Procuro pela origem da voz e encontro uma mulher de pele extremamente clara, cabelos loiros dourados, longos e com cachos por toda sua extensão parada próxima as janelas. Seu rosto possui traços marcantes e bem característicos das necromantes. Sinto como se ela fosse familiar. Seus olhos grandes e azuis me fitam diretamente e não é preciso usar minha empatia para saber o quanto ela está aliviada com este momento.
Olivett me encara furiosa, como se eu houvesse cometido um grande erro, mas dessa vez terei de descobrir por mim mesma. Ela apenas desaparece, sem dizer uma única palavra. Deve estar indo me dedurar para vovó Harriet, com certeza.
Limpo o nariz com o dorso da mão enquanto Agnes caminha pelo quarto observando os objetos. Ela os toca e franze as sobrancelhas. Esteve seiscentos anos aprisionada, então imagino que não tenha conhecimento do quanto o mundo mudou.
— Meu nome é Sienna Bain.
— Que século é este?
— Século XXI.
— XXI?! — Questiona atordoada.
— Você esteve presa por quase seiscentos anos. Qual a última coisa que se lembra?
Agnes coloca uma das mãos em sua têmpora. Parece repassar na mente tudo o que aconteceu antes de sua morte e uma expressão de desespero se fixa em seu rosto. Me aproximo para tentar acalmá-la, mas quando toco seu braço sou atingida por uma agonia excruciante e tenho que me afastar bruscamente.
— Agnes, precisa se controlar.
— Porquê?! Eu não entendo... Como...?
— Muitas necromantes acreditavam que você traria perigo. Eu não sei como, mas acabaram aprisionando seu espírito com um selo. Não concordo com a decisão que tomaram, mas precisa saber que não queriam o seu mal, só queriam garantir a segurança de todos.
— Nenhuma delas foi capaz de entender... Eu não queria causar mal algum. Nunca quis.
— Então não tem consciência do resultado de suas ações?
— Resultado?
— Você criou uma linhagem inteira de vampiros, Agnes. Os números são impossíveis de se contabilizar atualmente. Estão espalhados pelo mundo inteiro e são originados de um único vampiro, Heron Wydrich.
Seus olhos se iluminam, a esclera brilha em tons de branco, assim como os meus. As luzes começam a piscar desordenadamente e o espelho lateral racha.
Engulo seco. Se apenas o nome dele é capaz de provocá-la dessa forma imagino o que sua presença possa causar.
— Aquele... — Múrmura entre os dentes.
Vejo-a apertar os punhos enquanto sua raiva cresce. As luzes piscam freneticamente e os móveis começam a chacoalhar.
— Agnes! — Berro seu nome para que ela olhe para mim. — Não o deixe ter esse poder sobre você.
— Porquê você me libertou?
— Porquê preciso da sua ajuda.
— Quer me usar? Assim como Heron? Como a família dele?
— Não, quero corrigir um erro. O que fez no passado produz consequências até hoje e se realmente não foi intencional então você tem o dever de desfazer. Passou seiscentos anos sendo mal compreendida pelas pessoas, até pelo seu próprio povo. Pode usar sua liberdade para contar sua história.
Ela solta o ar, como se precisasse dele, em seguida abre os punhos fazendo as luzes voltarem ao normal e os móveis estabilizarem. Seus olhos também voltam a coloração azul e posso sentir o misto de emoções fervilhando dentro dela. Injustiça, frustração, revolta e raiva... Muita raiva.
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Herdeiros das Trevas - Legados
FantasíaDepois de vencer Cecily e descobrir que carrega o futuro das necromantes em seu ventre Sienna fica ainda mais determinada a quebrar a maldição e libertar seus amigos. Ela precisará enfrentar as consequências deixadas pela última batalha enquanto li...