Usar ou ser usada.

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Kenna

Normalmente, eu e Eliza nunca sentaríamos juntas no refeitório, não sem ofendermos uma à outra. Eu poderia fazer isso agora, Fallon preparou o meu almoço cinco minutos atrás, tem macarrão no meu prato, isso no cabelo de Eliza causaria um estrago.

Encaro Eliza, vendo ela futucar a comida na bandeja. Por fim, ela baixa o garfo e me olha. De repente, eu me sinto constrangida, esse é o almoço mais constrangedor do mundo. Ela me pediu desculpas na frente do todo o internato, e sei que fez isso por causa de Apolo, porque quer se redimir com ele.

Não acho que perdi a oportunidade de me vingar dela. Sei o que estava acontecendo com Eliza depois das coisas que ela me disse no refeitório um tempo atrás, alunos enchendo o armário dela com bilhetinhos a chamando de vagabunda, fora os murmúrios por onde ela passa. É meio triste que mesmo que eu tenha falado com a diretora a respeito, Drina não pôde fazer muita coisa, mas o meu perdão pode mudar essa situação.

Por isso eu a perdoei.

Não sei o que está havendo entre Eliza e Apolo, mas não a perdoei por ele. A perdoei porque eu não quero que ela sofra o que a minha mãe sofreu no passado por ser garota de programa. Eliza não é garota de programa, mas é mulher e nenhuma mulher merece passar por esse tipo de coisa.

Ela está me olhando como se eu devesse uma explicação pelo convite. "Você não vai me perdoar, né?"

Tiro o canudo do plástico e o enfio na caixinha de suco de uva. "Não tão fácil. Mas, vou manter as aparências porque sei que Apolo gosta de você, e eu quero que ele seja feliz. E, se para ser feliz ele precisa que a gente faça as pazes, então tudo bem."

Eliza come corta um pedaço da carne e leva à boca com a comida. Engole. Bebe a água com gás e coloca a garrafa na mesa. "Parece justo."

Rio sem entusiasmo nenhum. "Sabe, Eliza, eu nunca dei a mínima para as merdas que você falava de mim e nem para as suas tentativas de me roubar o Apolo, mas não vou esquecer tão fácil de tudo o que você falou da minha mãe."

Ela solta um forte suspiro e me encara. "Cometi erros, pode me crucificar a vida toda por isso se quiser. Estou pedindo desculpas."

Desvio o olhar para a mesa onde meus amigos estão sentados, entretidos e conversando com Fallon como se ela fizesse parte do nosso grupo há anos. Apolo vez ou outra cochicha algo no ouvido de Fallon, algo que eles não dividem com Tate e nem com Alisson, como se fosse um segredo só deles.

"Sim, mas é só porque Apolo não olha para a sua cara depois das coisas que você me falou um tempinho atrás, lembra? Aqui mesmo no refeitório."

Eliza me olha por um momento, depois sacode a cabeça. "Não. Não é só por ele. Sou apaixonada por Apolo, e no início, confesso que eu só o queria porque ele era seu e eu queria te irritar. Eu odiava como você, mesmo sendo filha de uma prosti..." se interrompe, engolindo a palavra que ia dizer. "Mesmo sendo filha de uma garota de programa, você tinha tudo e todos. Os meninos fazem fila para ganhar um bom dia seu."

"E daí? Eliza, a minha vida era uma merda. A minha vida toda foi uma completa merda. O internato era o único lugar para onde eu podia fugir do que achava ser o desprezo da minha mãe e ter você jogando isso na minha cara não melhorou as coisas."

Eliza empurra a bandeja dela. E eu me limito a mexer na comida do prato. Perdemos o apetite, mas pelo menos não estamos tentando nos matar.

"Você tentou suicídio."

"Tentei."

"Por quê?"

"Porque sempre pensei que a minha mãe não me amava, que eu era um erro do qual ela não teve coragem para se livrar."

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora