Cicatrizes antigas, feridas abertas.

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Kenna

A lembrança do que aconteceu com Logan começa a surgir na minha cabeça quando percebo que estou na cama de um hospital. Não sei porquê estou aqui, nem como vim parar aqui, mas não importa. Nada disso importa. Eu tentei estancar o ferimento no peito de Logan, falei com ele na tentativa de mantê-lo acordado até que uma ambulância chegasse, mas seus olhos logo fecharam e a expressão vazia tomou conta do rosto que tirava tantos suspiros das minhas ex-colegas do internato.

E agora, de todas as lembranças que tenho dele, isso é tudo o que me restou...

"Oi, meu amor", Bessie diz, sentada na poltrona ao lado da cama. "Você deve estar morrendo de fome. Quer comer alguma coisa?"

O quarto cheira a lírios e amaciante. Tem um jarro com flores numa mesinha no canto da parede, com um urso de pelúcia e uns balões escrito: NÓS TE AMAMOS. De onde estou, não consigo enxergar o nome que está no cartão, embora arrisque dizer que seja de Serena Redfield.

"Mãe", eu me viro para ela com os olhos um pouco arregalados de medo e confusão. Com as mãos apoiadas no colchão, uma de cada lado do meu corpo, encontro forças para me sentar na cama. "Foi culpa minha."

A grade já está abaixada, então Bessie sobe na cama e passa um braço pelo meu ombro, me puxando para mais perto dela. Fecho os olhos quando seus lábios quentes tocam a lateral da minha cabeça, seu corpo treme contra o meu quando ela começa a chorar.

"Nada disso foi sua culpa, Kenna", diz ela, com alívio no meu ouvido. "Escuta o que a mamãe vai falar, tá bom? Nunca mais se coloque em perigo dessa forma. Não entre em banheiro com homem nenhum. Não aceite convite de estranhos. Não fale com estranhos. Sempre olhe para os dois lados antes de atravessar a rua, não importa se o sinal ficou verde, sempre olhe para os dois lados. E o mais importante: se te assaltarem, entregue tudo. Não discuta. Eu preciso de você viva."

"Não foi um...", lentamente, as memórias enfraquecidas voltam como fragmentos, formando uma barreira. "Cadê o papai?"

"Lá fora", responde, acariciando meus cabelos. "Quer falar com ele?"

Nego com a cabeça. "Meredith?"

"Sua mãe contou para ela o que aconteceu com o Logan. Meredith não quis sair do necrotério desde que o corpo dele chegou."

Corpo.

Ao ouvir essa palavra, desisto de lutar contra as lágrimas e as deixo caírem. Escondo meu rosto na curva do pescoço de Bessie, soluço quando seus braços me envolvem em um abraço apertado. Não sei como vou contar para Meredith que a culpa dela ter perdido o marido é do meu pai. Evangeline vai crescer sem o pai dela por causa do meu, assim como Fallon cresceu sem a mãe por causa de Lucca.

Sinto que só vou poder ficar de luto quando contar a verdade.

"Preciso falar com ela."

"Tudo bem, meu amor", me acalma, me dando um beijo no rosto. "Assim que for possível, eu levo você até o quarto dela, mas não vamos ter pressa. Meredith precisa de um tempo sozinha, você sabe disso. Descansa mais um pouco e...", ela se interrompe, não parece segura do que quer dizer.

"Pode falar", incentivo.

"Quase perdi Reagan uma vez. Quando eu estava grávida de você, ela sofreu um acidente de carro e entrou em coma. Nenhum médico sabia me dizer quando ela ia acordar."

Respiro fundo. "Deve ter sido assustador."

"Sim, foi mesmo. Passei por muitas coisas na minha vida ao longo dos anos e nenhuma me causou tanto medo como daquela vez", Bessie faz uma pausa para pensar, então diz: "Até hoje. Escuta. Ter feito você ir morar sozinha não foi uma coisa fácil de fazer e eu não quero que pense que só fiz isso para me livrar de você. Eu não quero me livrar de você. Sei que é difícil não ser o único centro das atenções agora que a Banks nasceu..."

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora