Entorpecentes.

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O silêncio na sala de visitas é ensurdecedor.

Olho para as minhas próprias mãos ao sentir as lágrimas que descem pelo meu rosto caírem sobre elas, meus olhos ardem de raiva e indignação, me sinto traída pelas minhas mães. Elas continuaram com a inseminação artificial, mamãe engravidou, está esperando um bebê que a minha mãe quer ter, um bebê que ela está decorando um dos quartos da nossa casa para ele e anda comprando até roupinhas de bebê de cores neutras. Minha mãe está tão feliz que me dá ânsia, a felicidade dela pelo filho que vai ter com o amor da sua vida é tão grande que ela não percebe o que isso significa. Ela não olha para mim, está preocupada demais segurando os cabelos de mamãe enquanto ela vomita na lixeira da sala de visitas. Mamãe limpa a boca com um lenço e reclama de estar se sentindo muito enjoada, minha mãe se agacha no chão, pega o lenço das mãos de mamãe para limpar algum resquício de vômito no canto da boca dela. Elas se amam, minha mãe é completamente apaixonada por mamãe, não existe nada mais importante na sua vida do que a mulher que vai lhe dar o filho que ela desejou durante anos.

"Calma, amor", minha mãe diz, limpando a boca de mamãe. "Queria te dar um beijo agora, mas você acabou de vomitar o nosso café da manhã."

Mamãe dá um leve tapinha no ombro da minha mãe. Raramente ouço minha mãe dar risada, é estranho quando a ouço rir de alguma coisa quando estou por perto, mas mamãe sempre consegue fazê-la gargalhar. Quando isso acontece, eu paro para observá-la, me pergunto se era assim que ela era quando conheceu mamãe, se as duas sempre se amaram tanto quanto se amam agora. Elas passaram por muitas coisas juntas, porém, é a minha mãe quem parece estar numa constante luta para provar que é merecedora do amor da mamãe.

"A gente devia ter te contado antes", mamãe diz, olhando para mim. "Queríamos fazer isso no final de semana no jantar com o seu pai."

Balanço negativamente a cabeça.

Eu não quero um irmão, não quero dividir a mamãe com ninguém, por que elas não entendem isso? Elas falam sobre o quanto estão felizes e acham que as lágrimas em meu rosto são pela felicidade delas, mas não são. Não vou fingir que estou feliz quando eu não quero que essa criança nasça, não quero que ela tenha tudo o que eu não tive; o amor da minha mãe. Minha mãe vai amar esse bebê porque foi planejado, porque ela o desejou, porque é filho do amor da vida dela e não mais uma coisa que papai a forçou a ter. O bebê não sou eu.

"Eu não quero que você tenha esse bebê", murmuro e seus olhos cinzas encontram com os meus. A expressão em seu rosto se torna impossível de ser lida, não continuo olhando para ela porque tenho vergonha do que eu disse e de tudo o que estou sentindo. "Eu não quero, mamãe. Não quero."

"Você vai encontrar uma maneira de aceitar isso, porque essa é uma das coisas que não vou deixar você convencer a sua mãe a fazer por você, Kenna", minha mãe eleva o tom de voz e me encolho na cadeira. "Reagan sempre te mimou demais fazendo todas as suas vontades, cedendo a todos os seus caprichos, e eu nunca fiz questão, até agora. Sua mãe vai ter esse bebê você querendo ou não."

"Você nunca liga para o que eu quero!", exclamo furiosa, levantando de onde estou.

Minha mãe me encara com raiva, vejo como ela cerra o punho ao lado do corpo pelo medo que sente de que mamãe reconsidere o que deveria ser a melhor coisa que já aconteceu com elas por causa da minha reação. Mamãe faz todas as minhas vontades, até aquelas onde minha mãe bate o pé, de alguma maneira mamãe acaba conseguindo convencer ela. O medo estampado em seu rosto é só uma demonstração do pavor e do desespero que ela deve estar sentindo por dentro.

As mãos de mamãe seguram o meu rosto, atraindo a minha atenção para ela. "Meu amor, esse bebê não vai me tirar de você. Eu te amo demais, Kenna."

Internato Lewis (Spin-off de L.A)Onde histórias criam vida. Descubra agora