29/08/2023

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    Depois de horas incessantes que pareciam intermináveis, Oscar finalmente saiu da escola. No carro, mexia no celular, vendo as notificações do grupo de amigos de Eduardo:

    [10:05h] Heitor: Bom dia, gente!
    [10:08h] Clarice: Bom dia
    [10:10h] Heitor: Só pra saber, vcs vão na minha festa de aniversário hj?
    [10:11h] Clarice: Eu vou. Feliz aniversário! ♡
    [10:12h] Heitor: Obggg
    [10:21h] Eduardo: Feliz aniversário! Como é dia de semana, fica um pouco complicado pra mim…
    [10:23h] Heitor: Td bem, a gnt compensa isso em outro momento
    [12:24h] Oscar: Eu acho que vou conseguir ir sim. Feliz niver

    Desligou o celular. Suspirou fundo. Mais um evento para comparecer. E sem Eduardo. Pelo menos, conseguiria conhecer melhor os amigos do seu parceiro.
    De repente, seu celular apitou novamente. Era Eduardo, na mensagem privada:

    [12:26h] Eduardo: Ei, Oscar! Bom dia.
    [12:27h] Oscar: Oii ♡
    [12:28h] Eduardo: Você poderia passar aqui em casa antes da festa do Heitor? Apesar de que eu não vou comparecer, comprei um presente para ele, e queria que você entregasse.
    [12:30h] Oscar: Ok, eu passo aí às 18h30. A festa vai ser 19h, né?
    [12:31h] Eduardo: Sim. Eu falo para o meu pai te levar.
    [12:32h] Oscar: Ok

