Uma vingança doentia e egoísta.

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Kenna

Ajoelhada no chão do banheiro e com a cara enfiada dentro da privada, sinto a pressão me lançar um pouco para a frente, me obrigando a colocar mais alguma coisa para fora. Já vomitei três vezes, quando me dou conta que já não tenho mais nada para vomitar, levanto do chão e vou até o espelho. Dizer que estou deplorável seria até elogio; olhos cheios de lágrimas, rosto vermelho, algumas mechas de cabelo grudadas no rosto e pescoço por conta do suor.

A porta do banheiro abre e eu olho para trás, me encolhendo toda quando Eliza entra. Eu não sei dizer se a presença dela é um alívio, mas é bom saber que, se eu quiser desabafar, ela vai me ouvir.

"Ela descobriu, né?", pergunta enquanto lavo o rosto. Fico parada em frente ao espelho me sentindo burra e patética, e pelo que vejo em seus olhos, Eliza não me vê muito diferente dessas duas coisas também. "O que você tomou? Remédios, drogas?"

"Eu não tentei me matar, se é o que você quer saber. Eu só estava... sei lá, eu nem sei. Nem sei o que eu estava fazendo. O que você quer?"

"Não é óbvio?"

"Se fosse, eu não estaria te perguntando. O que você quer?"

"Quero saber o que aconteceu para você estar chorando e a Hastings chutando cadeiras", diz, me entregando uma toalha de rosto para eu secar o meu. "Ela terminou com você, não terminou?"

Concordo com a cabeça e Eliza me olha atentamente, todos os meus segredos estampados na minha cara. Os meus fracassos.

"Você está bem, Kenna?", ela insiste.

Faço que sim, mas nós duas sabemos que é mentira, e eu não faço a menor ideia de como lidar com a humilhação que estou sentindo. "Acabou que você tinha razão, era melhor ter deixado a pasta de Julian McBride em casa e não aqui. Fallon a encontrou e... bom, é isso. Ela terminou comigo."

Eliza fica em silêncio. Não tem o que me dizer. Não há nada que ela possa falar para que eu me sinta melhor. Certa ou errada, eu perdi a Fallon. "Se tivesse deixado na sua casa, suas mães poderiam ter encontrado e aí sim, seria um problemão."

"É, você deve ter razão. Sei lá, sabe, agora eu não consigo ver nada de positivo no que estou fazendo."

"Ainda dá tempo, Kenna."

"Tempo de que? De falar a verdade?"

"É. De falar a verdade. Por que não? Hastings vai entender, tenho certeza disso."

Quero me desfazer em lágrimas se tiver que ouvir isso de novo, porque eu não posso voltar atrás, não depois de ter feito a minha mãe assinar aqueles documentos. Tem mais coisas em jogo do que o amor que sinto por Fallon, a minha mãe é uma delas — a principal delas —, e eu não vou correr o risco. Fallon me entenderia, me daria o tempo que eu quisesse e precisasse, mas Dominik nunca faria o mesmo por mim, ele tem os próprios motivos para querer colocar o meu pai na cadeia o quanto antes.

"Se eu contar a Fallon, ela vai contar pro Dominik. Ele quer vingança, Eliza. O mais depressa possível."

Eliza desvia o olhar e suspira frustrada. "Hastings pode tentar convencer Dominik a esperar, não pode? Quem sabe não dá até para fazer um acordo? Dominik espera e você entrega a ele todas as provas que tem contra o seu pai."

Eu rio, mas é um riso forçado. Dominik jamais daria ao meu pai a liberdade que lhe foi tirada, nem mesmo se eu prometesse lhe entregar um dossiê completo de todas as merdas que o meu pai já fez na vida. Sou filha de Lucca, isso basta para Dominik não confiar em mim e achar que vou dar para trás a qualquer momento. Se ele confiasse em mim, teria me pedido para ajudá-lo a roubar o notebook do meu pai ou para passar algumas informações a respeito da empresa e da carga horária dos funcionários. Dominik não brinca em serviço, portanto, eu também não deveria.

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora