Capítulo 1: SOU UMA IMBECIL

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Quando me falaram que fazer as disciplinas de ciências exatas é passar um inferno na Terra , eu achei que eles estivessem brincando. Fazer cálculo era um saco, não é nada simples e se estiver simples é porque muito provavelmente sua resposta esta errada.  Sabe eu queria te falar de algo mais atrativo, talvez das minhas possíveis férias nas ilhas canárias... SE NÃO estivéssemos no final do semestre acadêmico... E SE  eu tivesse dinheiro para ir as ilhas canárias, coisa que NÃO TENHO. Meu nome é Manuela, mas pode me chamar de Manu, e esta é a história de quando eu descobri o quanto sou imbecil. Tudo começou no último dia 29...

-Senhorita? - disse o motorista.

-Oi? - Respondi ainda com a cabeça nas nuvens.

-O passaporte...- Ele disse como se a resposta fosse óbvia.

Me desculpei e entreguei a ele o cartão passe, que deixávamos no ônibus para que na volta não fossemos esquecidos (Apesar de quase sempre isso acontecer). Desembarquei do ônibus ainda meio zonza. Olhei a famosa Universidade do  Vale Europeu, uma das melhores de Santa Catarina. Era tudo tão estranhamente familiar, de uma estrutura imponente, de um branco tão presidencial quanto o palácio de Washington DC, era um prédio grande e poderia ser assustador para calouros desavisados. A minha esquerda ao longe vi o jardins dos estudantes, local onde o  verde me prendia. Era de costume em dias de verão, estudantes sentarem as sombras das árvores para tomar um café e trocar ideias lá.

-Não é o seu caso Manu. - Falei a mim mesma. 

Hoje era dia de outra coisa...e não incluía relaxar. Na verdade quanto mais pensava no assunto mais ficava tensa.  Aquele era o dia de conviver com o meu maior medo, por mais que tenha ficado a noite inteira em claro folheando livros, resolvendo exercícios. Estava insegura. Sim, meu professor era ótimo em nos deixar assim...sem certeza de nada.  

Caminhei pelo corretor externo que dava acesso ao bloco das engenharias. Tentando respirar fundo para não surtar.

-É agora ou nunca. 

 ***

Subi as escada em caracol (salvo meus parabéns para aquele que projetou),  sentia como se meu coração fosse errar a batida e sair para fora do peito. A cada passo que dava me sentia mais pesada...o interminável caminho me dava ânsia.

-Eu vou infartar -resmunguei.

-Falando sozinha?

Escutei uma voz ligeiramente familiar atrás de mim, quando me virei vi o autor do comentário. 

-Pois é, acho que isso aqui vai me levar para um manicômio logo, logo. -Sorri para o autor da voz.

Edu riu, como sempre fazia quando eu lhe derramava um comentário sarcástico.  Eu e ele nos conhecemos no inicio do semestre, quando entramos para fazer Relações Internacionais no campus. Ele era incrível, de primeira vista já nos demos bem, era um ótimo conselheiro e ótimo músico, sim ele toca violão. Aliás essa é só uma das habilidade do Eduardo, ele era inteligente e uma das pessoas que mais me carregou nas costas em trabalhos em grupo (desculpa ser um peso morto pra você cara).

-Conseguiu resolver a questão 36? -Ele perguntou enquanto colocava suas mãos no casaco de moletom azul marinho que sempre usava.

-Me surpreende você ter chegado na questão 36...travei na 19. Odeio ele.

-Tá tudo bem Manu. Lembra o que eu te falei ontem...

Ontem tínhamos conversado até 3 horas da manhã sobre tudo que sentíamos. Quero dizer, cálculo era um inferno, as coisas não entravam na minha cabeça.  Edu tentou me ajudar, resolvemos os 10 primeiros exercícios da lista juntos, a gente junto era tão café com leite, digo, eu me sentia tão mais segura com ele indicando meus erros. Era uma pena que não podia carregar um mini Edu gênio na hora da prova...

Entendi o que ele queria me dizer...em um de meus surtos  ao longo de nossa conversa virtual eu soltei  um "acho que sou uma imbecil", "isso nunca vai entrar na minha mente", "deveria ter feito enfermagem como minha vó  falou"... e ele calmamente me repreendeu: "Ah sim...vai por mim...Enfermagem não combina com você."  E disso ele entendia bem, tinha desistido de Enfermagem para cursar Relações, mas as vezes eu achava que a Enfermagem ainda o habitava, pois ele viva me cuidando, principalmente quando eu tinha minhas enxaquecas.  "Manu, você não pode desistir. Você é mais forte que essa disciplina, do que esse professor. Seu sonho de ser diplomata  não esta tão longe assim. Não vou deixar que você desista, se na hora esquecer de algo...olhe pra mim. Vou estar lá... e mesmo assim se algo der errado saiba que você não é uma nota...".

-Eu não sou uma nota- Respondi a ele.

Ele sorriu com um olhar de quem conseguiu arrancar o que queria.

-Vamos - falou.

E assim ele abriu a porta da sala 735, a sala de aplicação da abrangente de cálculo. 

E aí as coisas começam a piorar...













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O JOGO DO IMPOSSÍVELOnde histórias criam vida. Descubra agora