seus olhos extremamente azuis me fitam com relutância e sei que ele gostaria de estar em qualquer lugar menos aqui. Engulo seco e balbucio:
— Eu... Eles...
— Estão bem. — Solto um suspiro de alívio. — Você teve descolamento da placenta. Administramos medicação e tivemos que te colocar no oxigênio porque a perda severa de sangue causou um quadro de anemia e insuficiência cardíaca. Vai precisar ficar aqui em observação.
— Calleb...
— Seus bebês estão bem, mas não estão clinicamente saudáveis. Menores do que deveriam para fetos de 20 semanas. Acredito que não esteja fazendo o pré-natal nem tomando vitamínicos então faremos biópsia de três em três horas para acompanhar a evolução deles e se não chegarem ao peso ideal teremos que fazer uma cesárea.
— Não... Não pode tirá-los. Ainda está muito cedo.
— Eu sei bem disso, apesar de eu já ter saído da área neonatal a alguns anos.
Tem fúria em seus olhos, por mais que ele esteja usando todo seu auto controle para esconder. O cabelo loiro escuro está jogado para o lado de um jeito bem formal e consigo ver os lábios pequenos franzidos por entre a barba fechada. Meu coração se afunda quando percebo o que estou causando nele.
Queria ter um motivo justificável para aparecer em seu trabalho coberta de sangue e esperando dois bebês. Um motivo melhor do que desespero e egoísmo. Desde que descobri não me imaginei contando a ele. Talvez no futuro. Não queria expor Calleb aos perigos do meu mundo e não suportaria a culpa se algo o acontecesse, mas naquele momento, seu rosto foi o único que veio em minha mente. O único a quem eu confiaria minha vida e a dos meus filhos. Nossos filhos.
— Vou deixar você descansar.
— Calleb, por favor.
— Eles são meus? — Questiona de repente.
— Eu...
— Só sim ou não!
— Sim.
Vejo-o respirar fundo, travar a mandíbula e passar as mãos nos cabelos contendo alguns palavrões. Engulo seco sentindo meu coração afundar mais um pouco. Eu não planejei nada disso e tudo que menos queria era trazer mais transtorno a vida dele.
— Porquê não me disse? — Rosna entre os dentes. — Foi até a minha casa. Teve a chance de contar, mas preferiu me largar inconsciente sem saber do seu paradeiro, de novo.
— Eu não sabia.
— Seja honesta pelo menos uma vez droga!
— Eu. Não. Sabia! — Meus olhos se enchem de lágrimas e quase sussurro: — Não naquele momento.
— Não faz diferença, porque aparentemente você não pretendia me incluir, assim como nunca me incluiu em nenhuma outra parte da sua vida. — Ele passa as mãos no rosto.
— O que quer eu diga? Que fiz tudo errado desde o início? Tudo bem, eu digo!
— Diga o que quiser, mas não vai mudar os fatos.
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Herdeiros das Trevas - Legados
FantasyDepois de vencer Cecily e descobrir que carrega o futuro das necromantes em seu ventre Sienna fica ainda mais determinada a quebrar a maldição e libertar seus amigos. Ela precisará enfrentar as consequências deixadas pela última batalha enquanto li...