1 - Estou grávida! 🏇

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Guto.

A chuva caía constantemente naquele começo de manhã. A estrada estava alagada e de difícil acesso. Maldita hora que decidi visitar minha mãe! Pensei. Eu estava voltando da capital para o interior, dirigindo meu carro tentando  chegar  mais rápido que a tempestade,  em vão. Ela me pegou um pouco antes que eu conseguisse chegar ao meu destino. Sem ter outra alternativa, parei num restaurante á beira da estrada numa cidade antes da minha, eu precisava esperar a chuva passar ou aliviar para seguir meu caminho.

Saí do carro correndo para evitar me molhar mais, e ao conseguir chegar até o alpendre, vejo que não fui só eu quem teve aquela ideia. Havia um ônibus de viagem parado ali e dentro do restaurante, muitas pessoas esperando a chuva forte passar. O movimento parecia está bom para o dono do restaurante, ao menos alguém estava se beneficiando com aquela chuva.

Lá fora, o lugar estava deserto. Nenhuma viva alma se atreveria a andar por ali, a chuva só piorava. No entanto, quando penso que ninguém seria tolo o suficiente para ariscar pegar uma gripe por andar naquela chuva, mas afastado do restaurante, vejo uma mulher parada na chuva.

E então vejo diante dos meus olhos a cena se repetir.

A mulher estava perto demais do penhasco, lá em baixo, se passava o rio que cortava todas as cidades vizinhas. De repente, um medo súbito me dominou. Não! De novo, não! Disse a mim mesmo. Eu não poderia deixar aquela cena se repetir. Então, vagarosamente sigo pela a chuva até a mulher que já estava com sua roupa encharcada, seus cabelos castanhos compridos estavam molhados ao ponto de se grudarem em seus ombros magros. E em meu subconsciente uma voz me dizia: ela vai fazer igual!

- Olá! - digo ao parar a poucos metros de distância dela.

A mulher de olhar abatido, rosto cansado e olhos tristes me olha atentamente.

- Moça, eu não sei o que está acontecendo com você mas, essa não é a solução! - digo tentando a fazer mudar de ideia.

Noto que ela me olha com uma certa surpresa em seu olhar. Sei que consegui chegar até ela de alguma forma.

-   Você pode pensar que isso será o fim dos seus problemas mas pode ser que será apenas o começo! Não sabemos o que nos espera do outro lado da vida. - tento usar a persuasão.

Funciona. Ela dá três passos para trás.

- Venha, vamos sair dessa chuva! - digo lhe estendendo a mão.

Ela olha para minha mão e para os meus olhos, sinto dor em seu olhar, muita dor. Aquela menina mulher estava destruída.  E então ela tomba para o lado. Imediatamente corro até ela e a pega em meus braços. Ela parecia fraca, sensível, indefesa. Logo um sentimento de proteção se apropriou de mim, sentimento esse há muito não sentido. Seus olhos castanhos claros me olham com receio e medo, sinto que ela irá se sair dos meus braços. Mas antes que ela faça algo, a ouço dizer.

- Por favor, me ajude! Estou grávida. - sua voz baixa mais se parece com um sussurro.

E então ela desmaia.

Não! Aquilo não poderia estar acontecendo novamente. Não comigo! Não de novo.

Vendo-a desacordada em meus braços em meio a chuva que persistia em cair, me vejo preso em meu passado. Um passado ao qual eu havia lutado para esquecer, um passado que insistia em me atormentar. E lá estava eu, preso novamente a ele. Ela estava grávida e havia pensado em tirar a própria vida. Havia resquícios de Flávia nela, havia uma parte do meu passado ali, no meu presente.

- Por favor, alguém ajude! - digo tentando controlar minhas emoções com a mulher em meus braços ao adentrar no restaurante.

Todos que ali estavam se agitam com nossa presença.

- É a mulher que sentou ao meu lado! - um rapaz diz.

- O que aconteceu com ela? - um senhor, certamente o motorista do ônibus pergunta vindo ao meu encontro.

- Ela desmaiou! - falei.
- Precisa de um médico, ela disse que está grávida.

- Há algum médico aqui? - o motorista pergunta olhando em volta.

Alguns fazem que não com a cabeça.

- Há um hospital há menos de dois quilômetros voltando! - a garçonete diz.

Todos olham para o motorista.

- Infelizmente não posso voltar! Já era para eu ter seguido viagem mas a chuva não deixou! Tenho horário a cumprir e, meu destino é duas cidades a frente.  - ele se explica.

Não tinha outro jeito.

- Eu mesmo a levo! - falei.
- Apenas pegue os seus pertences.

O motorista fez que sim e assim seguiu para o ônibus que estava estacionado no lado de fora.

Não demorou muito e o motorista colocou a única mala que ela trazia junto consigo no porta malas do meu carro. A bolsa de lado que ela havia deixado no assento do ônibus também foi trazida a mim, e sob os olhares atentos dos que ali estavam, segui para o hospital mais próximo levando comigo a desacordada.

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