Capítulo 6: CONVERSAS ESTRANHAS ME PERSEGUEM

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- Acho que você perdeu alguma coisa...- falei fazendo cena de preocupada. 

-O que??? -perguntou ele preocupado.

Ítalo arqueou as sobrancelhas e girou a cabeça para procurar o nada ao seu redor.

-O JUÍZO!!!  SE TOCA!!!- falei aborrecida ainda olhando para minhas seis maçãs.

Ele abriu um sorrisinho maroto, como quem não levou para o melhor lado da frase.

Idiota! Revirei os olhos...esse garoto me irritava em um nível subatômico.

-Por que as maçãs?- gesticulou ele, mudando de assunto.

- Para alimentar a hidra. -Justifiquei.

-Hidra de Lerna?-perguntou ele interessado- Para cada cabeça que você ousar cortar nasce duas no lugar... Hércules matou uma quando realizou os dose trabalhos, porém só conseguiu porque após a decapitação era  colocado fogo nos cotocos.

-Entende de mitologia?

Me surpreendi com a base de conhecimento dele.

-Gosto de tudo que é capaz de se transcrever em páginas.

Pelo tom de voz a frase era bem mais profunda que uma simples resposta esporádica. Achei icônico o fato.  Ítalo até então me parecia daqueles caras provocadores que se achavam demais pelo pouco que faziam. Mas saber que ele gostava de ler me pareceu atípico.

Quer dizer, quando se olha o estereotipo de pessoas que gostam de literatura eu ao menos imaginava um cara nerd de óculos e antissocial, Ítalo me parecia o oposto, um badboy com sua jaqueta jeans que combinava com a calça preta e o all star azul, seus cabelos pretos eram tão rebeldes quanto os olhos verdes de gato arisco que tinha. Na lateral do corte havia alguns desenhos  em zigue-zague que devia dar trabalho ao cabelereiro.
Ele tinha muito mais panca de cara de pau desordeiro do que estudioso de Homero.

-Não entendi a parte das maçãs.- confessou ele pegando um dos frutos mais maduros e vermelhos que tinha da minha mesa.

Contei a ele sobre o que era meu desafio. Ele era um bom ouvinte. Não me interrompeu e cheguei a conclusão de que ele só interrompia Alice para provocar.

- Ainda não entendo o pânico...por que não pega mais maçã? Compra na cantina mais três está tudo certo- disse ele rindo.

-HA HA HA  muito engraçado.

Na verdade essa foi a primeira coisa que tinha passado pela minha cabeça, depois do fato de que eu achava estranho hidras gostarem de maçãs...pelo que sabia monstros mitológicos não tinham um cardápio de frutas em vista.

Sacudi a cabeça jogando pra longe meus pensamentos...

As regras do meu desafio eram bem claras (já tinha consultado com Maria Alice) não se podia simplesmente adicionar mais maçãs e nem ousar entregar de forma desigual...eu estava em um beco sem saída.

Pelo visto a conversa com o "barba rasa" não ia levar a lugar nenhum. Ele continuava a me aborrecer e não estava me ajudando a encontrar uma solução para o meu problema.

-O que tem aí Shakespeare ?- disse apontando para o livro em sua mão.

Ele fez uma cara de nojo inerente, eu sabia que tinha achado um apelido de desgosto da pessoa apenas com a expressão facial que ela transmitia.

- Em primeiro lugar Shakespeare é  mais melequento que traseiro de abelha quando encosta no mel...

Seus olhos de verde passaram a um amarelado ameaçador, senti ele olhar para minha alma. Ítalo arqueou o corpo como se quisesse prestar melhor atenção em sua presa.

O JOGO DO IMPOSSÍVELOnde histórias criam vida. Descubra agora