26/11/2023

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Desisto, não prometo mais nada. Uma hora sai o último capítulo.

    Clarice acordou desorientada e exausta. Se sentia apunhalada. E se sentiria ainda mais.
    Pegou o celular na cabeceira. Havia uma mensagem de aúdio de Sofia, enviada à meia-noite junto de algumas fotos. Ela clicou no botão de tocar o áudio:
    “Oi, Clarice… Eu não sei como te explicar isso, mas… quando eu saí do meu quarto, eu vi o Gabriel dormindo com a Rafaela, no meu sofá. Eu tirei uma foto discretamente, se você quiser. Eu sinto muitíssimo pelo desastre que foi ontem… Eu realmente não imaginei que aqueles meus colegas escrotos estariam na festa.”
    A garota, ao ouvir aquele áudio, se sentiu mal, mas ao mesmo tempo aliviada. Esperou um tempo para se recuperar e meditar, imediatamente entrando no seu carro e dirigindo até a casa de Gabriel. Quando abriu a porta, estava com olheiras:
    — Oi, meu amor… — disse Gabriel.
    — Meu amor é o caralho! Olha isso! — Mostrou a foto.
    — Ah, isso… Isso foi só porque eu tava bêbado… Me desculpa, meu amor…
    — Ah, agora você vem com esse papo?
    De repente, Clarice ouviu o barulho de um objeto caindo. Ela imediatamente entrou no apartamento e flagrou Rafaela tentando se esconder, pelada. Olhou de volta para Gabriel:
    — Eu sabia que você ia fazer isso, seu verme escroto — Atravessou Gabriel, se redirecionando à porta. Ele segurou seu braço. — Me larga, porra!
    — Clarice, eu sei o seu endereço…
    — Você quer que eu peça uma medida protetiva, quer? Me deixa em paz, porra! — Soltou o braço do ex-namorado e correu para o seu carro, onde deixou o lugar velozmente. Nunca mais voltaria àquele inferno.
    Ainda assim, estava levemente preocupada. O que Gabriel quis dizer com “Eu sei seu endereço”?
    Chegando em casa, respirou fundo e checou seu celular. Havia uma nova mensagem de seu grupo de amigos:

    [10:03h] Sofia: Oi, gente. Eu queria me desculpar demais pelo que aconteceu ontem. Eu não previa que nada disso ia acontecer. Por isso, eu pensei que talvez a gente pudesse pegar um cinema hoje à noite? Não se preocupem com o horário, acho que 18h é bom o suficiente pra gente sair do cinema sem estar um breu na rua. Vocês topam?

