Me dê a culpa.

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Fallon

Eu nunca quis participar da equipe de teatro, mas depois da ameaça de Kenna, acho que fiz a coisa certa ao riscar o meu nome daquela lista. Ainda que eu tenha feito isso cinco minutos depois de ter colocado o meu nome lá quando abriu as inscrições, porque se tem uma coisa que eu abomino completamente é seguir os passos do meu pai. Não somos iguais. Ele é feito de álcool e se eu pudesse, acenderia um fósforo perto dele e lhe garantiria passagem direta para o céu ou para o inferno, ou para qualquer outro lugar onde alguém como ele deveria estar.

Jogava basquete quando estava no primeiro ano do ensino médio, em um colégio de riquinhos não muito diferente do internato Lewis. Eu era boa, uma das melhores jogadoras de basquete do time da Abram Clements High School, mas parei de jogar devido a complicações que surgiram em casa. Quando se tem um pai alcoólatra é meio difícil se dedicar a qualquer coisa que não seja ele; evitar que morra com o próprio vômito ou afogado com a cara enfiada dentro da privada.

"Hastings!", o treinador grita, depois de usar aquele apito insuportável preso ao pescoço. Seria incrível enforcar ele com aquilo. "Foco. Se não está a fim de jogar hoje, o resto do time está."

Ignoro a provocação, mantendo meus olhos fixos no restante do time. Eu não posso dizer que o treinador está pegando no meu pé quando sei que ele tem razão, estou distraída hoje e toda essa distração tem nome: Kenna. Merda. É tão difícil não pensar nela ou naqueles olhos verde-mar, naquela boca tão bem desenhada e na leve inclinação que o lábio superior dela tem, formando um bico natural e convidativo para um beijo. Quero beijá-la toda vez que a vejo e me pergunto se outras pessoas se sentem do mesmo jeito quando olham para aquela boca. Droga. Agora estou irritada porque estou pensando em alguém desejando beijar a boca dela e imaginando ela soltando aqueles gemidos que costuma soltar quando eu a beijo.

Foco, Fallon.

Estou tentando escutar as ordens do treinador, mas eu não faço a mínima ideia do que ele está dizendo. 'Hastings, blá blá blá isso', 'Hastings, blá blá blá aquilo' e eu não compreendo blá blá blá nenhum. Porém, no entanto, eu escuto um risinho muito familiar ecoar da arquibancada e viro a cabeça na direção onde Kenna está sentada de pernas cruzadas conversando com Carrie Blackwood, do 3B. Eu poderia apelidar Carrie Blackwood de Carrie, a estranha, mas a única coisa estranha nessa garota é ela estar tão próxima de Kenna. E Kenna... pelo ódio que me parta, está sorrindo demais para o meu gosto.

Passo a bola com força demais para Mallory, ela resmunga quando agarra a bola e corre pela quadra. Eu não me esforço para acompanhá-la e manter a guarda ou para fazer o bloqueio necessário para que uma das garotas do time adversário não roube a bola. Estamos treinando, então o nosso time, o time feminino oficial do internato Lewis é dividido em dois para que possamos melhorar nossas técnicas.

Carrie Blackwood ser lésbica não é nenhum segredo, mas ser talarica é novidade. E Kenna estar sorrindo enquanto Carrie aproveita cada oportunidade para tocar na princesinha do Lewis H. High School é uma cena horrível de ver, prefiro arrancar os meus próprios olhos com as mãos ao ter que aturar isso bem na minha frente.

Mallory grita o meu nome e passa a bola para mim com a mesma força com que eu tinha jogado para ela antes, a minha vontade é de arremessar a bola de volta na cara dela. Tenho coisas mais importantes para prestar atenção do que numa bola idiota. Desvio de Brooke que tenta me roubar a bola e tenho uma ideia brilhante. Agarro a bola, corro para a outra lateral da quadra e Mallory se mantém distante sabendo que vou jogar a bola de volta para ela, deve estar com medo de que eu use ainda mais força ao passar a bola dessa vez, mas a verdade é que eu olho para além dela; para Kenna e Carrie juntas na arquibancada conversando.

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora