Respiro fundo sentindo as mãos quentes de Ettore em meu rosto. Ele acariciava de maneira calma, ato que me causava sono.
— Você está com sono, Ella. Vamos para casa, sim? — O olho indignada.
Estávamos parado no carro em frente a cafeteria esperando dona Clara chegar para abrir o estabelecimento.
— Mas é claro que eu estou com sono, você sabe exatamente como causar isso. — Ele sorri convencido.
E um longo suspiro escapa dos seus lábios, e rapidamente cola nossas boca em um beijo demorado.
— Só quero proteger você. — Sua mandíbula trava, demonstrando estar irritado.
— Está bravo comigo? — Entrelaço nossas mãos, e ele me encara rapidamente.
— Jamais, querida. — Suspira pesado. — Me prometa ligar se precisar de mim, mesmo que seja para algo minimamente pequeno? — Me encara esperando por uma resposta, e sorrio puxando-o para abraçar.
Ettore devolve o abraço fortemente, e me puxa mais para sim com o desejo de cessar qualquer vestígio de espaço.
— Promete, baby?
— Prometo. Prometo. Prometo. — Beijo sua bochecha, e ele revira os olhos. Observo Ella acenar para nós, enquanto sorria abertamente. — Preciso ir. — Digo, e ele grunhi me apertando mais em seus braços.
— Está bem, Ella. — Suspiro, e ele se afasta apoiando seus braços no volante.
Ettore parecia perdido, seus olhos demonstravam isso com facilidade. Seu corpo estava rígido, sua face fechada e seus lábios reprimindo.
— Está furioso...
— Não estou. — Diz ríspido. — Você tem uma vida, e eu quero cuidar dela, nunca lhe privaria das coisas que deseja fazer, mas eu só quero te proteger. — Ingiro sua confissão. — Não sinto raiva, sinto medo. Medo de perder você.
Medo de me perder...
— Não vai, neném. — Seguro seu rosto, e beijo sua bochecha. — Estou sempre aqui, e você está sempre na minha cola. — Tento brincar, e funciona, já que ele sorri ladino.
— Por favor, me ligue para qualquer coisa. — Ordena, e concordo. — Não deixe de fazer isso.
— Combinado, senhor mandão.
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Levo uma garfada da minha comida preparada especialmente por ele, e não me contenho em apreciar, estava divino.
— Ella? — Sorrio ao reconhecer a voz logo atrás de mim.
— Oi, Clarinha. — Cumprimento ainda de costas, terminando todo o conteúdo da vasilha com comida.
— Se alimentou bem? — Indaga se juntando ao meu lado na pequena cadeira.
— Muito bem. — Sorrio com sua gentileza. — Só comerei os morangos, e já volto para o expediente.
— Não tenha pressa, menina. — Comenta rindo, e sorrio envergonhada.
Clara tinha seu rosto apoiado nas mãos. Sua face estava demonstrava tristeza, mesmo que tivera brincado comigo para descontrair.
Parecia ter algo errado.
— Ele cuida tão bem de você, querida. — Sorri fraco, e concordo sorrindo.
— Ele é maravilhoso comigo.
— Eu vejo que sim. — E novamente sorri fraco. — Preciso conversar com você. — Suspira pesado, e lhe ofereço um morango.
— Quando quiser. — Sorrio reconfortante, vendo a mesma mastigar a fruta.
Clara me encarava um tanto apreensiva, isso só me deixava ainda mais agoniada.
— Eu vou fechar a cafeteria.
O morango que eu tinha nas mãos, cai de volta para o pode. Eu estava paralisada com sua confissão, e com um gelido estranho instalado na minha espinha.
— Como...? Por que? — Disparo ambas perguntas, e sinto Clara pegar em minha mão.
— É um assunto delicado. — Suspira pesado. — Perdoe-me, querida. — Sua voz estava carregada em culpa.
Eu não sabia como ajudá-la, Clara não parecia querer conversar comigo sobre aquele problema, e eu não queria ser inconveniente.
— Não se preocupe comigo, Clarinha. — Tento conforta-la.
Eu estava mais perdida do que um pobre cego na guerra, mas não era justo deixá-la sentindo culpa por minha causa.
— Não fique aflita sobre outro emprego, pois já lhe encontrei um. — Arregalo os olhos. Mas já..? — Não terá que mexer com alimentos ou contabilidade, e sim com flores.
Eu amava flores.
— A senhora não precisava ter se incomodado com isso. — Sorrio agradecida.
— Eu sei que lugares calmos são os melhores para você. — Sorri, e sinto meu coração se aquecer. — E eu sempre estarei por perto, já que sua chefe é a minha irmã.
— Desde quando a senhora tem uma irmã? — Indago confusa.
— Desde sempre. — Brinca, mas sorrio fraco. — Ela é um pouco dura, mas é boa gente. — Suspira. — Estamos brigadas faz alguns anos. — Seguro sua mão.
Eu estava triste com a notícia de não conseguir mais trabalhar aqui. Eu sentiria falta, havia me acomodado aqui.
— Vou sentir falta de trabalhar com a senhora. — Comento cabisbaixa.
— Eu sei, querida. — Suspira — Eu também, mas será o melhor.
Mas o melhor para o que? Para quem...?
— É dinheiro, Clarinha? — Ela franze o cenho. — A senhora está com problemas financeiros? Se quiser me pagar quando estiver em uma situação melhor, ou até alguns anos depois...
—Ella, ei. — Me interrompe. — Não é nada disso, querida. — Segura minhas mãos. — Não se preocupe, sim? Você vai se adaptar novamente, eu garanto.
Eu me sentia mal com aquela situação. Eu me sentia tão perdida, mas Clara não parecia disposta em me explicar toda aquela situação.
— Vá para casa. — Sorri mínimo. — Apareça na minha casa semana que vem, e busque sua carta de recomendação. — Suspiro triste.
— Tudo bem. — Observo-a se levantar.
— Tome. — Estende um envelope, e a encaro confusa. — Seu pagamento deste mês. — Nego com a cabeça.
— Definitivamente não, Clarinha. — Ela bufa. — Ainda estamos no início do mês.
— Garota teimosa. — Revira seus olhos, e larga o envelope dentro da minha bolsa.
Eu sentiria falta daqui.
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Com amor, Ettore
RomanceElla é uma moça simples. Atenciosa e um tanto tímida. Sua ingenuidade fazia a realidade ser menos dura, mas nada apagava o sombrio de sua vida. De seus dias mórbidos, e da solidão que a mesma sempre esteve, mas que jamais foi capaz de se acomodar. E...