Diário de Eduardo Carvalho - 11/01/2023

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    “Nunca vou desabafar para um adulto sobre isso. Não, é muito perigoso. Eu não reprimo isso desde os 13 anos em vão. Eu não sei se o meu pai me aceitaria, e o que mais me apavora é que eu acho que ele suspeita.
    Basicamente, hoje eu ouvi ele chamar por mim. Quando fui aonde ele estava, só comentou algumas coisas, me perguntando sobre elas logo em seguida. Não me lembro o que elas foram, sinceramente. Mas… quando ele me perguntou sobre o Oscar… eu gelei. Eu vi o sorriso dele, eu li os seus olhos fitando a minha alma, eu traduzi tudo isso como um “Eu sei”. Falei o básico e fui imediatamente enterrar minha cabeça nos cobertores. É horrível pensar que cinco anos de omissão podem ter sido 100% em vão, ou pelo menos 80%.
    Eu tenho medo do meu pai, sinceramente. Ele pode ser só um professor de sociologia comum, mas me passa uma aura muito enigmática naquele rosto e naquela maldita xícara de café. Nunca fui muito próximo, mas às vezes sinto que ele me conhece mais do que eu mesmo. Sempre que eu recebia um sermão, ou um discurso, era a minha mãe quem dava. Ele raramente fala comigo, e eu raramente engajo em uma conversa. Eu sinto que não conheço ele muito bem, e isso me dá medo… 
    Talvez eu não tenha tido uma boa figura paterna. Talvez isso tenha influenciado na minha orientação. Se bem que… não.
    Isso me fez pensar no Oscar, contudo. Acho que preciso de novos amigos, porque não vou ver ele em um longo tempo. Espero arranjar uns na faculdade.
    Isso me lembrou de outra coisa: preciso investigar melhor a minha sexualidade. Tenho certeza absoluta de que sou gay, mas… é isso. Nada menos, nada mais. Estou pensando em ver uns filmes, talvez?
    Argh, são muitas coisas para pensar. Prefiro pensar sobre isso depois.”

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