Sinto o incômodo em meus olhos ao abri-los com cuidado. Resmungo baixo ao sentir meus olhos lacrimejar pela luminosidade, que eu deduzi ter estado inconsciente mais do que eu gostaria.
Tento me remexer um pouco, mas sinto uma dor indiferente em meu abdômen enfaixado, junto de um peso desconhecido. Sigo cuidadosamente com o olhar até o local, e a vejo adormecida.
Minha garotinha.
Movo um pouco o meu braço para despertar meus músculos, e puxo mais para mim finalmente me sentindo bem longe de todo aquele caos.
Abraço-a com força. Abraço-a intensamente. Abraço-a com toda a minha saudade de estar em uma genuína paz em seus braços.
Eu me sentia totalmente consumido pela confusão em relação a Ella. Como ela descobriu onde eu estava? Como caralhos ela me encontrou? E como eu nunca me dei o trabalho de me aprofundar sobre o passado de Clara e seu grande interesse com a minha mulher?
De fato, nunca desconfiei daquela mulher, preferi acreditar que ela estava sendo apenas gentil com Ella, e eu não estava totalmente errado. Só nunca parei pra pensar que poderia ser alguém da sua família.
Eu fiquei desacordado por alguns dias, não sei quantos, mas eu escutava e sentia tudo ao redor de mim. Senti e ouvi a presença de Ella em todos os dias em que estive aqui. E não foi diferente na conversa dela com Clara, sua avó materna.
Descobrir que boa parte da vida dela foi uma mentira assim, me deixava irado. Eu queria ter estado consciente ao seu lado naquele momento. Ela precisava de mim, e se manteve forte para estar ao meu lado o tempo todo.
Ella me salvou, de ambas maneiras.
Isso me aquecia, tanto quanto me enfurecia. A vida dela era valiosa demais para se arriscar por uma pessoa como eu.
Desperto dos meus pensamentos quando sinto Ella despertar e se remexer em meu peito, onde dormia alguns segundos atrás.
Fecho rapidamente os meus olhos, e tombo minha cabeça para o lado, voltando minha posição inconsciente. Sinto suas mãos em cada lado do meu rosto, e reprimo um ronrono em apreciação.
— Bom dia, príncipe. — Assim como em todos os dias, ela conversava comigo como se eu estivera ouvindo, e realmente estava, ela só não sabia, e mesmo assim fez isso por mim, e não saiu do meu lado.
Eu era amado.
Sinto um selar de seus lábios em minha testa gentilmente. Ansioso para estar logo em seu aperto, puxo sua cintura para mais perto de mim. Ela salta em um susto, e antes que diga ou reaja, beijo seus lábios.
— Ett...!? — Sussurra contra os meus lábios, tendo sua voz carregada de emoção e saudade. Era mútuo, na mesma intensidade.
— Sim, querida?
Ella me abraça fortemente, enquanto apoia sua cabeça em meu pescoço. Volto a rodear sua cintura, e a puxo para se deitar ao meu lado na maca.
Aspiro o seu cheiro precioso de bebê, e fecho fortemente os meus olhos sendo atingido pela calma. Eu temi, pela segunda vez, de nunca mais voltar para seus braços.
Contudo, Ella estava aqui comigo, e cuidava de mim como eu nunca fui cuidado, era uma sensação desconhecida para mim, mas era perfeita.
E eu devia tudo a ela. Minha doce garotinha. A única pessoa que esteve disposta a me amar, me compreender, me cuidar, me escutar e a me salvar. Salvar a minha alma sombria e impiedosa.
— Obrigado por me salvar... — Colo nossas testas. — Mas nunca mais faça isso! Sua vida é valiosa demais para se arriscar assim por mim, ou por qualquer outra pessoa.
— Eu te amo, e faria qualquer coisa pra te ver bem e seguro. — Sinto meu coração se aquecer, e sorrio emocionado.
— Ella, como descobriu onde eu estava?
— Eu vi a mensagem no seu celular de trabalho. — A encaro desaprovado. — Antes que brigue comigo, eu tinha acabado de acordar de um pesadelo, eu te sentia tenso depois de ter visto aquela mensagem. Acho que o pesadelo me alertou de alguma forma. — Suspira e sorrio fraco.
— Tudo bem, minha pequena. Já passou. — Abraço-a forte, e afago seu cabelo tentando lhe passar conforto.
— Senti tanta falta do seu abraço, Ett. — Intensifica o abraço e beijo sua testa. — Do seu carinho. — Deita no meu peito.
Ficamos assim durante um bom tempo, apreciando a presença um do outro e saciando uma saudade absoluta. Depois de todo aquele caos, finalmente estávamos bem e juntos.
Sinto Ella se remexer abaixo de mim, e num impulso, ela está em cima de mim mexendo em algo na mesa de canto ao lado da maca. Seus seios bateram em meu rosto, e sem esperar pela permissão, abaixo sua blusa e abocanho um dos seus seios.
Sinto o leite morno descer pela minha garganta confortavelmente, saciando minha sede do seu leite que eu não sentia desde que entrei num coma induzido. Eu havia sentido falta pra' caralho. Ronrono ao sentir sua mão acariciar o meu coro cabeludo numa carícia, me deixando mais calmo.
— Está sentindo alguma dor, meu neném? — Indaga preocupada enquanto alisa o meu rosto, se ajeitando ao meu lado, sem desgrudar minha boca do seu seio. Nego frenético, e ela sorri carinhosa. — Não está com fome, querido? Posso pegar algo pra você comer... — Ameaça sair, mas a prendo em meus braços.
— Não! — Aperto seu corpo. — Fica aqui, eu quero meu mamá.
— Ai, céus... — Gargalha baixinho. — Que neném mais manhoso. — Beija meu nariz, e reviro os olhos.
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Com amor, Ettore
RomanceElla é uma moça simples. Atenciosa e um tanto tímida. Sua ingenuidade fazia a realidade ser menos dura, mas nada apagava o sombrio de sua vida. De seus dias mórbidos, e da solidão que a mesma sempre esteve, mas que jamais foi capaz de se acomodar. E...