Droga.
Intensifico minha sucção tentando de alguma forma me confortar com o objeto que eu tinha nos lábios. Meu corpo estava trêmulo, e o nó que eu tinha na garganta, se desfez fazendo as lágrimas caírem de maneira grossa.
Minha respiração estava pesada, e eu me abraçava fortemente, tentando de alguma forma me passar algum tipo de proteção.
Era tão monótono aquela solidão me causar diversas noites terrivelmente dolorosas.
Aquele sentimento de solidão que me acompanha desde que me reconheço por gente. A falta de motivos para estar viva ou ter uma vida minimamente tranquila soava como uma grande piada.
Eu moro em um apartamento pequeno, o suficiente para me proporcionar o conforto que nunca tive.
E eu estava muito grata.
Apesar de todas as dores do passado, e as cicatrizes inflamadas pela dor constante, eu arriscava dizer que estava mais aliviada pela vida que eu tinha agora.
Antes de eu fugir para Londres, morei em uma espécie de cativeiro. Eu tinha acabado de completar 16 anos quando tomei essa decisão, e não me arrependo em absolutamente nada. Arrisquei a minha vida para conseguir conseguir sobreviver longe da minha família psicopata, e agradeço aos céus por nunca ter sido procurada por eles.
Eu não negava aquela saudade de ter uma família amorosa, e o cuidado que eles poderiam ter tido comigo. Sem que eu pudera ter a chance de impedir tanta dor, me acomodei com aquilo, e tive que seguir em frente. Estava esgotada, não tive amigos nem uma família, mas agora eu tinha a chance de viver minha vida sem aquele controle.
Eu devia tudo para Clara. A senhora quem me ajudou desde o começo da minha chegada em Londres, encontrando-me desolada, com frio e fome. Me proporcionou um recomeço, e eu seria eternamente grata.
Ela me ajuda sempre. Me arranjou um emprego em sua lanchonete, que trabalho desde então.
Eu realmente lhe devia uma vida por ter me acolhido quando eu mais precisei, me dado sustento e me abraçado quando precisei desmoronar. Mas com o tempo eu comecei a sentir culpa por importunar Clarinha com os meus problema.
Comecei a sentir cansaço por insistir tanto da minha vida desastrosa que eu não pudera ter a opção de mudar, estava presa no passado, e talvez não fosse possível me tirar de lá.
Levo minha atenção para a janela fechada ouvindo o som da chuva que decaía fortemente pelo vidro, e eu gostava desse poder. Esse poder de conseguir observar e sentir a chuva.
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Com amor, Ettore
Storie d'amoreElla é uma moça simples. Atenciosa e um tanto tímida. Sua ingenuidade fazia a realidade ser menos dura, mas nada apagava o sombrio de sua vida. De seus dias mórbidos, e da solidão que a mesma sempre esteve, mas que jamais foi capaz de se acomodar. E...