Capítulo 22: EU CONVERSO COM UM VELHO

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Sabe eu gostaria de dizer a  vocês que digeri tudo que tinha acontecido nas últimas horas com eficiência e maturidade, mas a verdade é que eu por dentro estava surtada.

Desci todo o lance de escadas e rampas possíveis para ter acesso ao andar térreo. O domingo de manhã parecia lindo, azul, ensolarado, perfeito para uma viagem...porém o máximo que conseguia ir era  para um lugar mais calmo...isso eu iria para lá. Meu refúgio.


***


Thomas como bom estudante de arquitetura viva falando pelos cantos o quanto admirava os prédios da faculdade, mas eu modéstia a parte gostava de um lugar peculiar...gostava de sentar em um banco de madeira com verniz já gasto e ler meus livros sobre econômia, relações internacionais ou talvez um romance aleatório. O jardim dos estudantes era incrível, ele era uma praça arborizada misturada com labirinto de verde, se você não quisesse ser visto podia se esgueiras pelas galerias de arbustos e se esconder da realidade.

Naquela manhã (graças a deus) não tinham estudantes importunas e eu gostava, por que não aguentava mais falar sobre jogo, sobre símbolos, espadas e sobre o incidente com Edu. Eu sinceramente nem tinha superado a noite no mirante com Ítalo.

Atordoada acabei esparrando em um homem que sentava em um dos bancos.

- Opa desculpa!-Falei sem jeito.

O velho com olhar cansado e vestes cinza escuro( talvez um jardineiro ou zelador da área) apenas  ignorou  e com as mãos fez o gesto para que eu senta-se ao seu lado.

Obedeci confusa, mas não pude negar o convite.

-Escute o canto!-Ele ergueu os dedos para as árvores lá do alto.

No topo de uma nogueira avistei um ponto amarelo, um canarinho a cantar feliz pelo raiar do dia.

-Lindo o canário!- indiquei ainda mais sem jeito pelos rumos que a conversa se fez.

-Não...o mundo está lindo, por isso o pássaro é lindo, ele é o reflexo do dia, mocinha!-Me repreendeu o homem em tom esganiçado.

O seu olhar mostrava uma franqueza genuína, mas a voz me parecia  pesada, como se tivesse visto muitas coisas nessa vida e não tivesse gostado do resultado.

-Ah desculpe.

Tudo que eu precisava agora era de um idoso me falando que eu estava errada...já tinha muitas pressões nas minhas costas.

-Apagões acontecem garota-disse ele olhando para o nada- Mas você tem sorte.

-Sorte?

Aquela conversa me causou vertigem, um apagão como o que tinha ocorrido no campus ontem não era sinônimo de sorte. Participar do jogo não era sorte... era puro azar!!!

O velho bateu a poeira das causas se ficou ereto ( o mais ereto possível que um velho corcunda poderia ficar) e disse:

-Sorte sim!!! Você vê aquilo que eles não enxergam, tu és a lâmpada, mocinha!

E assim ele saiu sem me deixar  nada a não ser uma pulga atrás da orelha pela frase sem sentido e o canário que  loucamente cantava por entre os galhos da nogueira.

Estranho...pela forma que tinha falado parecia que sabia da queda de luz  e se trabalhava ali deveria ter ajudado...estranho eu também nunca ter visto alguém como ele nos jardins ou outro ponto da universidade...

"você vê aquilo que eles não enxergam" o que seria aquilo se não uma mensagem pra continuar nessa droga de jogo???

Olhei para árvore que ali compartilhava sua beleza comigo.

-Sabe cara, acho que sorte tem você...pode cantar o dia todo, todos amam sua presença e sua liberdade...

O passarinho assoviou em resposta.

-Lâmpada?...Eu lá tenho dom pra ser Thomas Edson???-abaixei a cabeça- Eu só queria estar de férias e viajar por ai...voar como você voa...

-Tá certo que tenho rosto angelical mas não consigo voar ainda!- Riu uma voz masculina conhecida.

Por um momento pensei que fosse o jardineiro profeta que tivesse voltado para me dar uma bala e contar o que significava suas palavras, todavia do meu lado estava o rapaz dono dos olhos de gato com seu moletom gap verde água e com seus sapatos all star sujos pelo barro que se acumulava na grama.

-Eu estava falando com ele-Apontei para o canário.

-Se quiser voar como ele posso te levar pra dar uma volta de helicóptero qualquer dia- ofereceu humildemente...

...tão humilde como um herdeiro deveria ser.

-Valeu Ítalo, mas não to afim...-falei de forma gentil e triste ao mesmo tempo.

-Qual é? Você saiu do nada!!! Fiquei preocupado! Você não é de abandonar as causas assim-disse ele intrigado enquanto me olhava.

-Éh que é muita coisa pra mim, não estou conseguindo lidar...

Ele coçou a cabeça nervoso.

-Tá tudo bem, eu se tivesse trancado com uma garota como você também não iria resistir....

-QUE??? NÃO ???- Eu ri enquanto segurava suas mãos para que ele parasse. -Eu e Edu não ficamos assim...tão juntos como você imagina!!!

Por um instante senti seu olhar se iluminar e o semi sorriso se fez para complementar sua felicidade genuína.

-Ah...mas por que você ficou assim entao?-questionou-me

Eu sei que falar a verdade para um pessoa aleatória poderia ser perigoso, entretanto eu por algum motivo encontrava honestidade nos olhos do bad boy Romanosvick  que se encontrava em minha frente então falei:

-Ele me beijou e eu beijei ele depois.

-Ah...-disse ítalo

De repente seu sorriso se desfez em aborrecimento, o brilho se transformou em opacidade e senti sua gentileza se desfazer a medida que fechava a boca que tinha aberto pela surpresa.

-Bom, vocês que se virem- Guspiu secamente.

-Oi?- Falei sem crer na insensibilidade dele.

-Trate de se recuperar e voltar amanhã pro resultado.

-Espera você esta me dispensando do teste final?

Ítalo virou as costas pra mim e deu três passos calmos a se afastar.

-Na boa, não me importo com sua vida pessoal, só quero terminar esse jogo idiota e sair da aba do meu pai! você já acabou seu turno! Então vaza!

E assim ele saiu sem qualquer empatia ou vontade de me esperar...IDIOTA.

-Tinha que ser  Romanosvick!!! FAMILIA RUSSA DE QUINTA CATEGORIA!!!-gritei auto pra que ele ouvisse.

-Na verdade somos de origem polonesa-Retrucou ele calmamente.

-DANE-SE!!! SEU MERD

Mas se ouviu o xingamento não parou para rebater apenas seguiu sem caminho me excluindo de tudo.



O JOGO DO IMPOSSÍVELOnde histórias criam vida. Descubra agora