    Precisando se distrair, Clarice digitou “Ótimo! Eu vou”.
    Com o tempo, Oscar, Simone, Heitor e Ariel aceitaram o convite. Eduardo tinha uma prova no dia seguinte e Pedro não poderia comparecer.
    As aguardadas 18h finalmente chegaram. Oscar estava solitário, sem a presença de Eduardo, mas ainda assim feliz com os amigos. Todos compraram algumas guloseimas para que pudessem se alimentar durante a sessão. Sendo assim, se sentaram, um do lado do outro: Heitor, Clarice, Ariel, Sofia, Simone e Oscar, da esquerda para a direita. Viriam o mais novo filme de Tim Burton.
    Obviamente, não se decepcionaram. Terminaram o filme instigados pela perspicácia e pela aura maquiavélica do mesmo. Ao seu fim, cada um dos amigos se dividiu em duplas, saindo por locais diferentes do cinema e seguindo seus rumos.
    Heitor saía com Clarice. Antes que se separassem totalmente, decidiu falar com ela:
    — Hm, Clarice…
    — Oi?
    — Como você está? Notei que você agiu um pouco diferente…
    — Ah, é que… — Desviava os olhos para o chão, enrolando seu dedo em uma mecha de cabelo. — Eu terminei com o Gabriel.
    — Sério? Que bom! — Abraçou-a fortemente, por longos segundos. Soltando-a, passou a fitar seus belos olhos, negros como a noite.
    — Obrigado por ter me apoiado, Heitor. Eu não sei o que eu seria sem você…
    — Não tem de quê — murmurou, logo antes de envolver suas duas mãos nas de Clarice. O contato visual se tornou mais intenso. Ambos podiam sentir a brisa de suas respirações ofegantes um no outro. Em um momento, Heitor fechou os olhos e avançou para beijar a amiga. Ela deu um passo para trás e impediu que isso acontecesse, pasma.
    — Heitor… Não…
    — O que eu fiz de errado?
    — Não, não é nada, é que… eu não me sinto confortável com isso. Nem com você, nem com ninguém. Eu só acho que a nossa amizade é muito, mas muito mais importante do que questões como beijos, flores, namoros, e essas coisas… Me desculpa...
    — Ah… claro — Desolou-se. — Faz sentido. Não tem problema.
    — Me desculpa por isso… Enfim, eu preciso ir. Tchau — Beijou a bochecha do amigo e deixou ele ali, desiludido e despedaçado.
    Sofia e Ariel conseguiam sentir o calor de seus corpos, de tão próximos. Antes de se separarem, Ariel se virou para a amiga:
    — Sofia… Eu queria me desculpar demais por tudo que aconteceu ontem. Eu deixei você, a Clarice, o Heitor e o Pedro sozinhos com aquele bando de idiotas… 
    — Não, Ariel — Acariciou os longos cabelos da amiga. — Você não fez nada demais. E eu agradeço muito por você ter vindo aqui. Você é a melhor amiga que eu já tive na vida… 
    Sofia se aproximou do rosto do amigo, que arregalava seus olhos enquanto quase caía em lágrimas. Dentro de um momento, os dois se deixaram levar por seus impulsos, fecharam os olhos e avançaram seus lábios um no outro. Beijaram-se.
    Oscar e Simone partiram por um mesmo caminho. Decidiram conversar:

    — Como você vai, Oscar?
    — Relativamente bem, apesar de que me sinto muito distante do Eduardo recentemente…
    — Que pena… Deve ser bom amar e se apaixonar por uma pessoa tão loucamente, pra poder receber os mesmos sentimentos sendo correspondidos — sorria genuinamente pensando nisso. O sorriso de Simone era lindo
    — Por que você diz isso?
    — Eu conheço você há muito mais tempo que a Ariel e a Sofia, e… Bom, você sabe que quando nos conhecemos, mais ou menos pela sétima série, tínhamos uma colega, que ficou com a gente até o segundo do médio, eu acho… a Luiza.
    — Ah, sim, ela! Eu confesso que o meu eu de 12 anos sentia inveja vendo você interagindo e se abrindo sempre com ela e não comigo…
    — É, nós sempre fomos muito próximas uma da outra… e é justamente isso que me preocupa.
    — Mas qual é o problema nisso?
    — É que… eu acho que me sinto apaixonada por ela.
    — Uau — sentiu-se pasmo. — Isso é legal.
    — Não, não é — Começou a lacrimejar. — Você sabe, eu nem sei se ela é lésbica ou não, e mesmo que ela seja, eu não entendo quem iria querer ficar com uma garota tão nojenta e escrota como eu… Ela não me merece…
    Oscar abraçou a amiga, que chorou descontroladamente. Com sua voz mansa e máscula, Andrade disse:
    — Você não é nada disso. Você é uma pessoa incrível, empática, perseverante, que sempre se importa e quer ver os outros felizes. Isso é muito nobre de você, sério… Eu te adoro, minha amiga. Minha melhor amiga. E quero sempre te apoiar quanto à Luiza.
    — Muito obrigada — Enxugou as lágrimas com as mãos. Os dois se despediram e partiram para seus respectivos destinos. 

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