10 - Cheiro de terra molhada. 👣

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- Fica! Por favor!

Gustavo pediu.

Eu queria partir, queria ir, fugir de tudo aquilo. Mas, não podia. Algo bem mais forte que eu me prendia ali. Santa Dolores era a cidade da qual ninguém nunca conseguia fugir dela. Disso eu sabia bem, meu pai sempre dizia isso. Ele tentou fugir, mas nunca conseguiu, e eu também não.

- Como vai ser? - pergunto olhando em seus olhos claros.

- Eu não sei! - ele sussurra.
- Mas não importa, só fique!

Como eu poderia dizer não a ele?

- Eu fico! - digo o olhando.

Gustavo sorri. Ele estava feliz.

- Eu estou aqui com vocês Amora! - ele garante.

- Obrigada! - digo. Ele faz que sim.

- O lado esquerdo do guarda roupa está vazio, você pode usar ele! - Gustavo diz me olhando.

Faço que sim.

- Amora, eu não vou tocar em você, tem a minha palavra! - e ao dizer isso, Gustavo segue para o banheiro do quarto.

Como eu poderia agradecer aos céus por ter o encontrado no meu caminho?!

👣

O horário do almoço chegou. Respirando profundamente, entro na sala de jantar com Gustavo de mãos dadas. Não havia nada entre nós, nem havíamos rotulado aquela situação, só éramos duas pessoas feridas pela a vida que tentavam se curar. Noto que todos nos olham atentamente, inclusive minha mãe.

- Antes de começarmos a comer, tenho algo a dizer a todos. - Gustavo diz.
- Eu e Amora estamos juntos, e, eu serei pai em breve! - sinto que ele diz essas palavras com muito orgulho.

Todos ficam surpresos.

- Fico feliz por vocês! - Branca se manifesta.
- E que venha com saúde o bebê, já tava na hora de termos uma criança correndo por essa casa! - ela conclui com um leve sorriso.

Jorge se levanta e parabeniza Gustavo lhe dando um abraço. Todos nos abraçam, exceto minha mãe. Sei que meu relacionamento com ela não será nada fácil. Mas serei paciente, eu a magoei.

- Venha! - Gustavo diz ao me direcionar a sentar ao seu lado á mesa.

E entre conversas sobre bebês e cavalos, que confesso não sei como ambos os assuntos se misturaram, o almoço seguiu.



👣


Por mais que eu insistisse em dormir no chão, Gustavo não deixou. E depois de fazer uma cama com lençóis, ele deitou e se acomodou. E então, olhando para o teto do quarto, aos poucos, apaguei.


- Você é uma vergonha! Uma imunda que se deitou com o primeiro que apareceu. Uma vadia que não sabe o que é honra!

Eu sentia meu corpo lentamente querendo acordar  daquele pesadelo, Mas ao mesmo tempo meu corpo doía demais. Eu me sentia cansada, sem forças, e quente. Meu corpo ardia.


- O que ela tem doutor? - mesmo com os olhos fechados consegui ouvir a voz de Gustavo.

- Ela está com febre, certamente seja resultado da gripe. - uma voz diferente se faz ouvir.
- Ela pegou algum resfriado ou saiu num mal tempo?

- Ela pegou chuva! - Gustavo responde.

...

- Faça tudo o que recomendei e depois que ela se recuperar a leve até meu consultório. Precisamos começar o pré-natal!

E então eu apago mais uma vez.

- Você vai gostar! Vai gemer muito meu nome enquanto goza em cima do meu pau!

- Não! Não... Não... NÃO! - grito ao me sentar num só rompante  na cama.

- Amora, calma. Foi só um pesadelo! - Gustavo diz ao se levantar da poltrona que ficava ao lado da cama e se sentar ao meu lado na cama.

As lágrimas caem dos meus olhos.

- Era ele! - digo em lágrimas.
- Era ele de novo!

Gustavo me abraça.

- Calma! Você está segura. - ele diz ao massagear minhas costas.

Lhe aperto meus braços.

- Eu não vou aguentar, Gustavo! - desabafo.

- Ei! - ele diz ao sair do nosso abraço e me olhar nos olhos.
- Você não está sozinha está bem?! Calma.

Faço que sim.

- Foi só um pesadelo, você está gripada e com febre. Foram os efeitos da febre. - ele assegura.

- Está bem! - digo.

- Vou pedir para trazerem alguma coisa para você comer, já volto!

E ao dizer isso ele se vai.

Meu passado e presente estavam vindo para me atormentar. E eu não sabia como iria fazer Para conseguir sobreviver a eles. Eu só queria paz, viver em paz, ter meu filho em paz, e, Gustavo... Algo aqui dentro estava mudando, era nítido. Eu só não queria misturar as coisas.

E foi assim, pensando na bagunça que estava minha vida, que as lágrimas caíram de meus olhos me fazendo sofrer ainda mais.

- Ei! Está sentindo alguma coisa? - Gustavo pergunta ao entrar no quarto e me ver chorando.

Faço que não.

- Só estou triste! - digo.

Ele se senta ao meu lado colocando as pernas para cima da cama e se acomodando ao meu lado enquanto suas costas assim como as minhas se acomodam na cabeceira da cama. Sentindo como que se ali fosse o lugar mais seguro, me acomodo em seu ombro. Gustavo levanta o braço e o acomoda em meus ombros, me ajeitando para mais perto dele.


- Você cheira a mato! - digo. Sinto seu peito subir e descer como se ele sorrisse.
- Mato e, terra! - concluo.

- E isso é ruim? - ele pergunta em tom divertido.

- Não! Até que, é gostoso... Quando eu ainda morava na capital e, chovia só um pouco, só para molhar a terra, eu sentia um cheirinho gostoso de terra molhada. E então me lembrava de casa, da cidade, da fazenda. Da minha infância, de quem eu sou! É assim que eu me sinto quando sinto seu cheiro. Lembro de quem  sou! Quem sou eu de verdade.

Gustavo nada diz, após breves instantes sinto seus lábios beijarem o topo da minha cabeça.

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