Foi um aviso, não uma ameaça.

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Fallon ficou na detenção depois da aula, sete horas completas em silêncio e longe de mim. Foi como ganhar um prêmio — não, melhor que isso —, foi como respirar ar puro sem poluição. Consegui prestar atenção nas aulas, responder as atividades e ainda por cima, comer tranquilamente o meu almoço sem ver ela e Eliza de conversinha uma com a outra. Fallon ficou trancada na sala da diretoria até a minha tia voltar da reunião cinco horas depois, Fallon tentou me culpar dizendo que eu a tranquei na sala, mas eu deixei bem claro que tentei ajudar quando a porta simplesmente emperrou. Pela bagunça que ela fez na sala; revirando os livros da estante e comendo os salgados da minha tia, Fallon foi diretamente para a detenção. Foram as melhores sete horas da minha vida.

Até agora.

"Você", sua voz preenche o corredor quando ela sobe as escadas e segura o meu braço para me fazer parar nos degraus. "Sua... sua..."

Inclino-me para mais perto dela, arqueando uma sobrancelha e encarando os seus lábios. Eles estão mais vermelhos hoje, não é batom, é a cor natural deles. Rio da expressão de raiva em seu rosto, Fallon aperta mais o meu braço. "Muito cuidado com o que você vai falar de mim", falo eu, puxando o meu braço de volta. Olho para as horas na tela do meu celular e aponto meu dedo em direção ao corredor abaixo de nós, atrás de mim, e para ela. "Ficou muito tempo na detenção."

"Graças a você", resmunga de cara fechada. "Por sua causa eu tive que ficar na cozinha ajudando a preparar o jantar dos alunos."

Rio.

"Espera", gesticulo com as mãos, tentando controlar o riso. "Então agora você é ajudante de cozinha?", aproximo meu nariz do seu pescoço e o cheiro. Ela não está fedendo, o seu cheiro é de sabonete e pétalas de rosas. Fecho os olhos por um segundo para absorver o seu perfume, o cheiro dos seus cabelos ruivos. Eles são... "Isso explica esse fedor", provoco.

Fallon range os dentes. "Eu vou me vingar."

Dou um tapinha em seu rosto com a mão e o seguro, apertando suas bochechas com força e formando o famoso bico de peixe em sua boca. Sinto ela cerrar o maxilar em resposta. "Certo, agora eu vou tomar um banho porque preciso me desinfetar depois de você ter encostado em mim. Nos vemos depois, caipira."

"Eu só morei na fazenda por três meses", se defende, gritando no corredor. Ouço o inspetor bugiganga reclamar com ela. "Bom saber que deu um Google em mim."

"Sabe como é", digo, virando-me para ela, mas ainda andando de costas. "Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda."

**

Depois do toque de recolher e do meu banho, volto para o quarto no meu novo pijama no tamanho ideal, a minha bunda está tendo a valorização que ela merece nessa calça e eu estou com a autoestima lá em cima, mesmo quando Eliza passa por mim me chamando de ridícula. Ridícula, eu — até parece —, e ela é uma invejosa que não se conforma que Apolo nunca vai olhar para ela. Chega a ser deprimente as suas tentativas para chamar a atenção dele. Eliza ainda não se tocou de que, enquanto eu estiver dando bola para Apolo, ele nunca vai olhar para ela.

Deito na minha cama, puxando o cobertor para me cobrir quando sinto alguma coisa ao meu lado. Pego na minha mão para tirá-la da cama, mas é molhado, visguento e está se mexendo. Dou um grito jogando longe o que segurava na minha mão e acendo a luminária da minha mesinha de estudos, Alisson levanta da cama e corre para acender a luz do quarto e as outras meninas se sentam na cama assustadas pelos meus gritos. Procuro pelo que joguei no chão, Jade aponta para o sapo próximo a cama de Natasha e todas nós gritamos em uníssono.

Exceto Fallon.

Fallon cobre a boca com o cobertor para que ninguém a veja rindo, pego o meu travesseiro e jogo em cima dela. Ela levanta da cama e segura as minhas mãos para impedir que meus tapas a acertem, aproximo meu rosto do seu e a milímetros de distância lhe dou um único aviso. "Sabe porque eu não suporto você?"

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora