16/08/2022

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    Oscar entrou na sala de aula como em qualquer outro dia. A porta rangeu. O professor, o detestável sr. Geraldo, olhou brevemente à sua esquerda, imediatamente mirando sua atenção novamente para a classe. Oscar baixou a cabeça e silenciosamente sentou na primeira carteira que viu. 
    O professor prosseguiu, discursando incessantemente sobre as propriedades dos números complexos, mas Andrade sequer conseguia ouví-lo. Estava imerso no dilúvio afrodisíaco, imaginando com suntuosidade seu pretendente. 
    Permaneceu assim durante toda a primeira metade da aula, mesmo quando vieram os senhores Juliano e Carlos, explicando as infindáveis leis da química e da gramática. Não! Nada importava. A todo instante, o estudante observava com ansiedade o relógio, esperando, aguardando… E de repente, aconteceu. O sinal bateu, era momento de pausa.
    Oscar levantou-se com as pernas trêmulas, redirecionou-se virtuosamente aos corredores daquele local, procurando aquele mesmo degrau em que se sentava todos os dias. Enfim, achou-o, e sentado nele estava quem ele queria que estivesse.
    Eduardo resguardava a mesma ansiedade de seu amigo. Suas mãos suavam, agitadas, percorrendo seus braços diversas vezes. Chegado o colega, engoliu um pouco de saliva e prosseguiu:
    — B-Bom dia, O-Oscar… — não parava de gaguejar.
     — Bom dia — Sorriu. Carvalho conseguiu se acalmar após isso.
    — Eu queria convidar você para… Bom, me visitar hoje à tarde, se quiser. Eu… faço 18 anos, então…
    Os olhos de Oscar brilharam:
    — Mas é claro! Sem sombra de dúvidas! Com certeza! — Estava confiante. Não quis admitir a si mesmo, mas sentia uma atração incomensurável por aquele rosto jovial, aquele maxilar curvado e definido, os olhos oblíquos e machadianos, os lábios delicados e refinados, o nariz retilíneo e adorável, os ombros imponentes e destacados, o peito estufado e o tórax deliciosamente formoso, as pernas e os braços, majestosos em sua vicissitude, o quadril forte e, é claro, a junção de todos esses elementos, formando o caro Eduardo Carvalho.
    Logo, o sinal tocou. Ambos retornaram às suas classes e estudaram. Andrade retornou à sua casa, revelando o convite secretamente à mãe, que, por sua vez, aprovou a ida, mas avisou o filho da necessidade de discrição com o pai, uma vez que esse dificilmente aprovaria tal saída. Por isso, o garoto vestiu-se propriamente e sorrateiramente deixou a casa, para não ativar suspeitas do pai.
    Os dois amigos se encontraram de forma tímida. Eduardo corava. Oscar desviava o olhar. O primeiro, de repente, rompeu o silêncio:
    — Bom, fique à vontade.
    — Certo — murmurou, em uma voz muito baixa, entrando lentamente na moradia, enquanto dedilhava seu próprio cabelo. Seguiu o amigo até seu quarto. Era um cômodo grande. Grande e bonito. Como ele.
    — Hm, eu me esqueci de dizer, mas, parabéns pelos seus 18 anos — disse Oscar, tentando fazer desabrochar um novo assunto.
    — Ah, obrigado. Não é grande coisa, mas…
    — É sim.
    — Certo…
    — Desculpa se interrompi…
    — Não, não. Você não interrompeu — Engoliu saliva.
    — Como andam as suas composições? — Após ouvir tal pergunta, Eduardo sorriu, fazendo com que as vergonhas de ambos se dissolvessem rapidamente.
    — Muito bem. Eu venho treinando um pouco mais durante essas semanas, então… acho que os resultados são decentes.
    — Decentes?
    — É… Decentes — Sua face se converteu em temor. Estava com medo de ter dito algo errado.
    — Para com essa falsa modéstia, porra! — Sorriu um pouco mais. O amigo se aliviou, convertendo sua satisfação com um riso genuíno.
    Durante as próximas horas, o jovem Eduardo ensinou as maravilhas da composição de músicas a Oscar, enquanto que Oscar ensinou as maravilhas da produção de um texto para Eduardo. Eventualmente, Carvalho, a pedido do amigo, mostrou uma pequena composição que havia feito. O ouvinte permaneceu estaticamente encantado com tal harmonia celeste e sobrehumana dos cordões do instrumento. Tanto que, em improviso, escreveu versos apaixonados que encaixassem na melodia:

    “Meus versos apaixonados
    Das sombras regozijados
    Viajam de pé ao porto
    E cantam o vil som morto.”

    Ao ouvir a declamação de tais versinhos, o compositor permaneceu chocado com a habilidade artística de seu companheiro. Imediatamente, os dois tocaram e cantaram aquela música, juntos. Havia certa poesia nessa criação, mesmo que tola e amadora. Uma essência passional invadia o ritmo calmo da canção. Era bela, como os dois jovens, que tão logo permaneceram juntos, adormeceram. Despertaram com uma notícia triste: Oscar tinha de ir.
    Ele suspirou, saudou com uma despedida e foi. Eduardo se sentia arrebatado. Estava claro para ele, se tratava de uma paixão febril.
    Andrade ficou pálido ao entrar na sua casa. O pai aguardava, sentado no sofá:
    — Onde você foi? 
    — Não te interessa — disse rispidamente, antes de avançar para o quarto e bater a porta. Mal sabia Oscar que se arrependeria amargamente de ter dito isso.

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