Está tudo bem, Meredith.

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NOTA

Reagan

Paro em frente à porta, mantendo o olhar fixo na madeira que me impede de ver a paciente. Respiro fundo, porque preciso me encher de coragem antes de dar a notícia. Um médico precisa controlar as emoções. É a primeira coisa que nos ensinam na residência.

Não digo que a pior parte para um médico é estar em uma sala de cirurgia quando tudo começa a dar a errado, quando você está perdendo o paciente que confiou a vida dele nas suas mãos. Mas quando você, como cirurgião, tem que optar pela verdade. Por mais cruel que ela seja. Só que a verdade pode ser tão dolorosa quanto uma perda e pode ser tão destrutiva quanto o luto. Não existe remédio para aliviar a dor, nem cirurgia para reparar o dano causado.

O hospital onde trabalho tem um ótimo programa de Residência. Sendo cirurgiã geral do Eugene Health Medical Center, sou responsável pelos tipos de médicos que os residentes se tornarão no futuro. Sei que estou certa em cobrar deles a ética profissional, no entanto, há casos em que fica difícil até para mim segurar as lágrimas. A primeira coisa que aprendemos na residência é a de não levar a perda de um paciente para o lado pessoal, a só enxerga-lo como um corpo, porque a perda pode ser irreversível e destruir a nossa carreira. Quando um paciente morre, você deixa para chorar em casa. No trabalho, tudo o que você precisa fazer é esconder as emoções enquanto repete e repete cada coisa que fez na sala de cirurgia, cada movimento feito e o que mais poderia fazer.

Alex Scott passa vários segundos me encarando com uma expressão concentrada. É uma das minhas residentes preferidas, mas tem um enorme problema  em controlar as emoções. Ela suspira antes de eu abrir a porta do quarto, concorda com a cabeça e relaxa os ombros, aliviada por eu estar ao seu lado. Não precisa dar a informação sozinha.

"Dra. Alex", chamo, atraindo sua atenção de volta para mim. "Lembre-se de que a perda não é sua. Seja direta, não dê rodeios, não pense demais. A notícia é péssima, não tente torná-la melhor."

"Certo."

A porta se abre ainda mais, e de repente somos observadas pelos Simmons.

"Sra. Josely", Alex diz, firme. "Essa é a Dra. Reagan Gray."

Josely Simmons é uma mulher de quarenta e dois anos, mãe de dois filhos e esposa de um homem que só vai para casa para tomar banho. Foi minha paciente um ano atrás, realizamos uma cirurgia para retirar a massa que se alojou no seu intestino e retiramos uma parte considerável para que ela pudesse ter mais tempo com a sua família.

O homem sorri para a Dra. Alex Scott, mas quando olha para mim, é como se soubesse que o pior está por vir. O pior momento da sua vida. Aquele que vai nos tornar, não nos rostos que conseguiram dar para ele e a esposa mais um tempo juntos, mas nos rostos que ele vai lembrar quando pensar no pior momento da vida dele.

"A obstrução intestinal está causando a sua dor, Sra. Josely", digo, parando na beirada da cama. "O câncer está no seu fígado e nos seus pulmões."

"Eu não... eu não entendo", Joseph agarra a mão da esposa, depois exala pela boca. "Ele se espalhou?"

Acompanho o olhar de Josely até o marido, os olhos cheios de dor pela notícia. Só porque uma coisa é certa, não significa que doa menos quando é dita. Joseph beija a testa da esposa, deita a cabeça no ombro dela e começa a chorar.

Encaro Alex em silêncio, esperando que ela dê a confirmação.

"Sim, Joseph", ela diz, enfiando as mãos nos bolsos do jaleco. "Ele avançou e se espelhou por todos os órgãos da sua esposa."

"Com esse grau de metástase, o seu sistema imunológico está comprometido e eu não sei se você conseguiria se recuperar de uma cirurgia", continuo, me aproximando deles. "E não posso indicar. Sinto muito."

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora