Aliso o rostinho de Ella ainda inconsciente.
Estávamos em um hospital, e já fazia dias desde o coma de Ella. O coma era induzido, então logo ela acordaria.
Eu estava angustiado por estar tanto tempo sem ouvir a sua voz, ou de senti-la em meus braços num carinho insaciável.
Eu estava sentindo tanto a sua falta.
— Volte para mim, Ella. — Beijo a palma de suas mãos, e sinto um lágrima escorrer do meu rosto.
Eu pouco me importava de estar chorando, ou de estar demonstrando minha vulnerabilidade para outras pessoas. Não agora.
Analiso o seu corpo notando a mudança em suas características. Corpo mais magro, sua face mais pálida e a pele mais gélida.
Solto um longo suspiro, e me aconchego na poltrona ao lado da maca, onde eu havia ficado durante todos os dias desde sua internação.
Deito minha cabeça em suas pernas e suspiro antes de levar a minha mão para seu seio coberto pelo roupão hospitalar.
Eu queria mamar.
Eu ainda não havia dado um jeito em Jonathan, eu não estava tão preocupado com isso, apesar de ansiar pela tortura.
Eu farei pagá-lo cruelmente pelo o que fez Ella passar, e eu me aproveitaria da sua covardia para encontrar seus pais.
Eu iria até o inferno, se fosse necessário.
Meu corpo estava cansado, meus olhos cada vez mais cansados, mas eu me recusava a dormir. Eu temia pela segurança dela, mas era inegável o sono que ela me causava.
O conforto de sua presença.
Levo minha atenção para ela, e acaricio o seu rostinho tentando me distrair do sono que me consumia cada vez mais.
E sem que eu consiga mais resistir, adormeço.
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Abro lentamente os meus ao sentir pontadas fortes em minha cabeça. Estava doendo absurdamente pela minha falta de descanso descente.
Já era tarde da noite, o que indicava que eu havia pegado no sono por mais tempo do que eu gostaria. Me levanto do poltrona responsável por me destroçar por completo, e me certifico do conforto de Ella.
Ella não estava se alimentando por conta do coma, tão pouco ingerindo algum tipo de líquido, e isso me preocupava ao extremo.
Analiso cada mínimo traço de seu rosto, não deixando que nenhum passe despercebido, e isso me faz notar a posição de sua cabeça, desta vez diferente.
Entrelaço nossos dedos, e sinto a minha mão ser apertada, ato que me fez encarar o seu rosto de imediato.
— Ella? — Sussurro na esperança dela ter finalmente voltado para mim.
O novamente sinto a minha mão ser apertada, e desta vez de maneira mais forte. E sem que eu esteja esperando, seu rosto e virado em minha direção.
— Oi.
Levo minha mão com cuidado até a máscara de oxigênio que tinha em seu rosto, e a tiro de sua face permitindo que ela fale com mais facilidade.
— Oi, querida. — Suspiro aliviado, e beijo sua testa. — Como está se sentindo, hum? — Indago preocupado. — Alguma dor?
— Meu corpo está dolorido. — Sussurra com a voz arrastada, e fecho os meus olhos fortemente.
Eu sentia tanta impotência.
— Eu sinto muito que tenha passado por isso, Ella. — Sussurro angustiado, e sinto meus olhos marejarem.
— Está chorando? — Sussurra parecendo surpresa, e logo sinto sua mãozinha entrar em contato com o meu rosto. — Não chora, anjinho. — Nego com a cabeça.
— Senti tanto medo de perder você. — Confesso, e me deito confortavelmente em seu corpo, de uma maneira que não a machuque. — Tanto medo.
— Está tudo bem agora, Ett. — Acaricia meu rosto. — Eu estou aqui com você.
Nossa conversa estava sendo a base de sussurros, o suficiente para que estivéssemos em nossa própria bolha.
Senti saudades.
— Pode me dar um pouco de água? — Pede atenciosa, e concordo sem protestar.
Me desvencilhando de seus braços, caminho até o frigobar sentindo-me ser acompanhado com os olhos por ela.
Aproveito para tirar de lá o recipiente de isopor com a comida hospitalar, que eu tinha mais do que certeza estar mau temperada, mas ela precisava.
Me sento cuidadosamente ao seu lado, e aproveito para tirar sua franja que cobria sua testa e amarro seu cabelo em um rabo de cavalo, a deixando mais confortável.
— Obrigada, querido. — Sorrio para ela.
— Abra a boca. — Ordeno levando um colher cheia de alimento, e não demora até que ela ingira todo o conteúdo.
Ao contrário do que eu imaginei, ela não reclamou da comida. Comia de maneira apressada, e parecia estar saciando sua fome, o que de certa forma me deixava menos preocupado.
Eu deseja levá-la logo embora daqui. Queria levá-la para nossa casa, longe o bastante de qualquer perigo.
Desta vez comigo.
E eu precisava tirar um tempo para pensar em toda merda que aconteceu comigo. Todo o caos e mistura de sentimentos me deixaram mais burro.
Menos cruel.
— Eu quero ir embora. — Comenta parecendo ter lido meus pensamentos.
— Logo iremos, pequena. Para a nossa casa. — Sinto o meu rosto ser acariciado, e levo mais um copo d'água até os seus lábios.
Ella sorri docemente para mim, e eu poderia jurar aos demônios que aquele pudera ser o meu paraíso. Minha perdição.
— Me ajude a levantar este roupão. — Pede mandona, e arqueio uma sobrancelha.
Confuso com seu pedido, levo minha mão até a barra do seu roupão hospitalar, e o levanto com a sua ajuda.
— O que quer fazer? — Indago fingindo falsa confusão. Eu não era capaz de negar aquilo.
— Preciso alimentar meu bebê.— Sorri calorosa, e reviro os olhos.
Quem eu queria enganar, afinal? Eu era o seu bebê mesmo, e pouco me importava a falsa reputação que eu insistia em zelar.
Foda-se.
— Você está muito fraquinha, querida. — Sussurro manhoso. Eu queria pra caralho.
— Vem aqui. — Me puxa para deitar na altura dos seus seios. — Mama caladinho. — Enfia um mamilo na minha boca, e sinto-a ser totalmente preenchida pelo gosto doce.
Fecho os meus olhos aproveitando mais daquele momento, e sentindo o cansaço me acertar feito um soco.
Ella sabia como me causar sono.
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Com amor, Ettore
Roman d'amourElla é uma moça simples. Atenciosa e um tanto tímida. Sua ingenuidade fazia a realidade ser menos dura, mas nada apagava o sombrio de sua vida. De seus dias mórbidos, e da solidão que a mesma sempre esteve, mas que jamais foi capaz de se acomodar. E...