Tirar vantagem.

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Fallon disse que precisaríamos nos beijar mais vezes para mantermos as aparências. Fallon não está comendo a comida no prato dela, está me observando brincar com a minha. Fallon é a única pessoa nessa mesa reparando que não estou comendo absolutamente nada, mas isso é só porque as minhas mães estão conversando entre si sobre o trabalho. Fallon me encara demais, não tenho certeza se gosto de ser observada por ela depois dela não ter negado que existe outra pessoa ou outras pessoas. Nosso namoro é falso, mas esse nó na garganta se formando só por imaginar ela beijando alguém diz mais a respeito de quem sou do que o que sinto por ela. Eu não sinto nada por Fallon Hastings. Não é ciúmes, sou só eu e meu jeito egoísta e mesquinho de querer o amor e a atenção de todo mundo para mim.

Ela levanta de onde está com o prato de comida dela nas mãos, minhas mães observam Fallon sentar na cadeira ao meu lado e afastar o meu prato de comida de mim. Ela não fala nada, apenas reúne um pouco de comida com o garfo e o traz em minha direção, como se ela se importasse comigo, como se ela realmente desse a mínima se vou dormir de estômago vazio ou não. Olho em seus olhos e me arrependo imediatamente de ter feito isso, porque tenho a sensação de que me afogarei nos seus oceanos e pela primeira vez, estou certa de que me afundar em Fallon não é uma coisa boa. Ela parece usar uma armadura para esconder quem é e nesse momento ela está usando tudo o tem para ser uma boa namorada falsa para que minhas mães não descubram que tudo não passa de uma simples fachada.

É isso que somos, duas farsantes. Duas pessoas que se odeiam e que fingem estarem apaixonadas em prol dos benefícios que ambas terão com isso.

Como o que Fallon me oferece contra a minha vontade, mastigando mais do que o necessário para que as minhas duas responsáveis não se deem conta de que eu não toquei na comida do meu prato.

Minhas mães voltaram a conversar, agora o assunto é o bebê. Mamãe está enjoada com o jantar, ultimamente ela vem sentindo mais enjoos que o normal, quase não consigo conter o riso na garganta quando minha mãe diz para ela que, quando estava grávida de mim, enjoou a cara de mamãe. Os olhos cinzas de mamãe reluzem, ela nunca leva totalmente a sério nada do que a minha mãe diz, pelo contrário, cada alfinetada da minha mãe parece ser uma declaração de amor da qual só as duas entendem.

"Posso comer a comida do meu prato", Fallon fala baixinho, a boca chegando tão próxima ao meu ouvido que sinto o seu hálito quente causar um arrepio na minha nuca. "E do seu prato também, sem que elas percebam."

"Não que seja da sua conta, mas elas não perceberam que eu não toquei na comida."

Fallon levanta o olhar do prato para mim e força um sorriso. "De nada por isso."

Eu preciso respirar fundo, contar até dez mentalmente e forçar um sorriso para não revirar os olhos. Fallon é irritante e convencida, não sei como vou conseguir sobreviver a essa noite com ela grudada em mim o tempo todo. Me ajeito na cadeira, desconfortável pelo seu ar de superioridade e não porque ela puxa a cadeira para mais perto de mim. Ela ainda está com aquele sorriso irritante e vitorioso no rosto, quero arrancar ele dali, do canto da sua boca, dos lábios que minutos atrás me beijaram como se eu fosse tudo o que eles precisassem.

"Está encarando a minha boca", solta, fazendo todo o meu rosto enrubescer de vergonha. Abaixo a cabeça na intenção de que ela não perceba e ela ri. Volto a olhar para ela, de novo volto a encarar a sua boca, os lábios. Fallon está sorrindo. "Se quer me beijar é só dizer, podemos dar uns amassos lá fora antes de eu ir embora."

Fecho a cara, franzido as sobrancelhas como se ela tivesse acabado de me dar a pior ideia do mundo. Não é a pior ideia do mundo, é a melhor ideia do mundo, mas estou chateada com ela, então prefiro fazer de conta que é a pior ideia do mundo.

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora