Inocente demais para entender.

900 89 26
                                    

Papai está atrasado.

Liguei para ele duas vezes e ele não atendeu. Pode ser que ele esteja ocupado? Pode, mas estou com o pressentimento de que ela viu a notícia sobre mim e Fallon na internet. Dadas as circunstâncias, não acho que teria como passar batido, papai é famoso no ramo da advocacia, o que ele não fica sabendo chega até ele de uma forma ou de outra. Minhas mães viram a notícia, mas foi mamãe quem me mandou mensagem dizendo que conversaríamos no domingo, não estou com medo da conversa que teremos, mamãe sempre foi bem tranquila em relação a garotos, então uma garota não vai ser nenhum bicho de sete cabeças.

Reconheço o Audi Q8 preto fosco que entra no estacionamento do colégio. Abro um sorriso. Tem uma semana que não vejo papai, ele estava viajando à trabalho, o mínimo que eu tento fazer é não correr até ele, mas quando o vejo descer do carro e ajeitar o terno, é exatamente o que eu faço. Papai não corresponde ao meu abraço, ele é mais alto que eu, bem mais alto, bato pouco menos da altura do seu peitoral. Estou com os braços em volta dele, abraçando-o sozinha.

Ele viu a notícia.

Quando o solto, ele dá a volta e abre a porta do carro para mim. Entro no carro em silêncio, ele também não diz nada e enquanto contorna o automóvel, passo a mão abaixo dos olhos para secar as lágrimas e prendo o cinto de segurança. "Como foi a viagem?", sou a primeira a quebrar o silêncio.

"Bem", ele se limita a dizer. "E a sua primeira semana de aula deve ter seguido o mesmo ritmo já que você foi manchete em sites de fofocas."

"Papai..."

"Conversaremos em casa, Kenna", sua voz é grossa e autoritária.

Concordo com a cabeça e deito a cabeça no encosto do banco. Eu não estou acostumada com ele falando grosso comigo, papai sempre foi carinhoso e raramente levantava a voz ou me colocava de castigo, isso parecia ser mais o trabalho da minha mãe do que dele. Portanto, é normal que eu chore quando ele me trata diferente do esperado, não é com frequência que sou tratada desse jeito.

Em casa, o silêncio só é rompido quando Amara vem me abraçar e perguntar como estou. Papai está segurando a minha mochila, mas sou eu quem parece estar carregando duas toneladas nas costas. Deve estar estampado na minha cara o desconforto para Amara querer ter certeza de que estou bem mesmo eu tendo dito que sim.

"Não sei, estou te achando um pouco estranha", fala, segurando na minha mão para me levar até a cozinha. "Discutiu com o seu pai? Kenna, sabe que não sou sua inimiga, não sabe?"

Concordo com a cabeça.

Gosto de Amara, antes dela casar com o papai admito que não a via como uma amiga, só como a pessoa com quem eu teria que competir para ter a atenção dele, mas ela vem se mostrando uma pessoa na qual devo e posso confiar e não como a madrasta vadia do mal que me odeia e que vai tentar destruir a minha relação com o papai. Os filmes enganam, as pessoas nos assustam, mas nem toda madrasta é uma vadia. E minha mãe e Amara são boas amigas, trabalham juntas no Love Affair, o que é um motivo a mais para eu gostar de Amara.

"Você viu a notícia?", pergunto a ela.

Amara vai até o balcão da cozinha e se inclina sobre ele, apoiando-se nos braços. Ela espia pela porta de entrada da cozinha para ter certeza de que papai não está por perto e cochicha baixinho: "Se eu vi? Garota, você está mais famosa do que eu e a sua mãe depois que nos livramos do filho da puta do Mark."

O ponto alto onde eu finalmente me entendi com Amara foi quando descobri a história que mamãe tinha escrito sobre ela e a minha mãe, a história de amor das duas — uma história de amor bem específica na hora do amor. Para proteger os meus olhos e a minha imaginação de cenas que me deixariam traumatizada por toda a vida, pedi a Amara para me contar o resto da história quando ela viu a página do blog aberta em meu notebook. Prometemos nunca tocar no assunto perto das minhas mães, elas acham que eu não sei sobre a existência do Love Affair já que está publicado apenas em um blog — mamãe não chegou a publicá-lo fisicamente — e eu prefiro assim. Amara me aconselhou a não continuar a leitura porque disse que havia muito mais cenas explícitas como a da primeira vez das minhas mães e o que os olhos não veem, o coração não sente e a mente não tortura e nem traumatiza.

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora