Depois de horas incessantes que pareciam intermináveis, Oscar finalmente saiu da escola. No carro, mexia no celular, vendo as notificações do grupo de amigos de Eduardo:
[10:05h] Heitor: Bom dia, gente!
[10:08h] Clarice: Bom dia
[10:10h] Heitor: Só pra saber, vcs vão na minha festa de aniversário hj?
[10:11h] Clarice: Eu vou. Feliz aniversário! ♡
[10:12h] Heitor: Obggg
[10:21h] Eduardo: Feliz aniversário! Como é dia de semana, fica um pouco complicado pra mim…
[10:23h] Heitor: Td bem, a gnt compensa isso em outro momento
[12:24h] Oscar: Eu acho que vou conseguir ir sim. Feliz niverDesligou o celular. Suspirou fundo. Mais um evento para comparecer. E sem Eduardo. Pelo menos, conseguiria conhecer melhor os amigos do seu parceiro.
De repente, seu celular apitou novamente. Era Eduardo, na mensagem privada:[12:26h] Eduardo: Ei, Oscar! Bom dia.
[12:27h] Oscar: Oii ♡
[12:28h] Eduardo: Você poderia passar aqui em casa antes da festa do Heitor? Apesar de que eu não vou comparecer, comprei um presente para ele, e queria que você entregasse.
[12:30h] Oscar: Ok, eu passo aí às 18h30. A festa vai ser 19h, né?
[12:31h] Eduardo: Sim. Eu falo para o meu pai te levar.
[12:32h] Oscar: OkAgora, Oscar definitivamente desligou o celular. Olhou para a sua mãe:
— Mãe, hoje eu vou pra casa do Eduardo, ok?
— Você tem saído bastante nessas últimas semanas, não é, filho?
— O quê?
— Nada, só um comentário.
— É, acho que sim.
— Fico feliz por você estar fazendo novas amizades. Mas, se qualquer coisa acontecer, me diga, ok?
— Claro, mãe. Pode deixar.
Sua mãe parou o carro para buscar seu irmão.
— Oi — disse ele, desanimado.
— Oi, filho. Aconteceu alguma coisa?
— Não.
— Certo.
Ao finalmente chegarem em casa, foram para seus quartos.
17h35. Oscar arrumou-se prontamente, mais ansioso para ver Eduardo do que para ver Heitor. Apenas cerca de 15 minutos depois, chegaram à residência dos Carvalho. A sra. Andrade deixou seu filho e ele, por sua vez, tocou a campainha. Dessa vez, a mãe de seu parceiro, Ana Carvalho, atendeu a porta.
— Oi, Oscar! Pode entrar!
— Obrigado, sra. Carvalho.
— Haha, não precisa me chamar assim! Eduardo está no quarto dele.
— Certo.
Oscar abriu a porta, entusiasmado.
— Oi… — disse.
— Ah, Oscar! — Eduardo falou, enquanto lidava com algumas fórmulas. — Me desculpa, é que…
— Não precisa se desculpar. Mas… eu quero saber como você tá. Você anda tão ocupado que mal consegue ver as minhas mensagens preocupadas, imagina responder!
— Desculpa…
— Ei, já conversamos sobre isso. Não é culpa sua se o mundo te odeia.
— É… Mas… eu vou bem, eu acho. Dentro do possível.
— Bom, podia ser pior. Alguma novidade?
— Eu aderi a um curso de canto, mas a faculdade é um inferno e só vou conseguir ir depois das férias. Acho que desde aquele dia na cafeteria, consegui me socializar melhor.
— Hm, fico feliz. Se assumiu para a sua mãe?
— Sim, sim. Ela reagiu bem, como eu imaginava.
— Que bom. Tem conseguido algum tempo de lazer?
— Não… Não o suficiente pra cantar ou tocar uma música, por exemplo.
— Mas uma música tem cerca de 4 minutos!
— Exatamente. Isso aqui é um inferno total. Tô tendo insônia, vivo à base de cafeína.
— Ah, não… Você tá começando a me preocupar…
— Desculpa, mas não tem nada que você possa fazer sobre isso. O jeito é se acostumar, ir se acostumando. E, antes que eu me esqueça… — Entregou o presente de Heitor nas mãos de Oscar. — Leva isso pra ele e diz se ele gostou.
