Capítulo 13

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— Céus, que saudade!

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— Céus, que saudade!

Solto um gemido de apreciação ao sentir o gosto misturado da massa salgada com o recheio adocicado da calda de morango.

— Ficou divino. — Clara sorri convencida.

— Não vou discordar, fizemos um ótimo trabalho. — Comenta levando o garfo contendo um pedaço de torta até os lábios.

Sorrio ao terminar todo o conteúdo do prato, e levo minha mão até o estômago sentindo-o cheio.

— Estou mais do que satisfeita. — Comento encarando Clarinha que se levanta com o prato nas mãos. — Pode deixar que eu lavo toda a louça. — Me levanto, mas a mesma me encara de maneira irritada.

— Negativo. Minha casa, minhas regras. — Suspiro. — Fica na sala e me espere. Vamos assistir novela. — Ordena.

— Me deixe arrumar a mesa, pelo menos? — Indago não deixando espaço para protestos. — Falo já ajeitando o pano quadriculado da sua pequena mesa.

Clara morava só, se divorciou há alguns bons anos, mas nunca se incomodou tanto com a solidão, segundo ela, ela fora o suficiente para ser feliz em sua própria companhia.

Era admirável.

— Obrigada, senhorita teimosia. — Bate o indicador no meu nariz e sorrio pegando em sua mão.

— A senhora pode me explicar o ocorrido da novela para eu não me perder? — Me sento no chão coberto pelo tapete felpudo.

— Não será necessário, querida. — Fala pegando o controle da mesinha. — Essa novela é nova, começaremos juntas. — Sorrio.

— Então tá.

— Sai do chão, mulher! — Revira os olhos e bate sua mão enrugadinha em seu colo.

Meio sem jeito, caminho até o sofá e encosto a minha cabeça em seu colo, sentindo a sua mãozinha entrar em contato com o meu couro cabeludo.

Pisco algumas vezes sentindo os meus olhos pesarem, e me entrego ao cansaço.

Sinto o meu rosto ser acariciado delicadamente, ato que me fez sorri fraco sem mesmo abrir os olhos.

— Acorde, querida. — Clara me desperta. — Preparei nosso café.

Sento em seu sofá ainda com os tapados com a minha mão, sabendo que a claridade me incomodaria.

Aos poucos vou me despertando, até notar a presença de Clarinha que me aguardava com paciência.

— Acordou? — Me pergunta de maneira doce, e concordo com a cabeça levando minha mão até os lábios quando um bocejo ameaça sair.

— Bom dia, Clarinha. — Cumprimento me sentindo mais lúcida. E com sua mão estendida, pego-a recendo ajuda para me levantar.

— Bom dia, dorminhoca. — Sorrio com o apelido, e me escoro na mesa esfregando os meus olhos. — Está com dor, Ella? — Indaga preocupada, e franzo o cenho negando com a cabeça. — Ainda bem, não quis acordar você. — Me ajuda a se sentar e agradeço com um sorriso. — Choveu à noite, você estava confortável acomodada nas almofadas. — Comenta rindo.

— Espero não ter incomodado a senhora. — Pisco algumas vezes é a mesma solta um estralo com a língua. O famoso "chupa bala"

— Não seja boba, Ella. — Me repreende e me estende um prato com a torta. — Separei mais dois pedaços para que você leve para sua casa. Agora se alimente, está muito magrinha. — Sorrio e sigo sua ordem.

— Espero não ter incomodado, Clarinha. — Pisco algumas vezes e a mesma solta um estralo com a língua

Essa torta estava definitivamente divina.

Observo Clara se movimentar pela cozinha, e admiro a mesma pela sua agitação logo pela manhã. Era raro vê-la triste ou irritada.

— A senhora ficará na cafeteria hoje? — Pergunto vendo a mesma se juntar à mim na mesa.

— Claro. — Sorri tomando um gole do seu café. — Climas gelados são os melhores para se oferecer boas xícaras de café, sim? — Concordo. Ela tinha razão.

— Já me acostumei com a ausência do sol. — Confesso. — Frio em Londres é costumeiro. — Gargalha e sorrio confortável.

— Você tem um ponto.

— Na próxima vez podemos testar um sabor diferente de torta.

— Ideia perfeita. Que tal abacaxi? — Jogo no ar.

— Abacaxi está perfeito. — Sorri com o rosto apoiado nas mãos.

O movimento está quase morto, e isso era preocupante. Geralmente no inverno, a cafeteria se enchia.

E isso indicava que Clara fecharia mais cedo, como tem sido constantemente.

— Ella — Chama minha atenção e encaro o seu rosto. — Você não cursa uma faculdade? — Indagada cuidado e meus ombros caem.

Esse assunto era um pouco desconfortável para mim, mas eu não havia motivos para esconder isso dela.

Sempre sonhei com a faculdade de letras, até pensei em abrir uma matrícula, mas eu não ganhava o suficiente para isso. E minha fobia social me impediria isso.

— Já sim. — Respondo sua pergunta, e suspiro.

— E então?

Meu ensino médio era incompleto, não tive a oportunidade de nem mesmo completar o fundamental. Quando completei 15 anos, meus pais me tiraram do colégio sem mais e nem menos. O porquê eu nunca soube, e não ousei protestar.

No começo eles contrataram uma professora particular. Mas depois de um tempo, a professora foi ficando cada vez mais ausente, nem pude notar quando a mesma já não me visitava mais.

— Eu deixei essa decisão para quando eu estivesse mais estável. — Desconverso e ela entende que eu não queria falar sobre aquilo.

— Tudo bem, querida.

Sorrio fraco me sentindo mais aliviada por aquela conversa ter chegado ao fim.

— Você já pode ir, Ella. — Encaro-a— Não se esqueça do pote, deixei no frigobar.

— Não, eu vou ficar e ajudar a senhora. — Ela bufa.

— Isso é uma ordem, mocinha. Maggie está por aqui, e pode me ajudar. Vá para casa, e aproveite sua folga. — Suspiro derrotada, e concordo caminhando até sala com os armário.

— Clarinha, a senhora tem certeza? Eu posso ficar e aju... — Sou cortada.

— Coloque seu casaco, e ande rápido para não pegar a chuva. — Concordo suspirando.

— Bom descanso, Clarinha. — Beijo o seu rosto e a mesma sorri. — Obrigada pelo o dia de ontem e pela torta deliciosa.

— Eu quem agradeço pela sua companhia agradável, Ella. — Beija minha testa. — Agora vá!

Gargalho baixinho caminhando para o lado de fora, e dou início a minha curta caminhada em direção ao prédio onde eu morava.

O trajeto foi rápido, meu corpo já estava mais aquecido pelo exercício.

Destranco minha porta e caminho preguiçosamente até o meu sofá, me jogando no mesmo.

Ettore estava em meus pensamentos, a saudades já não era tão amarga, mas a distração fazia a saudade amenizar.

— Ella?

Com amor, EttoreOnde histórias criam vida. Descubra agora