    Agora, Oscar definitivamente desligou o celular. Olhou para a sua mãe:
    — Mãe, hoje eu vou pra casa do Eduardo, ok?
    — Você tem saído bastante nessas últimas semanas, não é, filho?
    — O quê?
    — Nada, só um comentário.
    — É, acho que sim. 
    — Fico feliz por você estar fazendo novas amizades. Mas, se qualquer coisa acontecer, me diga, ok?
    — Claro, mãe. Pode deixar. 
    Sua mãe parou o carro para buscar seu irmão.
    — Oi — disse ele, desanimado.
    — Oi, filho. Aconteceu alguma coisa?
    — Não.
    — Certo.
    Ao finalmente chegarem em casa, foram para seus quartos.
    17h35. Oscar arrumou-se prontamente, mais ansioso para ver Eduardo do que para ver Heitor. Apenas cerca de 15 minutos depois, chegaram à residência dos Carvalho. A sra. Andrade deixou seu filho e ele, por sua vez, tocou a campainha. Dessa vez, a mãe de seu parceiro, Ana Carvalho, atendeu a porta.
    — Oi, Oscar! Pode entrar!
    — Obrigado, sra. Carvalho.
    — Haha, não precisa me chamar assim! Eduardo está no quarto dele.
    — Certo.
    Oscar abriu a porta, entusiasmado.
    — Oi… — disse.
    — Ah, Oscar! — Eduardo falou, enquanto lidava com algumas fórmulas. — Me desculpa, é que…
    — Não precisa se desculpar. Mas… eu quero saber como você tá. Você anda tão ocupado que mal consegue ver as minhas mensagens preocupadas, imagina responder!
    — Desculpa…
    — Ei, já conversamos sobre isso. Não é culpa sua se o mundo te odeia.
    — É… Mas… eu vou bem, eu acho. Dentro do possível.
    — Bom, podia ser pior. Alguma novidade?
    — Eu aderi a um curso de canto, mas a faculdade é um inferno e só vou conseguir ir depois das férias. Acho que desde aquele dia na cafeteria, consegui me socializar melhor.
    — Hm, fico feliz. Se assumiu para a sua mãe?
    — Sim, sim. Ela reagiu bem, como eu imaginava.
    — Que bom. Tem conseguido algum tempo de lazer?
    — Não… Não o suficiente pra cantar ou tocar uma música, por exemplo.
    — Mas uma música tem cerca de 4 minutos!
    — Exatamente. Isso aqui é um inferno total. Tô tendo insônia, vivo à base de cafeína.
    — Ah, não… Você tá começando a me preocupar… 
    —  Desculpa, mas não tem nada que você possa fazer sobre isso. O jeito é se acostumar, ir se acostumando. E, antes que eu me esqueça… — Entregou o presente de Heitor nas mãos de Oscar. — Leva isso pra ele e diz se ele gostou. 
    — Ok…
    Em um instante, Eduardo sentou e começou a cochilar. Estava exausto. Oscar, enfim, acariciou seu corpo adormecido, confortando-o com cobertores e travesseiros. Pegou o presente e procurou o sr. Carvalho. Lia um livro no sofá.
    — Hm…
    — Ah, Oscar! Cedo, não?
    — O Eduardo não parece estar muito bem…
    — Ah, sim. 
    — Ele acabou dormindo…
    — Ah… Coitado.
    — Sim…
    — Bom, vamos lá. Pode entrar no carro, já está aberto.
    Oscar foi até o carro e esperou o sr. Luiz. Este, por sua vez, começou a dirigir pacificamente. Com o tempo, decidiu puxar assunto:
    — Como o Eduardo acabou dormindo?
    — Ah, ele se sentia exausto, então sentou e dormiu. Eu deitei e cobri ele, arrumei o quarto, como é um dia frio e imagino que ele esteja cansado…
    Luiz esboçou um largo sorriso.
    — Eu fico tão, mas tão feliz que você esteja com o Eduardo… Sempre notei que… vocês são muito dóceis e poéticos, incríveis. Admiro vocês. Respeito vocês. E você.
    Oscar corou. Nunca havia recebido tamanho elogio.
    — O-Obrigado…
    Finalmente chegaram. Oscar saiu do carro o mais rápido possível. Encontrou Heitor, Clarice, Pedro e alguns outros.
    — Ei, Oscar! — chamou Clarice, representando o trio.
    — Oi, Clarice… Pedro… Heitor… É um prazer estar com vocês. E feliz aniversário, Heitor!
    — Obrigado, obrigado.
    — Oscar, estou ouvindo barulho de plástico. Você tem algo? — indicou Pedro.
    — Ah, sim… Heitor, o Eduardo me pediu pra mandar isso pra você.
    Heitor abriu o presente. Todos exclamaram surpresa, mas principalmente o presenteado.
    — O que é? — perguntou Pedro.
    — Uma bola de basquete. Eu precisava porque a minha furou, se lembra, Pedro?
    — Sim, sim, me lembro. Parabéns pelo presente!
    — Você joga basquete, Heitor? — indagou Oscar, surpreso.
    — Desde muito tempo. Adoro, é como uma vocação.
    — Alguém falou basquete? — disse uma figura, se aproximando. Era um rapaz de cabelo exageradamente cortado, mascando chiclete e vestido com roupa esportiva.
    — Gabriel, como é que você veio pra cá? — esbravejou Clarice.
    — Calma, amorzinho. Eu só segui você porque tava com saudades. Nem me respondeu no zap. Tá sumida, é?   
    — Cala a boca, seu estrume de vaca. Eu não acredito que você me seguiu até aqui! Isso é doentio! 
    — Mas..
    — Gabriel, você tá com bafo de cerveja! Pelo amor de Deus, volta pra sua casa e para de me perseguir feito um psicopata. Isso é crime, sabia? Você pode… 
    — Cala a boca — Pôs as mãos sobre a boca de Clarice impedindo com que ela falasse. Ela imediatamente arrastou os membros para fora de sua boca.
    — Não ouse tocar as suas mãos imundas em mim!
    Heitor, percebendo a cena, imediatamente interviu:
    — Ei, cara, não é legal você vir e…
    — Cala a boca, garota. Você não engana ninguém com esse pinto cirúrgico. Quer ser machão, é? Então luta comigo! Luta comigo!
    — Heitor, não… — gritou Pedro, ao longe.
    — Puta que pariu, Gabriel, deixa ele em paz! — interveio Clarice, se lançando no meio dos dois.
    — Cala a boca, sua vadia! Você se comporta como uma putinha!
    Os punhos de Heitor estavam cerrados. Ele tinha sangue nos pensamentos. Mas logo, Oscar e Pedro vieram, impedindo uma ação violenta. Gabriel também se retirou, após algumas risadas e provocações.
    — Desculpa por isso, gente… — disse Clarice.
    — Não, não é culpa sua — retrucou Heitor.
    — Eu só… arruinei totalmente o seu aniversário…
    — Não, você não arruinou. Você jamais arruinaria qualquer coisa…
    — Eu… — estava constrangida. 
    Os dois se aproximaram. Subitamente, Pedro gritou:
    — Hora do bolo!

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