Capítulo 30

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Eu estava na janela do meu quarto, observando a cidade. Velaris é de fato, muito bela.

Duas batidas na porta chamaram minha atenção. Eu sabia quem era, a mesma pessoa que vinha ao meu quarto todo o dia tentar me animar. Senti o cheiro de névoa e cedro, quando Azriel entrou no quarto.

- Trouxe seu almoço.- falou. Olhei para trás, em sua direção. Ele segurava uma bandeja com algumas frutas e carnes. Ele sempre trazia uma bandeja cheia de comida, e quando saía, levava a bandeja da mesma maneira que chegou. Cheia. Intocada.

- Não estou com fome.- falei, voltando a fitar a cidade logo abaixo. Ele largou a bandeja na cômoda ao lado da cama e se aproximou de mim, parando ao meu lado na janela.

- Você não come a dias, Luna.

- Por que não estou com fome.- falei.

- Você precisa comer, a última vez que comeu alguma coisa foi quando- ele parou de falar, e eu sabia o porque.

- Pode dizer, Azriel. A última vez que eu comi foi minutos antes de ver a cabeça da minha mãe ser enviada para mim em uma caixa.- falei. As lembranças daquele dia invadiram minha mente.

O medo e raiva estavam me dominando, mas ainda assim eu tinha esperança. Esperança de encontrar minha mãe e levá-la para casa em segurança.
Hoje completava duas semanas desde o dia em que um dos soldados de Trygon levaram minha mãe. Desde então, não se viu ou ouviu mais nada sobre eles. Nem sinal. A única coisa que todos sabiam era que uma grande luta se aproximava, pelo menos, foi o que Elain disse que viu em uma de suas visões.

Ela disse que me viu no campo de batalha, vestindo um couro quente, nevava e eu estava montada em Balerion. Sangue manchava meu rosto e meus olhos estavam vermelho escarlate. Segundo ela, eu parecia uma Deusa da própria Morte. Desde então, ela me evitava ainda mais. E todos estavam apreensivos com o que aquilo poderia significar.

Eu tinha acabado de almoçar quando Mor entra em disparada na Casa. Todos que estavam presentes na sala olharam para ela, alarmados.
Ela segurava uma caixa em mãos, e seu olhar estava direcionado para mim. Uma mistura de tristeza, pena e talvez, raiva?
Senti minha respiração falhar quando farejei e senti o cheiro de minha mãe vindo da caixa pequena nas mãos de Morrigan, junto com cheiro de sangue. Em segundos, Azriel estava ao meu lado.

- O que é isso?- perguntei, fitando a fêmea que estava na minha frente. Minha voz saiu embargada. Eu já estava pronta para chorar, pensar em ter um pedaço da minha mãe ali, mesmo que apenas um dedo, me cortava o coração.

- Luna...Eu....Eu sinto muito.- falou Morrigan. Suas voz estava trêmula. Seus olhos cheios de pena em minha direção.

Quando ela disse isso o pior passou por minha mente. Avancei rapidamente em sua direção, abrindo a tampa da caixa em suas mãos.

Senti todo o ar do meu corpo se esvair.

Minhas pernas fraquejaram e só não fui ao chão, porque Azriel estava ali, me segurando. As lágrimas caiam como uma cascata por meu rosto.

Não.....

Dentro da caixa, estava a cabeça de minha mãe. Seus olhos que antes me olhavam cheios de ternura e amor, agora estavam apagados. Sem vida.

- Eu não estou com fome, Az.- falei, voltando das lembranças de um dos piores dias da minha vida, que ocorreu semana passada.

Vi quando seus ombros caíram. Azriel tentava me fazer comer desde aquele dia. Ele, Cassian e Nestha tentavam me tirar do quarto ou até mesmo, me fazer expressar alguma emoção. Mas eu não conseguia. Desde aquele dia eu só ficava no quarto, não sentia vontade de comer, nem de sair ou de ver alguém. Me sentia vazia. Até mesmo aquele poder que estava sempre gritando dentro de mim, agora estava quieto, como se em reconhecimento do que eu perdi.

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