Sabe eu gostaria de dizer a vocês que digeri tudo que tinha acontecido nas últimas horas com eficiência e maturidade, mas a verdade é que eu por dentro estava surtada.
Desci todo o lance de escadas e rampas possíveis para ter acesso ao andar térreo. O domingo de manhã parecia lindo, azul, ensolarado, perfeito para uma viagem...porém o máximo que conseguia ir era para um lugar mais calmo...isso eu iria para lá. Meu refúgio.
***
Thomas como bom estudante de arquitetura viva falando pelos cantos o quanto admirava os prédios da faculdade, mas eu modéstia a parte gostava de um lugar peculiar...gostava de sentar em um banco de madeira com verniz já gasto e ler meus livros sobre econômia, relações internacionais ou talvez um romance aleatório. O jardim dos estudantes era incrível, ele era uma praça arborizada misturada com labirinto de verde, se você não quisesse ser visto podia se esgueiras pelas galerias de arbustos e se esconder da realidade.
Naquela manhã (graças a deus) não tinham estudantes importunas e eu gostava, por que não aguentava mais falar sobre jogo, sobre símbolos, espadas e sobre o incidente com Edu. Eu sinceramente nem tinha superado a noite no mirante com Ítalo.
Atordoada acabei esparrando em um homem que sentava em um dos bancos.
- Opa desculpa!-Falei sem jeito.
O velho com olhar cansado e vestes cinza escuro( talvez um jardineiro ou zelador da área) apenas ignorou e com as mãos fez o gesto para que eu senta-se ao seu lado.
Obedeci confusa, mas não pude negar o convite.
-Escute o canto!-Ele ergueu os dedos para as árvores lá do alto.
No topo de uma nogueira avistei um ponto amarelo, um canarinho a cantar feliz pelo raiar do dia.
-Lindo o canário!- indiquei ainda mais sem jeito pelos rumos que a conversa se fez.
-Não...o mundo está lindo, por isso o pássaro é lindo, ele é o reflexo do dia, mocinha!-Me repreendeu o homem em tom esganiçado.
O seu olhar mostrava uma franqueza genuína, mas a voz me parecia pesada, como se tivesse visto muitas coisas nessa vida e não tivesse gostado do resultado.
-Ah desculpe.
Tudo que eu precisava agora era de um idoso me falando que eu estava errada...já tinha muitas pressões nas minhas costas.
-Apagões acontecem garota-disse ele olhando para o nada- Mas você tem sorte.
-Sorte?
Aquela conversa me causou vertigem, um apagão como o que tinha ocorrido no campus ontem não era sinônimo de sorte. Participar do jogo não era sorte... era puro azar!!!
O velho bateu a poeira das causas se ficou ereto ( o mais ereto possível que um velho corcunda poderia ficar) e disse:
-Sorte sim!!! Você vê aquilo que eles não enxergam, tu és a lâmpada, mocinha!
E assim ele saiu sem me deixar nada a não ser uma pulga atrás da orelha pela frase sem sentido e o canário que loucamente cantava por entre os galhos da nogueira.
Estranho...pela forma que tinha falado parecia que sabia da queda de luz e se trabalhava ali deveria ter ajudado...estranho eu também nunca ter visto alguém como ele nos jardins ou outro ponto da universidade...
"você vê aquilo que eles não enxergam" o que seria aquilo se não uma mensagem pra continuar nessa droga de jogo???
Olhei para árvore que ali compartilhava sua beleza comigo.
-Sabe cara, acho que sorte tem você...pode cantar o dia todo, todos amam sua presença e sua liberdade...
O passarinho assoviou em resposta.
-Lâmpada?...Eu lá tenho dom pra ser Thomas Edson???-abaixei a cabeça- Eu só queria estar de férias e viajar por ai...voar como você voa...
-Tá certo que tenho rosto angelical mas não consigo voar ainda!- Riu uma voz masculina conhecida.
Por um momento pensei que fosse o jardineiro profeta que tivesse voltado para me dar uma bala e contar o que significava suas palavras, todavia do meu lado estava o rapaz dono dos olhos de gato com seu moletom gap verde água e com seus sapatos all star sujos pelo barro que se acumulava na grama.
-Eu estava falando com ele-Apontei para o canário.
-Se quiser voar como ele posso te levar pra dar uma volta de helicóptero qualquer dia- ofereceu humildemente...
...tão humilde como um herdeiro deveria ser.
-Valeu Ítalo, mas não to afim...-falei de forma gentil e triste ao mesmo tempo.
-Qual é? Você saiu do nada!!! Fiquei preocupado! Você não é de abandonar as causas assim-disse ele intrigado enquanto me olhava.
-Éh que é muita coisa pra mim, não estou conseguindo lidar...
Ele coçou a cabeça nervoso.
-Tá tudo bem, eu se tivesse trancado com uma garota como você também não iria resistir....
-QUE??? NÃO ???- Eu ri enquanto segurava suas mãos para que ele parasse. -Eu e Edu não ficamos assim...tão juntos como você imagina!!!
Por um instante senti seu olhar se iluminar e o semi sorriso se fez para complementar sua felicidade genuína.
-Ah...mas por que você ficou assim entao?-questionou-me
Eu sei que falar a verdade para um pessoa aleatória poderia ser perigoso, entretanto eu por algum motivo encontrava honestidade nos olhos do bad boy Romanosvick que se encontrava em minha frente então falei:
-Ele me beijou e eu beijei ele depois.
-Ah...-disse ítalo
De repente seu sorriso se desfez em aborrecimento, o brilho se transformou em opacidade e senti sua gentileza se desfazer a medida que fechava a boca que tinha aberto pela surpresa.
-Bom, vocês que se virem- Guspiu secamente.
-Oi?- Falei sem crer na insensibilidade dele.
-Trate de se recuperar e voltar amanhã pro resultado.
-Espera você esta me dispensando do teste final?
Ítalo virou as costas pra mim e deu três passos calmos a se afastar.
-Na boa, não me importo com sua vida pessoal, só quero terminar esse jogo idiota e sair da aba do meu pai! você já acabou seu turno! Então vaza!
E assim ele saiu sem qualquer empatia ou vontade de me esperar...IDIOTA.
-Tinha que ser Romanosvick!!! FAMILIA RUSSA DE QUINTA CATEGORIA!!!-gritei auto pra que ele ouvisse.
-Na verdade somos de origem polonesa-Retrucou ele calmamente.
-DANE-SE!!! SEU MERD
Mas se ouviu o xingamento não parou para rebater apenas seguiu sem caminho me excluindo de tudo.
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O JOGO DO IMPOSSÍVEL
RomanceAté onde você conseguiria ir para passar em uma disciplina na faculdade? Quando o professor de cálculo de Manu lhe deu a proposta de ter uma segunda chance de passar na disciplina que ela mais odiava, ela não pensou duas vezes. Agora ela e mais 5...