5 - siga sua vida. 👣

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A verdade é libertadora.

E no exato momento em que meus lábios pronunciaram a verdade sobre minha gravidez, me senti livre.

Já haviam se passado bons segundos desde que Gustavo ouviu a verdade. Mas nada ele disse. Seus olhos me olhavam atentos, fixos, como se ele tentasse entender o que de fato aconteceu comigo.

- Por favor! Diga alguma coisa. - não sei como mas, para mim era importante que Gustavo dissesse algo.

- Eu... - ele tentava encontrar palavras, estava nítido.
- Eu... Sinto muito! - aquelas palavras entraram em meus ouvidos e foram direto ao meu coração.

Era a primeira vez que eu dizia aquilo em voz alta, era a primeira vez que alguém me reconfortava, era a primeira vez que eu me senti acolhida desde então. Não sei bem o porque, mas, me permiti chorar. E ali, bem diante dele eu chorei tudo o que prendi por semanas. A dor, a angústia, a aflição eram grandes, mas a sensação de que eu não estava só me reconfortava.

E eu não estava.

Enquanto as lágrimas caíram de meus olhos, ainda de cabeça baixa, sinto Gustavo me abraçar. Eu estava sentada e ele agachado para ficar da minha altura me abraçou forte. Então me entreguei a aquele abraço, e o retribui me reconfortado em seu peito.

Não sei bem por quanto tempo ficamos ali, abraçados, parados, sem dizer uma só palavra. O silêncio era predominante. Até que tomei coragem.

- Ele era meu chefe! - digo baixinho enquanto minha respiração bate em sua camisa, no lugar do peito.

- Não precisa falar, Amora! - ele diz.

- Não, eu preciso! - digo ao sair do seu abraço.

Gustavo nada diz, apenas me olha e se recosta na quina da mesa com os braços cruzados. Ele queria me ouvir, e eu, queria falar.

- Saí daqui há dois anos em busca de construir uma vida melhor, para mim, para minha mãe... - enquanto eu narrava, me permiti perder em pensamentos.
- Fui para a capital com o plano de trabalhar e futuramente fazer uma faculdade. Ao chegar lá, consegui emprego de imediato num escritório, o salário era bom e o expediente também, eu conseguiria trabalhar e estudar tranquilamente. E foi assim que fiz, depois do primeiro ano trabalhando, consegui juntar um dinheiro para começar meus estudos, e logo comecei na faculdade... Já estava há um ano estudando e há dois no serviço. Mas, há uns meses atrás me envolvi com meu chefe! - digo isso com vergonha. Eu tinha vergonha de mim mesma, do que fiz.
- Ele era, casado! Eu sabia, sempre soube, mas, me deixei levar. Me envolvi com ele e quando dei por mim, estava apaixonada! Acredite, nem eu me reconheço mais. - digo com pesar o olhando.

Gustavo mantém sua postura séria e atenta as minhas palavras.

- Meses se passaram e eu consegui levar nosso romance apenas nos beijos e abraços entre o expediente. Eu era virgem! - admito.
- Mas então, há algumas semanas atrás, ele resolveu que era hora de avançarmos na relação. Fiquei com vergonha de dizer que eu nunca tinha ido pra cama com alguém, e fugi dele a todo o custo. Mas, numa noite, depois de uma reunião com a diretoria, ficamos os dois sozinhos no prédio, ele disse que me levaria para casa e eu aceitei, as vezes ele fazia isso. Mas os planos dele eram outros! - sinto as lágrimas caírem novamente.
- Ele nos trancou no escritório, e me pegou em seus braços. Tentei escapar, falei que não queria, três vezes, mas ele não ouviu. Ele só repetia que eu iria gostar, e que, iria gemer muito o nome dele! - mais lágrimas surgem.
- E então ele fez... Logo depois que acabou, ele viu que eu era virgem, e, riu de mim! Disse que eu era caipira e ingênua. Depois disso, tentei trabalhar normalmente. Ele me deixou em paz, não me procurou mais. Só que, na semana passada comecei a sentir os sintomas. Fiz o teste, deu positivo, e fui procurar ele. Mas ele não quis saber. Disse que o problema era meu, que era pra eu resolver, e como sinal de ajuda, depositou sete mil na minha conta. Eu entendi o recado, sabia o que ele queria que eu fizesse. Mas eu não tive coragem!

- Por que você não o denunciou? - Gustavo perguntou.

- Eu estava com medo, sozinha, sem saber o que fazer, me sentindo suja, humilhada. E ele, ele é muito poderoso. Isso não daria em nada, sem falar que, ele poderia provar nosso caso. E seria pior.

Eu sabia que estava correndo um risco contando toda a verdade para Gustavo. Mas eu estava cansada de continuar guardando tudo sozinha, e ele foi o único que me viu de verdade.

- E por que você não abortou? - ele perguntou.

Engoli em seco.

- Essa criança, ela é minha também! Sei que não tenho condições, talvez nem tenha estrutura emocional para cria-lo, mas, ele é meu. Não foi gerado da maneira certa, não foi desejado, mas, ele é meu. Aquele maldito tirou tudo de mim, meus sonhos, planos, futuro, minha virgindade, não posso deixar que ele tire também meu filho!

- E, ele sabe da sua decisão?

- Não! Eu disse a ele que fiz o aborto. E depois pedi demissão, ele até que gostou de se livrar de mim! - digo com pesar.

Gustavo me olhou atentamente.

- Amora, esqueça tudo o que aconteceu com você fora daqui. De hoje em diante, siga sua vida com seu filho. E, nunca mais, pense em tirar sua própria vida! - Gustavo diz firmemente.

Faço que sim.

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