. . .

40 7 4
                                    

    Durante os próximos dias, uma relação visual foi se formando entre ambos. Sequer trocaram uma palavra pelas semanas seguintes, mas não importava — seus olhares assíduos e fortes já entregavam o interesse que um tinha pelo outro. Eventualmente, Oscar cedeu aos seus impulsos e aproximou-se do estranho, ocasionalmente balbuciando algumas palavras, que foram respondidas com algumas outras, e que acabaram por formar uma conversa e apresentação.
    O jovem leitor enfim descobriu que encontrava Eduardo, aspirante a cantor que possuía uma voz angelical e paixão pela música. Os dois discutiram sobre música, perpassando diversos estilos e, ao soar da sirene, interromperam o diálogo fortemente. Todavia, nos seguintes dias e semanas, reencontraram-se diversas vezes, e conversaram mais e mais. Havia algo estranho em suas interações, que apesar da timidez inicial, foram fluindo de forma constante, até que eles conversassem naturalmente, com tamanha facilidade.
    Oscar, pelos meses sucessivos, abafou a sua tristeza para dentro de si, como se estivesse eliminando-a ao fazer isso. Costumava contar para o irmão mais novo, garoto animado, mas quieto e disciplinado, sobre as aventuras das conversas que os dois amigos possuíam. O menino, interessado, se chocava com a intriga dos diálogos. E, com isso, o deprimido estudante passou a desabrochar gradualmente — mesmo que para o irmão, cinco anos mais novo.
    É claro, continuava triste e fatigado, sem razões para viver. Mas agora, conseguia esconder isso melhor. Ele fazia parecer que o clima primaveril tinha um aroma unicamente satisfatório, e que a fragrância inigualável das flores nuas lhe alcançava mais facilmente as narinas, mesmo que nada disso fosse verdade. Os textos eram agora escritos com mais paixão, e as músicas eram cantadas com mais poesia — apesar de que, para ele, nada se comparava à voz afrodisíaca do amigo.
    Conforme o tempo passava, a afinidade entre os dois se acentuava gradualmente, em um processo lento e ignóbil, em que a negação é lentamente superada, e a aceitação de algo maior chega aos corações dos dois. Ambos estavam sendo torturados por Eros, com a mais tenebrosa maldição da timidez: a enfermidade da paixão.

A ModosOnde histórias criam vida. Descubra agora