Depois do almoço, era hora de ajudar com alguns afazeres da casa. Gustavo disse que eu poderia ajudar no que eu pudesse e conseguisse e ele me pagaria um salário como paga a todas as mulheres que trabalham ali.
Como era de costume no auge da primavera, os dias eram mais quentes e as noites tinham um clima mais ameno. O jantar em volta da mesa foi substituído por uma roda de pessoas em volta da fogueira na frente da casa grande. Ali, todos os trabalhadores da casa se reuniam, cantavam ao som da viola de Jorge e um caldeirão de sopa estava sendo esquentado pela a fogueira.
Com uma manta quentinha em vota do meu corpo, sentada ao lado de Branca, observo a cantoria de Jorge. O clima era leve e tranquilo e ao som da viola, ouço belas músicas sendo cantadas por ele.
Me perco em pensamentos quando começo a lembrar de tudo o que aconteceu naquele dia.
Eu havia voltado para casa destruída, durante todo o percurso as lágrimas insistiam em cair, e quando o ônibus parou naquela beira de estrada, quando vi aquele penhasco, quando percebi que a minha vida estava acabada, foi quando o encontrei. Ou melhor, ele me encontrou. Gustavo foi como um anjo na minha vida, como uma benção que vem e fica.
- Amora! - ouço a voz de Branca me chamando de volta a realidade.
- Ah, oi! O que disse?! - digo.
- Onde você estava heim? Seu corpo estava aqui mas sua mente estava longe! - ela brinca.
- Não muito distante daqui na verdade! - digo.
- Hum! Sei. - ela exibe um travesso sorriso.
- Vamos todos comer! - minha mãe diz com os pratos em mãos.
Todos nós pegamos os pratos e as colheres e um a um nos servimos com uma porção da sopa que estava simplesmente maravilhosa. Como eu estava com saudades da comida da minha mãe! Os elogios a comida dela não paravam, Gustavo era o que mais elogiava, e minha mãe adorava aquele tipo de atenção.
Até que, quase acabando de tomar a sopa, começo a sentir um pequeno enjôo que vai se intensificando. Olho em volta e vejo que ninguém notou. Tento respirar, disfarçar, suportar. Mas a coisa só vai piorando. Até que sinto que estou começando a suar frio. Respiro profundamente, tentando fazer aquilo passar. Mas era quase que insuportável. Os enjoos estavam ficando cada vez mais chatos.
- Amora, você está bem? - Branca pergunta chamando a atenção de todos.
O silêncio predomina.
- Sim! - minto.
- Minha filha, o que você tem? Você está pálida. - ouço minha mãe dizer. Estou de olhos fechados tentando respirar.
Mas antes que eu diga algo, Gustavo diz.
- É apenas um mal estar dona Xica! - abro meus olhos.
- Consegue andar? - ele me pergunta parado a minha frente.Vejo que todos observam atentos.
Faço que não. Eu estava a ponto de desmaiar.
- Está bem! - ele diz.
Gustavo se abaixa e me pega em seu colo me erguendo. Já em seus braços, envolvo os meus em volta do seu pescoço dele e o olho nos olhos.
- Dona Xica, leve um copo com água e alguns biscoitos salgados até o meu quarto! - ele diz.
E em seguida Gustavo começa a caminhar me carregando em seus braços.
Enquanto adentramos na casa, consigo fechar os olhos na tentativa de aliviar tudo aquilo. E nisso, começo a expirar o cheiro do perfume amadeirado que Gustavo usava. Tudo piorou. Sinto Gustavo me sentar sob uma cama e então começo a sentir um bolo subindo por meu estômago.
- Um banheiro. Onde tem um banheiro? - pergunto olhando em seus olhos.
- Naquela porta! - ele diz apontando para uma porta dentro do quarto.
Imediatamente corro até lá, abro a porta e me jogo no chão do banheiro, levanto a tampa do vaso e o vômito enfim saí. Parecia que não tinha mais fim. A sensação era que eu vomitaria até às tripas, coração, e todos os órgãos que eu tinha. Enquanto minha cabeça estava praticamente mergulhada dentro do vaso, sinto meus cabelos caírem para a frente. Eu estava um caco. Até que sinto uma mão segurar em meus cabelos os trazendo para trás da minha cabeça. Viro somente um pouco e vejo Gustavo agachado segurando em meus cabelos enquanto eu vomitava.
Eu já estava em dívida com ele e agora seria eternamente grata.
E então o vômito Cesa.
- Se sente melhor? - ele pergunta olhando em meus olhos.
- Sim, obrigada! - digo.
Ele faz que sim e então aperta o botão da descarga.
- Venha! Eu te ajudo. - Gustavo diz ao se levantar.
Ele me ajuda a levantar e então me conduz até a pia do banheiro onde eu uso seu enxaguante bucal para lavar minha boca.
- Mal vejo a hora desses enjoos passarem! - digo me sentindo destruída.
- Acredito que serão mais intensos nos três primeiros meses! - ele diz.
- Deve ser! - retruco.
Voltamos para o quarto e vejo minha mãe entrar com a água e as bolachas em mãos. Gustavo me ajuda a sentar em sua cama.
- Amora minha filha, o que aconteceu? - ela pergunta preocupada.
Minha mãe me entrega a água e eu bebo tudo. Em seguida como um pedaço do biscoito. Parecia que tudo estava voltando ao normal.
- Ela só teve uma queda de pressão dona Xica, por causa da viagem! Foi um pouco cansativa. - Gustavo diz.
Ela nos olha desconfiada.
- Agora que disse... - ela começa.
- Estou me lembrando que Jorge me disse que os dois chegaram juntos mais cedo. O senhor foi para a capital para casa de sua mãe, e Amora veio de lá também. Ja se conheciam? - ela pergunta.- Sim! - Gustavo responde.
O olho surpresa.
- Amora trabalhava para um conhecido meu, nos conhecemos assim. Ela me disse que estava voltando para casa e eu prontamente lhe ofereci carona ja que ambos viriam para o mesmo lugar. - ele mente.
- É só isso? - minha mãe pergunta desconfiada.
- Mãe! - digo tentando livrar Gustavo do interrogatório.
- Está bem, vou fingir que acredito! - ela diz vencida.
Era difícil esconder algo da minha mãe. Na verdade acredito que seja difícil esconder algo de todas as mães.
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Ensina-me A Perdoar
Romantizm🏇 Ele é um fazendeiro solitário que vivi sua vida apenas com um propósito, esquecer seu passado. 👩 Ela é uma mocinha do interior que após uma temporada na capital volta para sua cidade natal cheia de traumas e sonhos destruídos. E o que os unirá...