16/12/2023

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    Oscar acordou muito cedo, para se preparar. Tomou banho, hidratou seu cabelo e sua pele, vestiu-se prontamente e partiu. Aquele dia era duplamente especial para ele, pois iria se formar e completar os 18 anos. 
    A cerimônia foi deveras entediante, mas ver seus amigos ali lhe felicitava bastante. Contudo, estranhamente, faltava Clarice, e somente ela. Ainda assim, completou felizmente a formatura, com direito a uma espécie de honra sobrenatural, e chegou em casa exausto. Sua mãe, seu irmão e seu parceiro acompanhavam sua lentidão até o ponto em que seu pesado corpo caiu sobre o colchão e confortou seu rosto em suas colchas e cobertores. Seus familiares abraçaram-no, exausto, estirado na cama.
    Depois de alguns segundos, agradeceu muito a todos, até que os parentes finalmente saíssem de seu quarto. Esperando mais um tempo em repouso, Eduardo também veio, sufocando em um terno apertado, como o parceiro.
    — Oi… Eu só queria vir aqui e te parabenizar…
    — Deita aí… Sinto saudades de você.
    Eduardo obedeceu a ordem, livrando-se de seus sapatos e suas meias, tirando seu paletó abafado e desabotoando sua camisa apertada, para se sentir mais confortável.
    — Você é tão bonito… — disse Oscar, com os olhos quase fechados.
    — Não mais do que você.
    — Mais do que eu.
    — Os seus cabelos são melhores que os meus… 
    — São?
    — Tão lisos e sedosos… — Dedilhava as mechas do parceiro com calma.
    — Suas mãos são tão macias… — Fechou completamente os olhos, sentindo um prazer inigualável enquanto os dedos quentes de Carvalho lhe encostavam o cabelo e a face.
    Dentro de um momento, Eduardo deitou-se e aproximou-se de Oscar, expondo seu rosto ao dele. Beijaram-se.
    Andrade posicionou seu corpo em cima do outro, imediatamente beijando-o mais e mais, com uma de suas mãos acariciando seus cabelos e outra apertando seu quadril. Passado quase um minuto, Eduardo empurrou o parceiro para o lado, imediatamente recuperando seu fôlego.
    — Oscar…
    — Desculpa…
    — Não, eu é que peço desculpas. Por ter esmagado você na parede!
    Ambos riram e depois olharam para o lado, desajeitados. Sentiam emoções muito fortes um pelo outro, e, só talvez, quisessem manifestar isso de forma corpórea.
    — Enfim, antes que eu me esqueça… — Saiu do quarto e retornou com seu violão. Cruzou as pernas nos cobertores do amante e começou a cantarolar uma canção, escrita e composta especialmente para Oscar. Era a canção mais linda que tinha feito. Enquanto o presenteado fechava os olhos, conseguia se lembrar da melodia e da letra…

    “Meus versos apaixonados
    Das sombras regozijados
    Viajam de pé ao porto
    E cantam o vil som morto.

    A melodia agora estava mais aprimorada, e a voz do cantor, mais madura e aveludada. Os versos se desenrolavam de forma poética, assemelhando-se a um soneto perfumado com um aroma afrodisíaco. Deleitando o som nu que lhe arrombava os ouvidos, ajoelhou-se e abraçou a cintura do parceiro, de costas, como fazia antigamente, enquanto sentia o odor de sua nuca. Ao fim da música, estavam os dois amalgamados.
    — Obrigado… — disse Oscar, com sua voz mansa e baixa. — Eu amei.
    Eduardo lentamente despertou de seu transe, deixando  o violão de lado e deitando-se ao lado do amante. Fitou-lhe por longos minutos, até que ambos entediaram-se e decidiram assistir a algum filme. 
    — Tem algum em mente? — indagou Andrade.
    — Casablanca.
    Os dois assistiram Casablanca, aconchegados um no outro. Depois, passearam num parque próximo. Inicialmente, não se sentiram confortáveis para dar as mãos, mas, conforme a vergonha se dissolvia com o desbotar do Sol, se permitiram entrelaçar os dedos.
    Chegadas as 18h, retornaram à casa de Oscar, onde se alimentaram, conversaram e assistiram mais um filme. Adormeceram cerca de 23h, a primeira vez em que Eduardo dormia na casa do amante. Apesar de ter sido preparado um colchão ao lado da cama do parceiro, Oscar convidou-o para dormir ao seu lado. Assim foi feito.
    O jovem Carvalho adormeceu primeiro. Andrade contemplou a beleza de seu amado, enquanto lacrimejava por causa de seus impulsos. Dentro de um momento, dormiu.

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