Bufa sentindo a impaciência me acertar com um soco.
Eu estava aflito, e não compreendia o porquê. Ella estava bem, perfeitamente segura ao meu lado.
Por que tanta inquietação...?
Eu não era tão impaciente assim. Gostava de agir sutilmente, para que eu não fosse impulsivo e fizesse alguma merda ao cogitar o pior.
Eu tinha controle, mas trabalhei para conquista-lo. Eu não gostava de agir sem pensar em inúmeras possibilidades, não foi à toa que matei meu pai pelo impulso, não que eu me arrependesse disso.
Eu estava sempre pensando em Ella, era a minha rotina tê-lá em mente, mas agora pensar nela parecia doer.
Isso me deixava furioso.
— Que porra. — Exaspero, e ouço baterem na porta. — Entre!
Esfrego fortemente a minha nuca sentindo as veias em meu pescoço pulsar.
— Sr.LaChance, desculpe-me incomodar. — Minha secretária atravessa a porta em desespero. — Senhorita Ella está ao telefone, parece aflita.
Mas o que...?
— Encaminhe a linha rapidamente! — Ordeno arrogante, e a mesma corre para fora da minha sala.
Eu sabia que tinha algo errado, eu sentia isso.
Apoio o telefone fixo em meu ouvido, e bato o meu dedo indicador no batente de minha mesa querendo escutar rapidamente a voz de Ella.
— Ett..?
Ouço o doce de sua voz, e noto o seu pavor em um sussurro. Parecia estar chorando.
— Oi, minha pequena. — Falo calmo, tentando conforta-la para que me conte o problema.
— Ett... por favor... — Soluça, e sinto o meu coração se quebrar por vê-la frágil novamente.
— Vamos, querida. — Esfrego o meu rosto. — Me conte o que aconteceu, que eu vou até você, ok?
— Não... palhaço. Tem palhaço lá. — Soluça fortemente, e noto sua dificuldade em respirar.
Ella havia um pavor por palhaços, com motivos fodido.
Aos 10 anos de idade, Ella foi presa em um quarto escuro, contendo apenas uma televisão. E nela rodava um vídeo com 3 horas, que se repetia sempre que acabava. Ella ficou longas horas trancada naquele pequeno projeto de inferno, se contorcendo no gélido do chão com as imagens de um palhaço se mutilando, enquanto repetia inúmeras vezes que Ella era a culpada.
E naquele jantar quando a conheci, seus pais contaram esse episódio como se fosse uma grande piada.
Eu quis matá-los. Me senti ser consumido pela raiva, e quis cravar todas as minhas lâminas no rosto podre de seus pais.
— Me diz aonde você está, que eu vou até você, querida.
Eu mataria quem tivera tentado reviver o seu trauma daquela maneira.
— Casa da Clarinha. — Sussurra, e noto a mesma fungar. — Vem logo...
— Eu já chego aí, pequena.
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Abraço apertadamente o seu corpo gélido, sentindo a mesma se amolecer cada vez mais em meus braços.
Não fazia nem alguns minutos que eu havia chegado na casa de Clara. E eu a encontrei no chão, se balançando em aflição.
Ter encontrado-a daquela maneira havia me quebrado em mil cacos. Eu odiava vê-la tão vulnerável e mercê do seu passado.
Clara não havia se pronunciado, apenas se retirou e me deixou a sós com Ella em meus braços.
Eu não conseguia proferir palavras alguma que não fosse as de conforto. Meu peito estava apertado, como se fosse pular para fora.
Eu temia pela minha garotinha.
Eu tinha minha mão em suas costas, acariciava tentando lhe passar conforto. Mas ela apenas tremia, não era pelo frio, ela medo.
— Vai ficar tudo bem, minha pequena.
Eu queria e precisava da verdade. Eu cometeria uma chacina por aquilo. Mataria quem tivera tentado fazer algum mal para ela.
Eu não poderia, nem queria força-la a me dizer algo sobre aquilo agora. Eu só queria que ela ficasse bem.
Manter a calma nesta situação era quase impossível, mas precisava fazer isso por ela.
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Com amor, Ettore
RomanceElla é uma moça simples. Atenciosa e um tanto tímida. Sua ingenuidade fazia a realidade ser menos dura, mas nada apagava o sombrio de sua vida. De seus dias mórbidos, e da solidão que a mesma sempre esteve, mas que jamais foi capaz de se acomodar. E...