Capítulo 46

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Respiro aliviada ao saber que o estado de Ettore depois de toda aquela tortura, era estável e fora de perigo

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Respiro aliviada ao saber que o estado de Ettore depois de toda aquela tortura, era estável e fora de perigo. Agora estava dormindo pela quantidade de sedativos.

Eu estava ao seu lado na poltrona, enquanto segurava firmemente a sua enfaixada. Eu a acariciava, tentando lhe confortar.

Já faz dois dias desde o ocorrido e me mantive aflita desde então. Heitor veio me visitar em todos os dias pela manhã, não me trouxe alguma notícia de Clara, o que só aumentava minha preocupação e a culpa por ter deixado-a para trás.

Ele também me trazia peças de roupas para que eu pudesse me banhar e trocar quando necessário, junto de sua comida, que eu acabava nem tocando.

Eu só queria estar nos braços dele.

— Ele vai ficar bem, amiga. — Heitor me abraça pelos ombros na tentativa de me confortar.

Eu estava me torturando com as possibilidades inexistentes. Eu nem conseguia pensar no que teria acontecido se eu não tivesse chegado antes.

Fora a confusão sobre tudo o que aconteceu. Clara saber demais, Clarice conhecer meu pai e Rodger ter voltado.

Essa confusão era tão angustiante para mim, e eu precisava que alguém respondesse todas as minhas dúvidas.

— Eu nem sei o que teria acontecido se não tivéssemos chegado naquele momento... — Falo torturada.

— Não fique se remoendo com uma situação inexistente, linda. Ele já estava aqui, se recuperando. — Afaga meus cabelos. — Ele vai voltar para você. — Suspiro. Ele estava certo.

— Nada de Clara? — Indago já cansada de receber a mesma resposta.

— Na verdade, ela está aqui. — Fala indiferente e encaro os seus olhos.

— Por que não me disse antes? — Limpo os vestígios de lágrimas. — Esquece, pode chamá-la, por favor? — Ele suspira e concorda com a cabeça.

Observo o mesmo se afastar, e volto minha atenção para a minha mão sob a de Ettore. Abandono-a ao lado de seu corpo, e esfrego o meu rosto tentando me acordar de todos aqueles sentimentos.

Aliso o rosto do homem loiro desacordado, observando o seu rosto sereno e com o cenho levemente franzido. Típico de Ettore.

— Querida?

Com a minha atenção ainda em Ettore, ouço a voz arrastada de Clara logo atrás de mim.

— Oi, Clara. — Saio da poltrona e encontro a mesma com uma careta. — O que foi?

— Não costuma me chamar assim. — Me encara confusa e suspiro.

— Desculpa, eu só estou um pouco perdida com toda essa situação.  — Confesso me aproximando dela.

Me jogo em seus braços quando ela me recebe pronta para me acolher. Sinto minhas costas ser acariciada por ela sutilmente.

— Como você está? — Pergunta transparecendo preocupação.

— Vou ficar bem. — Dou de ombros, enquanto abaixo minha cabeça.

— Eu sinto muito por ter feito você passar por isso, Ella. — Vejo culpa em seu olhos e pego em suas mãos.

— O pior já passou. — Tento tranquiliza-lá.

— É, o pior já passou. — Suspira cansada.

— Eu preciso de respostas. Respostas que talvez apenas a senhora consiga me dar.

— Está certo. — Sou guiada pela mesma até o sofá de canto.

— Eu quero saber de tudo. — Tento encorajá-la.

— Antes de tudo, Clarice, na realidade é a minha filha.
Ocultamos essa verdade das pessoas próximas, para que não fosse tão óbvio nossa aproximação. Bem, Clarice se envolveu com Rodger há alguns anos atrás, enquanto ainda era casado com Isolde, sua mãe. Eu sempre fui contra ao relacionamento, mas quando notei que Clarice estava abandando aos poucos as substâncias, cogitei que ele poderia estar fazendo-a bem de alguma forma.

Pouco tempo depois, eu percebi que Clarice estava ficando cada vez mais dependente daquele homem, o que só aumentava a minha preocupação. Ela era uma simples amante, não tinha muito o que esperar daquela relação.

Antes que eu pudesse fazer algo para intervir, Clarice engravidou de Rodger e ameaçou fugir com o mesmo para longe, mas isso eu consegui impedir.

Clarice, por incrível que pareça, se animou com a ideia em ser mãe, mas Rodger quando descobriu que teriam um bebê, se recusou a criar aquela criança, e a largou.

Durante toda a gestação, eu cuidei e preservei sua gravidez para que fosse tudo minimamente confortável. Ela estava aos prantos pela ausência de Rodger, mas tinha esperanças que quando ele visse o bebê, pudera mudar de ideia. Eu nunca acreditei de verdade naquilo, mas eu quis ajudá-la na criação daquela criança, acreditando que aquele bebê lhe daria as responsabilidades necessárias.

Mas eu me enganei, quando o bebê nasceu, Rodger o abominou ainda mais, e isso destruiu todas as expectativas de Clarice, fazendo com que ela passasse a odiar a criança também. E quando eu menos esperei, a criança deu como desaparecida, e eu não ousei procurar por aquele bebê.

Eu me culpei amargamente por isso durante anos, por não ter me dado o trabalho de procurar por aquela criança e cuida-la como merecia. Afinal, não tinha culpa de nada do que aqueles dois haviam tido.

Cinco anos depois eu descobri que Clarice havia entregado aquela criança para Rodger, ameaçando que entregaria-o para Isolde caso não ficassem com o bebê. Isolde era de uma família influente, uma mulher má, mas tinha dinheiro, e Rodger era apenas um pé rapado. Mas Isolde era cegamente apaixonada por seu pai, então aquilo virou apenas um detalhe, diferente dele que só estava com ela pelo dinheiro.

Vinte e dois depois eu conheci de verdade aquela criança, agora uma mulher adulta e cheia de traumas. Vivenciou o inferno naquela casa, e eu não fazia ideia.

Eu quis consertar, mas eu falhei, mas eu juro que foi tentando acertar, Ella. Você é essa pobre criança, e eu sinto muito que tenha passado por tudo isso sozinha, sem alguém para te proteger das maldades daquela família.

— Mas o que a senhora está dizendo...? — Indago em choque. Eu tentava a todo custa absorver tudo o que eu acabara de ouvir.

Minha vida inteira foi uma grande mentira, tudo o que eu passei com aquelas pessoas, que pensei ser a minha família, era apenas por ódio.

— Se eu sou filha de Clarice, como a senhora diz, sua filha, então isso quer dizer que você é a minha...

— Sua avó, querida.

Me calo engolindo tudo o que eu acabara de ouvir. Eu estava perdida diante de tantas confissões e não sabia ao certo como reagir a cada coisa.

Lá no fundo, eu sentia que havia algo de errado dentro daquela casa. Eu não sentia que fazia parte dela, e realmente eu não fazia.

Agora tudo fazia sentido para mim. O carinho e o cuidado que Clara sempre teve comigo desde que eu cheguei em Londres. A grande ajuda em conseguir um lugar para que eu pudesse morar, a questão em estar comigo e cuidar de mim.

Clarice e Clara eram a minha real família.

Com amor, EttoreOnde histórias criam vida. Descubra agora