— Ok…
Em um instante, Eduardo sentou e começou a cochilar. Estava exausto. Oscar, enfim, acariciou seu corpo adormecido, confortando-o com cobertores e travesseiros. Pegou o presente e procurou o sr. Carvalho. Lia um livro no sofá.
— Hm…
— Ah, Oscar! Cedo, não?
— O Eduardo não parece estar muito bem…
— Ah, sim.
— Ele acabou dormindo…
— Ah… Coitado.
— Sim…
— Bom, vamos lá. Pode entrar no carro, já está aberto.
Oscar foi até o carro e esperou o sr. Luiz. Este, por sua vez, começou a dirigir pacificamente. Com o tempo, decidiu puxar assunto:
— Como o Eduardo acabou dormindo?
— Ah, ele se sentia exausto, então sentou e dormiu. Eu deitei e cobri ele, arrumei o quarto, como é um dia frio e imagino que ele esteja cansado…
Luiz esboçou um largo sorriso.
— Eu fico tão, mas tão feliz que você esteja com o Eduardo… Sempre notei que… vocês são muito dóceis e poéticos, incríveis. Admiro vocês. Respeito vocês. E você.
Oscar corou. Nunca havia recebido tamanho elogio.
— O-Obrigado…
Finalmente chegaram. Oscar saiu do carro o mais rápido possível. Encontrou Heitor, Clarice, Pedro e alguns outros.
— Ei, Oscar! — chamou Clarice, representando o trio.
— Oi, Clarice… Pedro… Heitor… É um prazer estar com vocês. E feliz aniversário, Heitor!
— Obrigado, obrigado.
— Oscar, estou ouvindo barulho de plástico. Você tem algo? — indicou Pedro.
— Ah, sim… Heitor, o Eduardo me pediu pra mandar isso pra você.
Heitor abriu o presente. Todos exclamaram surpresa, mas principalmente o presenteado.
— O que é? — perguntou Pedro.
— Uma bola de basquete. Eu precisava porque a minha furou, se lembra, Pedro?
— Sim, sim, me lembro. Parabéns pelo presente!
— Você joga basquete, Heitor? — indagou Oscar, surpreso.
— Desde muito tempo. Adoro, é como uma vocação.
— Alguém falou basquete? — disse uma figura, se aproximando. Era um rapaz de cabelo exageradamente cortado, mascando chiclete e vestido com roupa esportiva.
— Gabriel, como é que você veio pra cá? — esbravejou Clarice.
— Calma, amorzinho. Eu só segui você porque tava com saudades. Nem me respondeu no zap. Tá sumida, é?
— Cala a boca, seu estrume de vaca. Eu não acredito que você me seguiu até aqui! Isso é doentio!
— Mas..
— Gabriel, você tá com bafo de cerveja! Pelo amor de Deus, volta pra sua casa e para de me perseguir feito um psicopata. Isso é crime, sabia? Você pode…
— Cala a boca — Pôs as mãos sobre a boca de Clarice impedindo com que ela falasse. Ela imediatamente arrastou os membros para fora de sua boca.
— Não ouse tocar as suas mãos imundas em mim!
Heitor, percebendo a cena, imediatamente interviu:
— Ei, cara, não é legal você vir e…
— Cala a boca, garota. Você não engana ninguém com esse pinto cirúrgico. Quer ser machão, é? Então luta comigo! Luta comigo!
— Heitor, não… — gritou Pedro, ao longe.
— Puta que pariu, Gabriel, deixa ele em paz! — interveio Clarice, se lançando no meio dos dois.
— Cala a boca, sua vadia! Você se comporta como uma putinha!
Os punhos de Heitor estavam cerrados. Ele tinha sangue nos pensamentos. Mas logo, Oscar e Pedro vieram, impedindo uma ação violenta. Gabriel também se retirou, após algumas risadas e provocações.
— Desculpa por isso, gente… — disse Clarice.
— Não, não é culpa sua — retrucou Heitor.
— Eu só… arruinei totalmente o seu aniversário…
— Não, você não arruinou. Você jamais arruinaria qualquer coisa…
— Eu… — estava constrangida.
Os dois se aproximaram. Subitamente, Pedro gritou:
— Hora do bolo!
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A Modos
RomanceOscar Andrade é um jovem poeta, maltratado pela vida. Eduardo Carvalho é um aspirante a músico, introspectivo aos excessos. Quando ambos se conhecem, um laço se forma entre os dois, que se estende aos seus amigos. Capa por Ester Araujo. Novos capítu...