8 - O pai

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A tensão era grande.

Desde o instante em que eu falei a frase mágica, em que eu coloquei para fora o que tanto me atormentava, vi que tudo mudou. Minha mãe me olhava com lágrimas nos olhos e eu sabia que havia a decepcionado. E saber disso era ainda pior.

- Por favor mãe, diga algo! - imploro a ela quando sinto que seu silêncio está me ferindo ainda mais.

- Grávida?! - ela questiona como se perguntasse a si mesma.

Vejo minha mãe mudar a feição.

- Grávida Amora? Foi para isso que você foi para a capital? Para voltar grávida? - vejo indignação em sua fala, e em seu olhar.
- Eu pensei que você foi para lá para estudar, construir um futuro, ser alguém... E você só estava lá, transando com homens!

Foi cruel! Mas eu sabia bem o que iria ouvir ao dar a notícia. Minha mãe não era uma mulher ruim, ela tinha princípios, viveu numa época diferente da minha, teve uma vida diferente, uma história diferente. Para ela, uma mãe solteira era vergonhoso. Foi por isso que ela aguentou as aventuras do meu pai por anos até ele morrer.

- Mãe, por favor. Não fale assim! - imploro aos prantos.

- Como eu deveria falar Amora? Você saí de casa, passa dois anos fora e quando volta, aparece aqui grávida. Que vergonha minha filha! - ela desabafa.

Sinto meu mundo desabar.

- Eu não acredito nisso, não acredito que minha filha fez isso. Onde eu errei meu Deus? - ela se lamentava ao olhar para o teto.

- Dona Xica... - Gustavo tenta falar.

- Não doutor Gustavo, isso é uma vergonha para mim! - ela diz olhando para ele.
- O senhor me desculpe, mas, tenho uma cabeça diferente, fui criada na roça. As moças do meu tempo não saiam de casa para estudar, não iam para a cama com homem antes de casar. - ela olha para mim.
- E não voltavam para casa de barriga!

As palavras da minha mãe entravam nos meus ouvidos como socos no meu estômago. Eu estava dilacerada, eu havia a humilhado.

- Me perdoa mãe! - digo.

Ela vira o rosto.

- Amora, você me magoou, me feriu. Feriu nossa honra, nossa dignidade. Você deve ir embora! - ela diz me surpreendendo.

- Como? - pergunto chocada.

Gustavo me olha ainda mais surpreso.

- Vá embora Amora, leve seu filho com você. Se você voltou para cá sozinha e de buxo, é sinal de que o pai dessa criança não quis nada com você. Só lhe usou! E aí está o resultado! - ela olha para minha barriga com desdém.
- Vá para a casa do pai do seu filho, peça abrigo a ele! - ela diz firmemente.

- Mãe, por favor! - imploro os prantos. Me sentia destruída por dentro, ainda mais.
- Não me diga isso.

Sinto meu coração doer.

- Eu já disse Amora. Vá para a casa do pai do seu filho. Que ele lhe sustente, a você, e a esse bebê! - ela diz seriamente.

Olho para Gustavo e vejo indignação em seu olhar. Ele estava sério.

Eu não tinha outra alternativa. Não tinha para onde ir nem o que fazer  para contornar aquela situação. Sem outra alternativa, me viro e começo a caminhar para fora da sala. Mas, quando chego até a entrada, antes que eu pisasse o pé fora, ouço Gustavo dizer.

- Dona Xica, Amora não vai sair desta casa! - ele diz firmemente.

Imediatamente me viro e o olho. Minha mãe o olha atentamente, sem entender o que estava acontecendo. Na verdade nem eu entendia.

- Se Amora tem que buscar abrigo na casa do pai do filho dela, se ela não é Bem-vinda ao seu lado, ela está no lugar certo! - ele diz firmemente.

- Não estou entendendo doutor Gustavo!

- Não sou homem de fazer algo e não arcar com as responsabilidades do que fiz, não sou homem de fugir de minhas obrigações. A senhora me conhece bem, sabe que sou honesto e que tenho palavra!

- Sim, eu sei doutor Gustavo, mas, o que está acontecendo? - minha mãe parece confusa, até eu estou.

- Amora vai ficar onde está. Porque ela está na casa do pai do filho dela! - ele diz vindo ao meu encontro.
-  Me desculpe dona Xica por ter lhe envergonhado, mas, estávamos apaixonados, estamos! - Gustavo diz ao parar ao meu lado.
- Eu sou o pai desta criança, e lhe garanto que assumirei todas as responsabilidades das minhas ações!

- O senhor?! - minha mãe pergunta confusa.

- Gustavo, não...

Ele me corta.

- É isso dona Xica! Este filho é meu sendo assim essa responsabilidade é minha. E vou arcar com tudo o que precisará ser feito! Tem a minha palavra! - ele garante.

Eu simplesmente não acreditava que Gustavo estava fazendo isso por mim.

- Eu, eu... Não sei o que dizer! - minha mãe diz.

- Mas eu sei! Sei que o que fizemos não é certo, mas, o que a senhora fez também não é! Sua filha é uma mulher maravilhosa, que a ama, isso a gente vê. Ela não errou sozinha, estou aqui para pagar por esse erro junto com ela. Só peço que, não a desrespeite mas, não dentro da minha casa.

- Eu... - ela tenta falar mas nada diz.

- Amora, quero que pegue suas coisas e as coloque no meu quarto. Não tem porque ficarmos separados mais! - ele diz me olhando.

- O quê? - pergunto surpresa.

- Acredito que dona Cida não verá isso mal. Já somos um casal há tempos! - ele diz olhando para minha mãe.

- Não, claro que não! - ela diz.

- Peça para Jorge lhe ajudar. E depois, vamos ao médico. - faço que sim.

Eu sabia que não iria adiantar contestar. Mas teríamos uma conversa.

- Depois conversamos como vão ficar as coisas dona Xica! - e ao dizer isso, Gustavo se vai.

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